Carta a Ariano Suassuna
Amigo torcedor, amigo secador, peço a devida licença, como faço em momentos especiais, para hoje me dirigir a um distinto cavaleiro do reino de dom Sebastião e de Dom Pedro Diniz Quaderna, igualmente doido de pedra por futebol como nós todos, pé quente qual um descobridor de tesouros na Ilha do Retiro, cujo ilhéu da vizinha Ilha do Leite respeita e reconhece de longe, um menino de 87 anos, Sport Recife desde a Paraíba, contador de histórias na linhagem de Robert Louis Stevenson e tantos aventureiros, um gênio brasileiro, às vezes incompreendido mas nunca ilhado, uma salva de palmas e tiros de bacamarte para Ariano Suassuna.
Quis o destino que o autor de "O Santo e a Porca" estivesse justamente ali, agora, no meio das tantas ilhas da Veneza Americana, internado no Real Hospital Português, depois de um infarto nesta semana.
Graças a Deus o Sport joga hoje fora, muito longe, em Curitiba, contra o Paraná. Fosse a peleja naquele sítio, à beira do leito de recuperação, Suassuna surgiria, na beca, no vermelho mais Sthendal e no negro mais Zumbi, para gáudio da galera que o tem em alta conta, estima e consideração clubística.
O genialíssimo Hermilo Borba Filho, seu amigo, que se dane lá no seu purgatoriozinho que dá de dez a zero em Palmares, o paraíso natal dele. Nem adianta ficar mandando tentadoras pulhas do outro mundo.
Tens que ficar é aqui com a gente, Ariano, para ganhar a Copa Sul--Americana e subir para o lugar de onde nunca deveria ter despencado. Vai te arrombar, Velha da Foice, deixa o homem acabar seu novo livro --reparaste no pensamento egoísta do leitor que considera o "Romance d'A Pedra do Reino" o nosso Quixote e só pensa na nova obra! Magote de cabra safado!
O Sport sobe, amigo, sem dúvida. Após aquela camisa em tua homenagem, então, se não subir é muita falta de vergonha na cara. Tem que mandar o elenco todo amassar barro e queimar caieras de tijolos Taperoá adentro. Os boleiros têm que ler nem que seja os dizeres da tua lavra, escritos no manto de glórias.
E chega de susto, meu velho, basta o rebuliço que nos causou o escritor Raimundo Carrero, outro clássico cosmo-sertanejo, o autor mais russo do Brasil hoje, igualmente do vermelho e do negro. Aqui lendo esculhambações e aventuras do Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, me despeço, morrendo de rir, como sempre, minha única e possível forma de rezar e tomar cachaça com Deus.
Sim, Ariano, soubeste do lançamento do livro de outro grande amigo comum, Samarone Lima? Escreveu, com Inácio França, "A Trilogia das Cores", o primeiro volume com as crônicas do Blog do Santinha, editado lá na Inglaterra. Depois te conto essa grande história. Um abraço do fundo d'alma sertaneja, com admiração e votos de um levante ligeiro, teu admirador Francisco.
@xicosa
Xico Sá, jornalista e escritor, com humor e prosa, faz a coluna para quem "torce". É autor de "Modos de Macho & Modinhas de Fêmea" e "Chabadabadá - Aventuras e Desventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha", entre outros livros. Na Folha, foi repórter especial. Na TV, participa dos programas "Cartão Verde" (Cultura) e "Saia Justa" (GNT). Mantém blog e escreve às sextas, a cada quatro semanas, na versão impressa de "Esporte".
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