Atlas de Desenvolvimento Humano permite refinar o entendimento das nossas grossuras
Para quem anda um pouco pelo país e/ou lê jornais, a resposta parece mais ou menos óbvia: algum lugar do Sul. Mais precisamente, Santa Catarina. São Paulo não fica muito atrás.
Não é lá grande novidade, mas os dados do Atlas de Desenvolvimento Humano, publicado nesta semana, permitem responder à pergunta com precisão.
O Atlas teve alguma atenção da mídia, que relatou brevemente uma ou outra informação "estilizada" essencial: os "rankings" do Índice de Desenvolvimento Humano, o fato de o país ter ficado menos desigual e melhorado nos últimos 20 anos etc. Esse trabalho magnífico e excelente, porém, apresenta um mar de informações: duas centenas de indicadores sociais e econômicos para cada um dos 5.565 municípios do país.
Os dados são baseados no Censo de 2010, do IBGE, e foram calculados pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e pela Fundação João Pinheiro.
Mesmo uma avaliação inicial das informações do Atlas deve levar semanas, mas uma garimpada inicial mostra que a vida, em média, é mais civilizada em Santa Catarina.
O Estado tem a melhor combinação de (baixa) desigualdade de renda com (alto) índice de desenvolvimento humano, tanto na média estadual como no número proporcional de municípios que pontuam bem nesses dois quesitos (São Paulo e Rio Grande do Sul vêm a seguir).
Um indicador que mostra a adequação entre idade do estudante e a série em que estuda mostra também São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul à frente.
Na média dos Estados, é sabido que foram em geral os Estados mais pobres que tiveram os maiores aumentos de renda na década 2000-2010. Mas Santa Catarina lidera o bloco do Sul-Sudeste.
Esses dados mais elementares do Atlas mostram também que foram os Estados mais pobres que registraram o maior número de cidades com grandes aumentos de renda entre 2000 e 2010, o que também era a impressão comum. Piauí, Tocantins, Maranhão, Rio Grande do Norte e Paraíba lideram o ranking de cidades que tiveram aumentos de renda maiores do que a média nacional. Mas RS e SC vêm logo em seguida.
Junte-se a esses indicadores os de violência, medida, por exemplo, pela taxa de homicídios (número de homicídios como proporção da população). O Estado com a menor taxa de assassinatos é SC, com SP em segundo lugar. Pode ainda parecer estranho juntar estatísticas de homicídios com outros indicadores sociais e, também, com econômicos.
Mas não vamos melhorar a nossa reflexão e ação sobre as barbaridades brasileiras se, além de indicadores de saúde, renda, escola e outros dados de bem-estar material, não contarmos nossas violências, os assassinatos, as 40 mil mortes anuais no trânsito, as mortes no trabalho, o sequestro do tempo de vida perdido nos ônibus e trens horríveis.
Os dados do Atlas são utilíssimo trabalho para refinar nossas ideias sobre nossas grossuras sociais.
vinit@uol.com.br
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