Frequência
Sobrevivi e aprendi a lição: é perigoso
dançar com 120 quilos nos ombros, sobretudo e principalmente se a dança
envolve ritual de acasalamento
Estado de Minas: 24/11/2013
Enganam-se os que
pensam que um ambiente, pelo fato de ser de luxo, recebe gente melhor de
mor qualidade. Comida boa, restaurante dos mais caros, o Gero de
Ipanema é um perigo.
A convite, lá estive faz algum tempo e dei
notícia neste jornal. Casa cheia, adentra (!) o recinto o senador Lobão
com a sua cabeleira cor de cenoura, hoje escurecida na condição de
ministro de Minas e Energia para ficar nos conformes da escuridão nos
apagões que se repetem.
Na quinta-feira de lua cheia 18 de
outubro de 2013, foi pior. Havia sentadas à entrada do restaurante duas
moças com caras e roupas de não sei quê. Depois, chegaram dois senhores
de gravata, também com cara de não sei quê. Por fim, os frequentadores
do Gero descobriram que os quatro faziam parte do entourage de uma alta
autoridade da Justiça brasileira, cidadão que conspurca, denigre,
empesta um Maracanã inteiro, continua solto e tem mandato por muitos e
muitos anos. Triste país.
Sorocaba
Com a
vitória do piloto Átila Abreu na etapa curitibana da Stock Car, fiquei
sabendo que o rapaz tem 1m92, mesmo assim porque tomou remédio para
deixar de crescer. A altura prejudicou sua carreira nos monopostos
europeus. Aprendi também que nasceu em Sorocaba (SP) município que me
lembra morfina, um dos mais importantes alcaloides (C17H19NO3) do ópio,
usado especialmente como analgésico e narcótico.
Explico. Na flor
dos meus 18 aninhos, metido a forte, lá estive hospedado numa fazenda
sorocabana onde havia bela senhora, casada, de olho no então jovem
philosopho. Visando a impressionar a morena, fiz a besteira de escolher
dois sacos de 60kg e pedir a um empregado que os botasse sobre os meus
ombros, um de cada lado.
Até aí, tudo bem: um idiota com 120kg
sobre os ombros. Não contente com isso, lembrei-me de que inúmeras
espécies animais incluem movimentos dançantes nos rituais de
acasalamento. Por isso, resolvi dançar para mostrar que tirava de letra
aquele peso, quando senti que alguma coisa saiu dos eixos na minha
coluna. Resultado: fiquei sem a morena casada e embarquei para o Rio num
automóvel com chofer. Sorocaba demora 84 quilômetros de São Paulo,
capital, e ainda havia o trecho São Paulo-Rio pela Via Dutra.
Urrando
de dor, resolvi parar no aeroporto de Congonhas, onde já saí do carro
assistido pelo serviço médico aeroportuário, de maca, doutores que me
embarcaram no primeiro avião da ponte aérea depois de me aplicar uma
injeção de morfina.
Do Santos Dumont até ao apartamento em
Copacabana tive táxi e motorista para carregar minha mala. Sexta-feira
de carnaval: não havia ninguém em casa. Deitei-me na cama e passei dias
inteiros vendo o carnaval pela televisão. Um médico amigo passou lá em
casa para reforçar os analgésicos, sem outra injeção de morfina. O
estoque de queijos e presuntos da geladeira deu para sobreviver durante o
tríduo momesco. No calorão carioca, devo ter passado dias sem tomar
banho e consegui que o serviço médico do trabalho me desse duas semanas
de licença. Sobrevivi e aprendi a lição: é perigoso dançar com 120
quilos nos ombros, sobretudo e principalmente se a dança envolve ritual
de acasalamento.
Futebol
Muitos canais de tevê passam horas
transmitindo partidas de futebol ao vivo ou gravadas, sinal de que há
telespectadores assistindo e anunciantes pagando pela exibição. Cada
transmissão faz chegar à casa do telespectador as vozes do narrador e de
pelo menos um comentarista.
Considerando que a opinião do
telespectador nem sempre coincide com a do comentarista, sugiro que a
tecnologia televisiva separe as coisas, permitindo que o telespectador
assista ao prélio sem ouvir o que diz o comentarista.
Se eles
próprios, comentaristas, não se entendem sobre o que está acontecendo em
campo, é justo poupar o telespectador da enxurrada de asneiras que
arrotam durante as partidas.
O mundo é uma bola
24
de novembro de 1631: os holandeses incendeiam a cidade de Olinda, PE.
Em 1642, o explorador holandês Abel Tasman avista a ilha que mais tarde
seria batizada com o seu nome: Tasmânia.
Em 1831, o físico
experimental inglês Michael Faraday anuncia a descoberta da Lei do
Eletromagnetismo, que leva o seu nome, também conhecida como Lei da
Indução. Em 1848, disfarçado, o papa Pio IX fugiu para Gaeta, fortaleza
localizada no Reino das Duas Sicílias. Outro que está ameaçado de fugir
disfarçado é o papa Francisco, se continuar implicando com os bispos que
constroem residências um pouquinho mais caprichadas, como fez com o
bispo de Limburgo, o piedoso Franz-Peter Tebartz van Elst.
Em
1859, publicação do livro A origem das espécies, de Charles Darwin, o
que não impediu que até hoje idiotas acreditem no criacionismo.
Em
1632 nasceu, em Amsterdam, de família judaica portuguesa, o filósofo
holandês Baruch de Espinoza, fundador do criticismo bíblico moderno. Em
1864 nasceu o pintor francês Toulouse-Lautrec. Em 1897, foi a vez do
gângster americano Lucky Luciano. Em 1963, Lee Harvey Oswald, indiciado
como assassino do presidente Kennedy, foi morto por Jack Ruby.
[O mundo é uma bola]
ResponderExcluir245 anos do original e 40 e poucos anos da publicação da criminosa """tradução""" d'A Origem das Espécies pela editora (sic) Hemus.
Tão escalafobética """tradução""" que um então pivete aspirante a biólogo teve que recorrer a seu pai, um dentista artífice das palavras. Se nem ele entendeu aquela mixórdia, concluí: "Não é para mim".
Não virei criacionista, mas engenheiro ;)
O fato de traduções para português flutuarem no mundo da "cultura" nos torna condescendentes com esses crimes, mas o código penal bem poderia contemplá-los.
Mais adiante, ali pelos 18-20 anos, peguei a """tradução""" d'O Mundo Assombrado pelos Demônios (Carl Sagan), onde se encontra a pérola "A negação não é um rio do Egito" (assim, sem cuspe nem contexto).
Mas aos 18-20 eu já tinha recursos para fazer a tradução reversa e encontrar o sentido que havia no original ("Denial is not a river in Egypt").
É dose. Além de periferia do mundo científico-cultural, ainda a língua portuguesa e a muito rarefeita oferta de tradutores competentes.
E a maravilhosa pedagogia nacional a garantir que avancemos sempre para trás. Quanto mais acelerado, melhor.
O que resta? O talento, a inteligência i.n.d.i.v.i.d.u.a.l. Se não fosse ela, nós brasileiros não faríamos troco nem pegaríamos ônibus.