domingo, 24 de novembro de 2013

As escolhas de Marilu - Ana Clara Brant

As escolhas de Marilu 

Caçula de Tom Jobim, Maria Luiza Jobim começou a estudar arquitetura mas se rendeu à música. Garante que não tem nada a ver com o pai porque além de ser mulher optou pela eletrônica 
 
Ana Clara Brant

Estado de Minas: 24/11/2013


Com o produtor Lucas de Paiva, que fica nos sintetizadores, a cantora Maria Luiza Jobim forma a dupla Opala de música eletrônica (Jorge Bispo/Divulgação)
Com o produtor Lucas de Paiva, que fica nos sintetizadores, a cantora Maria Luiza Jobim forma a dupla Opala de música eletrônica

Definitivamente, ela não é mais aquela menina do ‘cabelo amarelo e óio cor de chuchu’, cantada em verso e prosa pelo pai, o maestro e compositor Tom Jobim. Maria Luiza, de 26 anos, virou gente grande e é hoje uma das promessas da música eletrônica. Ao lado do parceiro Lucas de Paiva, faz parte do duo Opala, e é uma das atrações do Eletronika, festival de novas tendências que está completando 15 anos e será realizado na próxima semana, no Teatro Oi Futuro Klauss Vianna.

Desde que o EP da dupla foi lançado, no meio do ano, a agenda do Opala está intensa. E, depois da apresentação na capital mineira, a intenção é dar uma parada para trabalhar o primeiro CD. “Estamos fazendo muita coisa e estamos tendo ótima repercussão. Mas queremos fazer o disco em 2014. O EP tem apenas cinco faixas, e o repertório, umas sete, então, temos que focar para produzir mais coisas para o álbum”, conta Maria Luiza.

Será a primeira vez que ela vai se apresentar em BH, onde, inclusive, tem familiares como a tia Helena Jobim e primos. “Sou muito ruim para convidar, ficar cobrando a presença de amigos e parentes. Mas claro que espero que todo mundo vá. Acho que essa coisa de prestigiar tem que ser natural, um movimento genuíno. Não quero que meu público seja só de conhecidos. Se a minha música está chegando às pessoas, é porque estou fazendo um bom trabalho. Isso é bacana”, diz.

Brincadeira A primeira vez que a filha caçula do ‘maestro soberano’ entrou num estúdio foi ao lado do pai, na gravação do disco Antônio brasileiro, quando ela tinha apenas 7 anos. Soltou a voz em duas faixas: Forever green, cantada em inglês, e na música composta especialmente pra ela, o brejeiro Samba de Maria Luiza. “Era uma brincadeira; uma extensão da nossa casa. Ele quis gravar e eternizar essa nossa relação no disco. É engraçado que tem gente hoje que acha que sou neta do meu pai”, lembra com carinho Marilu, como era chamada por Tom Jobim.

Luiza chegou a cantar bossa nova ao lado do sobrinho Daniel, como em Wave, que fez parte da trilha da novela Páginas da vida. Também fez uma participação ‘fofa’, como ela diz, no álbum Dias de paz, do cantor e compositor mineiro Beto Guedes, em Contos da lua vaga (Esperança viva que o sangue amansa/ Vem lá do espaço aberto/ E faz do nosso braço). “Eu tinha apenas 11 anos e eles queriam uma criança que cantava, então me chamaram. Foi mais uma brincadeira, mas bem legal. Quando interpretei as músicas do meu pai, era uma coisa meio de bobeira, uma homenagem. Não exatamente como uma proposta minha”, conta.

Em inglês Aliás, apesar de, claro, admirar e gostar da obra de Tom, Maria Luiza é fã mesmo de música eletrônica. O fato de ter morado muito tempo fora do Brasil e de ter sido alfabetizada em inglês – tanto que todas as faixas do Opala são cantadas por ela nesse idioma – acabou a influenciando nesse sentido.

Antes de criar o duo, há um ano e meio, Maria Luiza Jobim foi vocalista da banda carioca Baleia, considerada um misto de trupe cigana com jazz. A decisão de deixar o grupo veio da necessidade de trilhar o próprio caminho. “Depois que saí do Baleia, passei uns 4 meses pesquisando e buscando referências. Precisava pensar no que eu queria fazer mesmo, o que estava a fim de compor. Já estava meio tendendo para o eletrônico e quando encontrei o Lucas, vi que estávamos num momento parecido. Foi muito natural”, revela Maria Luiza, que canta enquanto o parceiro e produtor fica nos sintetizadores.

Opala tem a ver com a pedra de mesmo nome que não tem cor muito definida. E a artista considera que encaixa muito bem com a proposta que queria. “Além da sonoridade ser fácil e musical, opala é uma pedra que eu gosto muito. Não é óbvia e tem várias cores, várias nuances, performances. Acho que tem muito a ver com a nossa música”, explica.

A cantora e compositora afirma que sua família não estranhou sua escolha artística e que nunca sentiu uma pressão por ter que seguir a linha do pai. “Sempre recebi muito apoio por parte de todos. Eles são muito abertos e todo mundo adora o meu trabalho. Somos uma família de artistas e, na arte, o mais importante é que haja verdade. Acredito que eles fiquem felizes em me ver fazendo uma coisa tão minha”, afirma.

TRÊS PERGUNTAS PARA...
Maria Luiza Jobim
Cantora

ATendo nascido no meio artístico, era meio inevitável seguir esse caminho?
Pois é. E tem os mais diversos tipos de artes na minha família. Tem meu pai, minha irmã Beth Jobim, que é artista plástica, o Daniel (sobrinho), músico também. Gosto muito de desenhar e pintar, tanto que escolhi fazer arquitetura por conta disso. Não cheguei a me formar, mas ocupou grande parte da minha vida. Continuo desenhando, mas acabei optando pela música mesmo.

Você sente alguma cobrança ou peso por ser filha de Tom Jobim?
Passei muito tempo evitando a música, mas foi inevitável. Acho que, inclusive, demorei tanto para escolher essa opção, justamemte por causa disso, de ser filha de artista. Mas nunca senti nenhuma cobrança ou pressão. Minha música é tão diferente da dele, sou mulher. É outra coisa.

E como será essa apresentação aqui em BH, no domingo que vem?
Nosso show tem uma tendência de ser mais calmo, intimista, apesar de ser um som eletrônico. A apresentação tem vários formatos porque já nos apresentamos em boates, em festas, mas em Belo Horizonte será num teatro. No repertório estarão as cinco faixas do EP, mas vamos acrescentar outras composições que já estão prontas. Vai ser uma coisa bem leve, tranquila e espero que as pessoas curtam.

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