Tesouro da juventude
Helvécio Ratton prepara o lançamento de O segredo dos diamantes, longa voltado para o público de seis a 13 anos. O próximo projeto do diretor é dedicado ao escritor Murilo Rubião
Sérgio Rodrigo Reis
Estado de Minas: 02/08/2013
O segredo dos diamantes, o novo filme do diretor Helvécio Ratton, reúne os méritos que o notabilizaram como o mais bem-sucedido cineasta mineiro em atividade. O longa tem fácil comunicação popular, foi rodado em locações no interior do estado (Serro, Milho Verde, São Gonçalo, Guanhães, Sabará e BH) e conta com elenco afinado: Dira Paes, Rui Rezende, Rodolfo Vaz e Manoelita Lustosa. Despretensioso, traz bela fotografia e se destina à faixa de público que vem sendo esquecida pelo cinema nacional: a garotada de seis a 13 anos. |
Prevista para chegar ao circuito comercial nas férias de janeiro, a produção foi exibida esta semana na casa do diretor, em Belo Horizonte. Saiu tudo como esperado. A intenção era contar a história do garoto Ângelo, interpretado por Matheus Abreu, que aos 14 anos descobre antiga lenda de um tesouro de diamantes perdidos e resolve procurá-lo. Motivo: o pai está entre a vida e a morte, depois de sofrer um desastre de carro. Para salvá-lo, é preciso muito dinheiro. Ângelo não tem alternativa a não ser confiar na veracidade da lenda.
Para chegar aos diamantes, o garoto e os amigos Júlia (Rachel Pimentel) e Carlinhos (Alberto Gouvea) fazem de tudo para decifrar o enigma. Mistério e ação são os principais elementos do longa-metragem. Crianças e adolescentes são o público-alvo da maioria dos projetos de Helvécio Ratton. Em 1986, ele chamou a atenção com A dança dos bonecos – premiado nos festivais de Brasília e de Gramado (RS), além de importantes eventos realizados na Itália, na Alemanha e em Portugal. O segundo longa, O menino maluquinho (1995), inspirado no personagem de Ziraldo, teve grande repercussão e consolidou a ligação do diretor com o universo infantil.
Depois de um período dedicado aos adultos – Amor & cia (1998), Uma onda no ar (2002) e Batismo de sangue (2006) –, o cineasta voltou à seara infantojuvenil com Pequenas histórias (2007). Incansável militante desse segmento, Ratton aposta em O segredo dos diamantes. “Gosto de filmes que emocionam e narram histórias”, resume. A cada nova produção, o mineiro se desdobra em busca de espectadores, diferentemente de alguns colegas do cinema independente. “Faço filmes para o público e com dinheiro público. Eles estão aí para ser vistos”, afirma.
Estratégia
Os meses que antecedem a estreia de O segredo dos diamantes serão dedicados à organização de uma estratégia diferenciada de lançamento. A Quimera Filmes, produtora de Ratton, não conta com verbas milionárias de divulgação, ao contrário de blockbusters destinados à temporada de férias. O cineasta procura captar o restante dos recursos e busca parceiros para tal. A produtora Simone de Magalhães Matos e o diretor se empenham para traçar estratégias criativas.
“Este filme merece encontrar o seu público, talvez seja o nosso maior desafio. Afinal, são quatro anos de trabalho, mais de 1 mil pessoas envolvidas e cerca de R$ 5 milhões investidos. É uma arte cara”, resume Helvécio Ratton.
Simone Matos explica que as dificuldades se devem ao mercado – e não à produção em si. “Nossos longas sempre foram lançados nacionalmente e em outros países. Uma onda no ar ficou mais tempo em cartaz em Barcelona do que em BH”, diz ela. Além de contar com os meios convencionais de promoção, a Quimera estuda a criação de um game, parcerias com exibidores e concurso cujo prêmio será joia exclusiva inspirada na trama, assinada pela designer Carla Abras. “Ficou maravilhosa”, adianta Simone. Os concorrentes à peça cravejada de diamantes serão mobilizados por meio das redes sociais.
Rubião
Nem bem concluiu O segredo dos diamantes, Helvécio Ratton já se dedica a outro projeto: O mágico Rubião. Mistura de documentário com ficção, a produção se inspira em três contos do escritor Murilo Rubião (1916 – 1991): “O ex-mágico da Taberna Minhota”, “Teleco, o coelhinho” e “O lodo”.
“Murilo é muito esquecido pela crítica literária brasileira, apesar de ser um dos maiores representantes da literatura fantástica no Brasil. O centenário de nascimento dele será comemorado em 2016. Por tudo isso, decidi homenageá-lo”, explica o cineasta.
A opção de mesclar realidade e ficção tem motivo, diz Ratton. “Ele foi personagem de si mesmo. Curto muito o personagem Murilo”, explica. Recentemente, o diretor foi ao Rio de Janeiro gravar extensa entrevista com o crítico e ensaísta Antonio Cândido, de 94 anos. O respeitado professor fez profunda análise sobre o legado do contista.
“Escolhi Antonio Cândido porque ele foi um crítico bastante responsável pela divulgação da literatura do Rubião”, explica Ratton. Na opinião do cineasta, já passou da hora de a obra do autor de O pirotécnico Zacarias ser mais difundida no país.
Personagem a notícia
Murilo Rubiáo
escritor
Mestre da literatura
Nascido em Carmo de Minas, no Sul do estado, Murilo Rubião fez os primeiros estudos em Conceição do Rio Verde. Em 1942, formou-se em direito, mas o jornalismo sempre o seduziu. Redator da Folha de Minas e diretor da Rádio Inconfidência, lançou seu primeiro livro de contos, O ex-mágico, em 1947, sem muita repercussão. A partir de 1966, coordenou o Suplemento Literário do Minas Gerais, onde trabalhavam futuros escritores de destaque, como Roberto Drummond e Luis Vilela. Em 1974, Rubião publicou O pirotécnico Zacarias, com grande impacto. Dali em diante, o mineiro passou a ser reconhecido como um dos pioneiros do realismo fantástico no Brasil.
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