Gente "diferenciada" de Portugal
DE LISBOA - Cristina Espirito Santo, herdeira de uma das famílias mais ricas de Portugal, deveria ter investido parte de sua fortuna em "media training".
Em entrevista à revista do semanário Expresso, Cristina afirmou que gostava de ir a Comporta, uma das praias frequentadas pela alta sociedade lisboeta, para "brincar aos pobrezinhos" --em tradução livre, fingir-se de pobre.
Na reportagem, intitulada 'Como se vive no refúgio das elites', Cristina queria dizer que podia ficar relaxada, andando de chinelos, na praia onde sua família tem várias propriedades e que pode ser comparada a Trancoso e seu apelo "hippie chique".
Mas a declaração desastrada ficou "viral" na internet. Nas redes sociais, rodinhas e nos jornais, só se falava disso.
Dizer que vai se "fingir de pobre" na praia dos ricos, em um país com desemprego na faixa dos 17% e PIB encolhendo é, no mínimo, de extremo mau gosto. Em Portugal, tem muita gente "brincando de pobrezinho", mas não por vontade própria
Lembrou muito o pessoal da "gente diferenciada" de Higienópolis.
Lembrou muito o pessoal da "gente diferenciada" de Higienópolis.
Em 2010, uma moradora do bairro que se opunha à construção de metrô em Higienópolis disse à Folha: "Eu não uso metrô e não usaria. Isso vai acabar com a tradição do bairro. Você já viu o tipo de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente diferenciada..."
Pouco depois, foi organizado o "churrascão da gente diferenciada", para protestar contra o cancelamento da estação de metrô na avenida Angélica.
Portugal vai na mesma linha. Após convocação pelo Facebook, os "pobrezinhos" prometem invadir a praia de Comporta no dia 10 de agosto. Na versão lisboeta dos farofeiros, vão munidos de "geleira" (isopor) e "alheiras" (linguiças).
Patrícia Campos Mello é repórter especial da Folha e escreve para o site, às sextas, sobre política e economia internacional. Foi correspondente em Washington durante quatro anos, onde cobriu a eleição do presidente Barack Obama, a crise financeira e a guerra do Afeganistão, acompanhando as tropas americanas. Em Nova York, cobriu os atentados de 11 de Setembro. Formou-se em Jornalismo na Universidade de São Paulo e tem mestrado em Economia e Jornalismo pela New York University. É autora dos livros "O Mundo Tem Medo da China" (Mostarda, 2005) e "Índia - da Miséria à Potência" (Planeta, 2008).
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