Étore Medeiros
Estado de Minas: 24/11/2013
Derrubadas ocorrem geralmente em meses com maior cobertura de nuvens, prejudicando a fiscalização |
Brasília – Apesar do retorno de grandes áreas de desmatamento na Amazônia, superiores a mil hectares, um perfil de derrubada de floresta tem se consolidado na região nos últimos anos. São os polígonos menores de 25 hectares, invisíveis ao Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real, o Deter, do governo federal, que não tem resolução suficiente para percebê-los. Cientes de que estão sendo vistos do espaço, os madeireiros ilegais também têm atuado mais durante o inverno amazônico, entre dezembro e abril, quando a cobertura de nuvens é intensa — condição que prejudica a detecção pelos satélites. Sinalizações do governo de redução de unidades de conservação seriam outro fator de risco à floresta.
O governo só toma conhecimento de boa parte das derrubadas quando o estrago já está feito, por meio do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes). No último balanço anual, divulgado há duas semanas, constatou-se um aumento de 28% das áreas de floresta perdidas. Entre agosto de 2012 e julho de 2013, foram desmatados 5.843km², área equivalente a todo o Distrito Federal. Desde 2005 à frente na lista, o Pará contribuiu com 2.379km², ou 40,7% do total, seguido por Mato Grosso (1.149km²) e Rondônia (933km²). Juntas, as áreas dos três estados formam o chamado Arco do Desmatamento.
Francisco Oliveira, diretor do Departamento de Políticas de Combate ao Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente, acredita que o aumento é um ponto fora da curva. “Não vai continuar subindo. Entre agosto e outubro deste ano, temos um indicativo de queda de 24%. Devemos voltar aos 4.500km² de 2012”, explica. Com a volta dos grandes polígonos, os desmatamentos abaixo de 25 hectares perderam importância, passando de 60% para 50% do total, mas continuam predominantes, tanto que o governo federal já prepara uma ofensiva para detectá-los.
Aviões do Sistema de Proteção da Amazônia, equipados com radar — que conseguem “ver” por meio das nuvens — devem começar a monitorar áreas prioritárias ainda este mês. Parcerias com a China e a Índia para a utilização de satélites também permitirão a identificação de áreas a partir de cinco hectares.
“A região mais quente do desmatamento está na BR-163”, aponta Oliveira. “Foram 107 polígonos acima de 100 hectares na região, sendo oito acima de mil hectares. Destes, 75 já foram embargados pelo Ibama”, explica. Em 2013, foi criado o Gabinete Permanente de Gestão Integrada para a Proteção do Meio Ambiente, formado por 14 órgãos públicos, desde ministérios até a Força Nacional de Segurança Pública. O grupo encampou as operações Onda Verde e Hileia Pátria, que, juntas, aplicaram R$1,9 bilhão em multas, apreenderam 68,6 mil toras e embargaram 210 mil hectares de terras.
CORRIDA O secretário de Meio Ambiente do Pará, José Colares, também cita a BR-163 como foco de desmatamento, e aponta uma possível causa para a situação. “Na BR-163, o problema são as unidades de conservação, que a gente sabia que existia a possibilidade de revisão dessas áreas, principalmente de uma flona (floresta nacional) lá, e havia interesse de fazendeiros e madeireiros em ocupar aquela área, consolidar a ocupação para legitimar a retificação da unidade.” Daniel Azeredo, procurador da República no Pará, concorda com a análise. “O pico do desmatamento foi em agosto do ano passado, na região de Castelo dos Sonhos, dentro da Flona do Jamanxim, na região da BR-163, e coincide com uma declaração do governo federal de que a redução da flona estaria próxima – um simples comunicado, mas a mensagem que chega ao campo é de que quem chegar primeiro e abrir (a floresta) vai ser beneficiado. É como uma corrida pelo ouro.”
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