ZERO HORA - 25/08/2013
Numa
sociedade competitiva como a de hoje, não é de estranhar que o fator
mais importante da vida seja o trabalho. Ele consome nosso tempo e
nossas preocupações: temos que ganhar dinheiro, temos que ser os
melhores, temos que superar a concorrência e só então... Só então o quê?
Morrer?
Crianças mal atingem os cinco anos e já começam a ser
sabatinadas sobre o futuro: “O que você vai ser quando crescer?”. E as
coitadinhas entram no jogo. Em vez de responderem que pretendem ser
surfistas, caroneiras, participantes de um coro ou defensoras da
natureza, respondem com a primeira profissão que lhes vêm à cabeça:
veterinário, professor, bombeiro. Na verdade, elas não têm a menor ideia
do que querem ser – nem os vestibulandos têm – mas já intuem que sua
identidade estará atrelada ao que fizerem para se sustentar.
Tanto
isso é verdade que os anjinhos crescem, estudam, começam a trabalhar e
um dia estão numa festa e são apresentados a alguém. Trocam um aperto de
mãos e a primeira pergunta entre os dois desconhecidos será: “O que
você faz?”.
E não se ouvirá como resposta “eu levo meus filhos
ao estádio, eu participo de rallys aos domingos, eu sou campeão em
palavras-cruzadas, eu saio com meu cachorro todo final de tarde, eu vou
ao cinema às quintas-feiras, eu namoro a mulher mais incrível do mundo,
eu corro maratonas”.
Você responderá que é professor, veterinário, bombeiro. Ou vão achar que você não tem uma vida.
Mas
você também. Só que ela ocupa um lugar muito menor do que deveria na
sua lista de prioridades. Você passa um terço do dia trabalhando, e
outro terço pensando na reunião de amanhã cedo, nas tarefas que ainda
não foram concluídas, no cliente que está ameaçando deixar a empresa, no
funcionário que não está correspondendo. No terceiro terço você dorme.
Mal.
Quem está viciado nesse esquema pode encontrar dificuldade
em relaxar. Mas para quem está entrando agora no mercado de trabalho,
vale adotar desde cedo uma postura mais equilibrada entre vida pessoal e
profissional, começando por repensar essa questão da identidade: você
não é o que você faz para ganhar dinheiro, você é o que você faz para
ser feliz. As horas de lazer também são produtivas, uma vez que elas
abastecem nossa imaginação, sonhos, ideias, reflexões, e sem isso, aí é
que não se cria identidade alguma, viramos apenas um número a mais nas
estatísticas de mão-de-obra.
Não sei o que o Brasil pretende ser
quando crescer, mas tomara que ele cresça com pessoas que, ao chegarem
perto da morte, não tenham tantos arrependimentos pelo que deixaram de
fazer quando ainda tinham tempo para fazê-las.
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