Os brasileiros admitem que ficaram mais seguros depois dos 50 anos, confirmando pesquisa publicada na Inglaterra
Luciane Evans
Estado de Minas: 24/11/2013
Marcos Cambraia Teixeira foi pai pela primeira vez aos 58 anos e hoje, ao lado de Heitor, diz que tem mais sabedoria e maturidade para enfrentar a vida |
Ainda que os fios brancos possam aparecer antes mesmo dos 30, a vida para alguns homens só começa depois dos 50 anos. Essa antiga desconfiança feminina, que se sustenta em dizer que “eles custam a amadurecer”, tem, agora, respaldo de pesquisadores. Um estudo feito com 1 mil homens na Inglaterra apontou que eles se sentem mais seguros aos 54 anos. É nessa idade que, segundo a pesquisa britânica, os homens realmente se sentem preparados para viver a vida adulta, sem as infantilidades da juventude. Aliás, até os 40 anos, segundo especialistas, há resquícios da adolescência no homem de hoje. É claro que não se trata de uma regra, mas aqui no Brasil, alguns cinquentões reconhecem que foi justamente nesse momento da vida que ficaram mais tolerantes, pacientes e menos imaturos.
Apesar de abalar o mundo feminino, uma vez que realça a maior queixa das mulheres contra eles, a análise foi feita por uma clínica de transplante de cabelo, Crown Clinic, em Manchester, divulgada este mês no jornal Telegraph, e mostra uma realidade também brasileira. O estudo sugere que os homens de hoje estão levando mais tempo do que as gerações passadas para atingir o estágio do amadurecimento, principalmente devido às pressões financeiras e à paternidade adiada. Hoje, nos Estados Unidos, por exemplo, dois terços dos bebês nascem de pais com mais de 30 anos, com a média de 32 anos para o primeiro filho.
Aqui no Brasil, segundo especialistas, além de serem pais cada vez mais tarde, hoje muitos ainda não deixaram a casa da mãe. “Vivemos em um momento de quebras de paradigmas. A própria independência feminina está refletindo no amadurecimento do homem”, comenta a psicóloga, sexóloga e autora de livros sobre educação infantil Cida Lopes. Ao comparar o comportamento masculino de tempos atrás e o de hoje, Cida ressalta que, antigamente, eles saíam de casa para ter a liberdade de fazer o que quiser, inclusive poder casar e ter um relacionamento sexual ativo. “Mas hoje eles não precisam de nada disso. A mulher se tornou independente e mais dona de si.”
Quem passou ou está nos 50 reconhece que algo mudou. Para o aposentado Marcos Cambraia Teixeira, de 62 anos, a meia-idade lhe deixou mais completo. Ele se casou e foi pai pela primeira vez aos 58. “Na juventude, não sabia encarar a adversidade que a vida nos oferece. Depois dos 50, passei a ter mais jogo de cintura, sabedoria e maturidade de encarar a vida”, afirma. Para o empresário Jivam Morais, de 55, essa maturidade pode vir a qualquer idade, desde que tenhamos a consciência de que existe começo, meio e fim. “Estou mais tolerante. Até uma certa idade você acha que vai consertar o mundo, depois começa a achar que vai ajudar todos os amigos e depois vê que é melhor se segurar”, diverte-se.
Mas será que existe diferença nesse quesito entre os homens e as mulheres? A resposta é sim, conforme o médico e especialista em cirurgia geral Sérgio Duval, de 53. Ele acredita que só aos 50 anos o homem amadurece e começa a ter a maturidade de uma mulher de 40. O que dizem os especialistas sobre essa diferença? Afinal, quando nós, homens e mulheres, amadurecemos?
Eternas diferenças
Eles amadurecem mais tarde e elas têm contra si o relógio biológico. Estudo feito na Inglaterra mostra que 80% das mulheres garantem que homens sempre serão infantis
Luciane Evans
Marcos Cambraia Teixeira, aposentado |
Aquelas que desejam ter um filho correm contra o tempo. Eles não precisam disso. Mesmo que a infância nem tenha chegado ao fim, elas largam suas bonecas diante das mudanças do corpo. Eles não abandonam seus brinquedos, mesmo depois de marmanjos. Para especialistas, existe sim uma diferença entre o amadurecimento das mulheres e o dos homens. Pesa aí, para elas, a anatomia e o relógio biológico, enquanto eles têm a favor a natureza masculina, que permite um tempo maior para o amadurecer. Em junho deste ano, um estudo feito pelo canal Nickelodeon UK mostrou que 80% das mulheres acreditam que homens nunca deixarão de ser infantis. Na mesma pesquisa, tanto homens quanto mulheres que participaram consideraram que pessoas do sexo feminino amadurecem mentalmente antes do sexo oposto.
O aposentado Marcos Cambraia Teixeira concorda com essa diferença. Ele diz que, ao contrário de muitos, amadureceu cedo, mas nunca tinha pensado em ser pai e, muito menos, em se casar. “Não queria ter filhos, acho que pelo lado do egoísmo, de pensar que iria perder minha liberdade. Tinha a preocupação se um dia ia ter condição de ser um bom pai, pois via essa situação como uma grande responsabilidade”, lembra. Aos 57 anos, Marcos teve uma notícia que lhe deixou em estado de choque: sua namorada estava grávida. Vinha ali a maior mudança na vida de Marcos, hoje com 62 anos. “Em nenhum momento pensei em fugir, mas vinha o medo da responsabilidade e quase entrei em depressão”, recorda. Marcos conta que, três dias depois de saber que encararia a paternidade, viu na rua um rapaz com uma criança nos braços, que pedia ajuda para comprar uma cadeira de rodas para o filho. “Fiquei emocionado e com vergonha. Dei dinheiro e fui embora. Toda vez que passo por ali faço uma oração para essa família”, revela.
Assim, aos 58 anos ele foi pai. Hoje, Heitor está com 5 anos e, segundo conta Marcos, agora sua vida está completa. Ele se casou com a namorada e diz que tanto o casamento quanto a paternidade são um exercício de paciência. “A vida não é só sair e balada. É legal construir um lar, se sentir importante para uma criança e exercitar a qualidade paterna”, defende, dizendo que foi depois dos 50 que se sentiu com mais sabedoria e maturidade. “Depois dessa idade, me permiti conhecer coisas novas. Acredito que as mulheres amadurecem mais cedo. Tenho amigos que são, até hoje, verdadeiras crianças. Exemplo disso é o próprio futebol. Os homens soltam foguetes às 5h, brigam e arranjam confusão por causa de um time. É o cúmulo da infantilidade. Não se vê mulher fazendo isso”, compara.
Para Cida Lopes, psicóloga e sexóloga, existe mesmo essa diferença, principalmente nas relações afetivas. Segundo ela, o tempo da fertilidade feminina e a própria anatomia da mulher contribuem para o amadurecimento precoce. “O homem tem capacidade de ter um filho até 80, 90 anos. Ela não tem esse privilégio e busca ser mãe antes dos 35 anos”, diz.
O médico Sérgio Duval diz que depois dos 50 anos ficou mais compreensivo: %u201CVocê passa a ter mais tranquilidade e compreender o outro%u201D |
OFERTA Além de uma paternidade sem limitações, o homem, conforme destaca Cida, tem ainda a vantagem da oferta. “Ele consegue, aos 50, uma menina de 20. Já para uma mulher de 50, isso é mais complicado”, afirma. A própria profissão, que antes era prioridade masculina, já contribui para o amadurecimento tardio. “Com a mulher no mercado e cada vez mais se tornando destaque em sua área, retiramos dos homens o peso da responsabilidade de ter que dar conta de bancar uma família. Hoje, as coisas estão mais divididas”, diz Cida.
Aos 53 anos, o médico Sérgio Duval conta que, depois dos 50, ficou mais comedido. Se antes um engarrafamento o irritava, hoje ele diz ter a sabedoria de entender “que não adianta correr nessa vida”. “Você passa a ter mais tranquilidade e compreender o outro. Nunca fui de fazer planos. Hoje, faço planos para daqui a 20 anos”, comemora. Para Sérgio, toda mulher é obrigada a amadurecer mais cedo. “Ela para de brincar de boneca quando seu corpo se prepara para ser mãe”, comenta, dizendo que os homens de 50 têm a maturidade de uma mulher de 40. “Somos mais inconsequentes. Temos mais neurônios, porém, eles são usados para o futebol, o buteco, a cerveja e outros.” Uma das lições que Sérgio traz com a maturidade é o prazer de conviver . “Sou de sentar e bater um papo. Somos um conjunto de memória”, conclui.
Quando, então, amadurecemos?
Psicólogo diz que maturidade vem com a consciência de si mesmo e com o reconhecimento dos próprios sentimentos
Luciane Evans
O empresário Jivam Morais tem 55 anos, é casado há 30 e se considera mais tolerante. Ao lado de um de seus três filhos, Henrique, ele se diverte na cozinha, uma paixão em comum |
Ser capaz de encarar os problemas com mais segurança ou conseguir ter mais clareza diante das situações vividas. Ter mais paciência e mais certezas, quem sabe até mais leveza. Experiência seria mesmo sinônimo de mais maturidade? A idade é mesmo fator primordial? Quando, enfim, homens e mulheres amadurecem? “Antigamente, definia a maturidade como a capacidade de perceber e lidar com as diferenças. Hoje, defino-a como aquela capacidade de lidar com as incertezas e o insólito”, sugere o psicólogo e ex-professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Antônio Coppe, para quem não existe receita para chegar a essa fase da vida.
Em seu livro, Maturidade – a responsabilidade de ser você mesmo, o líder espiritual indiano Osho aponta a diferença entre envelhecimento e maturidade. Segundo ele, as pessoas pensam que envelhecer é se tornar adulto , “mas envelhecer pertence ao corpo”. “Todo mundo está envelhecendo, todo mundo ficará velho, mas não necessariamente maduro. A maturidade é um crescimento interior”, diz o texto.
O grande passo para conquistá-la, de acordo com Osho, seria somar experiências com consciência. Uma das bandeiras dele é viver o aqui e o agora, estar presente no momento em que algo aconteça, não só no corpo, mas com a mente e o coração. “A vida é felicidade e infelicidade. A vida é dia e noite, a vida é vida e morte. Você precisa estar consciente dos dois”, ensina.
Osho, líder espiritual indiano |
Certo de que cada momento está aí para ser vivido com atenção, o empresário Jivam Morais completa ainda mais a definição para maturidade: “Para mim, ela chega quando passamos a ter consciência de que existe início e fim. Com isso, você passa a viver uma coisa de cada vez”, afirma. Jivam tem 55 anos, é casado há 30 e tem três filhos. “Hoje, estou mais tolerante. Com a maturidade, a gente começa a entender um pouco mais da vida. Não somos donos de nada”, diz, destacando que existe na juventude a sensação de eternidade, mas com o passar dos anos, essa sensação passa. “Aí você aprende a amar melhor .” Para Jivam, a pessoa precisa sempre ser honesta consigo mesma e trabalhar. “O desafio está lá fora, onde todos são iguais.”
Henrique Morais, de 29, é um dos filhos de Jivam. Ele conta que morou por uma ano na França, onde estudou gastronomia, e isso o ajudou a amadurecer. “Hoje tomo decisões que sei que não tomaria anos atrás. Por outro lado, vejo que fui ficando com menos coragem de assumir riscos”, afirma. Jivam e Henrique são amigos e têm uma paixão em comum: a cozinha. É ali que eles preparam delícias para os amigos e trocam experiências de vida. “Na minha idade, meu pai já tinha filhos. Eu, aos 29, moro com meus pais, quero viajar mais para depois me casar e ter filhos. As coisas mudaram, não tenho metade da preocupação que meu pai teve na minha idade”, compara, dizendo que, ao chegar aos 55, quer ter a sabedoria de Jivam. “Se chegar com a admiração que nós filhos temos dele, e a saúde e disposição que ele tem, ficarei muito satisfeito.”
AUTOCONHECIMENTO
O psicólogo Antônio Coppe aponta que vemos por aí pessoas ansiosas e imaturas aos 50 anos, ao mesmo tempo que conhecemos jovens com plena confiança em suas atitudes. “O grande segredo é conhecer a si mesmo. E é por meio dos relacionamentos que isso ocorre. Há pessoas que até os 60 anos precisam da aprovação do outro para as suas ações e não têm a consciência de quem realmente são”, aponta. Reconhecendo que as mulheres atingem a maturidade emocional, geralmente, antes dos homens, Antônio diz que um caminho que as difere é a educação afetiva. “Somos educados para não demonstrar sentimentos, isso tanto para o universo feminino quanto o masculino, mas para o homem isso é muito pior. Em uma paquera, por exemplo, ele tem que ir atrás e ela dizer não.”
A consciência de si mesmo, de acordo com o psicólogo, passa por aí. “Quando sei reconhecer meus sentimentos, saber o que me leva a sentir tristezas e alegrias é um caminho para amadurecer”, afirma, acrescentando que, quando se aprende a ser você mesmo, “aprendo a não me violentar e a respeitar o outro. É a maturidade.”
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