domingo, 24 de novembro de 2013

EDUARDO ALMEIDA REIS - Frequência‏

Frequência 
 
Sobrevivi e aprendi a lição: é perigoso dançar com 120 quilos nos ombros, sobretudo e principalmente se a dança envolve ritual de acasalamento


Estado de Minas: 24/11/2013 


Enganam-se os que pensam que um ambiente, pelo fato de ser de luxo, recebe gente melhor de mor qualidade. Comida boa, restaurante dos mais caros, o Gero de Ipanema é um perigo.

A convite, lá estive faz algum tempo e dei notícia neste jornal. Casa cheia, adentra (!) o recinto o senador Lobão com a sua cabeleira cor de cenoura, hoje escurecida na condição de ministro de Minas e Energia para ficar nos conformes da escuridão nos apagões que se repetem.

Na quinta-feira de lua cheia 18 de outubro de 2013, foi pior. Havia sentadas à entrada do restaurante duas moças com caras e roupas de não sei quê. Depois, chegaram dois senhores de gravata, também com cara de não sei quê. Por fim, os frequentadores do Gero descobriram que os quatro faziam parte do entourage de uma alta autoridade da Justiça brasileira, cidadão que conspurca, denigre, empesta um Maracanã inteiro, continua solto e tem mandato por muitos e muitos anos. Triste país.

Sorocaba
Com a vitória do piloto Átila Abreu na etapa curitibana da Stock Car, fiquei sabendo que o rapaz tem 1m92, mesmo assim porque tomou remédio para deixar de crescer. A altura prejudicou sua carreira nos monopostos europeus. Aprendi também que nasceu em Sorocaba (SP) município que me lembra morfina, um dos mais importantes alcaloides (C17H19NO3) do ópio, usado especialmente como analgésico e narcótico.

Explico. Na flor dos meus 18 aninhos, metido a forte, lá estive hospedado numa fazenda sorocabana onde havia bela senhora, casada, de olho no então jovem philosopho. Visando a impressionar a morena, fiz a besteira de escolher dois sacos de 60kg e pedir a um empregado que os botasse sobre os meus ombros, um de cada lado.

Até aí, tudo bem: um idiota com 120kg sobre os ombros. Não contente com isso, lembrei-me de que inúmeras espécies animais incluem movimentos dançantes nos rituais de acasalamento. Por isso, resolvi dançar para mostrar que tirava de letra aquele peso, quando senti que alguma coisa saiu dos eixos na minha coluna. Resultado: fiquei sem a morena casada e embarquei para o Rio num automóvel com chofer. Sorocaba demora 84 quilômetros de São Paulo, capital, e ainda havia o trecho São Paulo-Rio pela Via Dutra.

Urrando de dor, resolvi parar no aeroporto de Congonhas, onde já saí do carro assistido pelo serviço médico aeroportuário, de maca, doutores que me embarcaram no primeiro avião da ponte aérea depois de me aplicar uma injeção de morfina.

Do Santos Dumont até ao apartamento em Copacabana tive táxi e motorista para carregar minha mala. Sexta-feira de carnaval: não havia ninguém em casa. Deitei-me na cama e passei dias inteiros vendo o carnaval pela televisão. Um médico amigo passou lá em casa para reforçar os analgésicos, sem outra injeção de morfina. O estoque de queijos e presuntos da geladeira deu para sobreviver durante o tríduo momesco. No calorão carioca, devo ter passado dias sem tomar banho e consegui que o serviço médico do trabalho me desse duas semanas de licença. Sobrevivi e aprendi a lição: é perigoso dançar com 120 quilos nos ombros, sobretudo e principalmente se a dança envolve ritual de acasalamento.
Futebol
Muitos canais de tevê passam horas transmitindo partidas de futebol ao vivo ou gravadas, sinal de que há telespectadores assistindo e anunciantes pagando pela exibição. Cada transmissão faz chegar à casa do telespectador as vozes do narrador e de pelo menos um comentarista.

Considerando que a opinião do telespectador nem sempre coincide com a do comentarista, sugiro que a tecnologia televisiva separe as coisas, permitindo que o telespectador assista ao prélio sem ouvir o que diz o comentarista.

Se eles próprios, comentaristas, não se entendem sobre o que está acontecendo em campo, é justo poupar o telespectador da enxurrada de asneiras que arrotam durante as partidas.

O mundo é uma bola 

24 de novembro de 1631: os holandeses incendeiam a cidade de Olinda, PE. Em 1642, o explorador holandês Abel Tasman avista a ilha que mais tarde seria batizada com o seu nome: Tasmânia.

Em 1831, o físico experimental inglês Michael Faraday anuncia a descoberta da Lei do Eletromagnetismo, que leva o seu nome, também conhecida como Lei da Indução. Em 1848, disfarçado, o papa Pio IX fugiu para Gaeta, fortaleza localizada no Reino das Duas Sicílias. Outro que está ameaçado de fugir disfarçado é o papa Francisco, se continuar implicando com os bispos que constroem residências um pouquinho mais caprichadas, como fez com o bispo de Limburgo, o piedoso Franz-Peter Tebartz van Elst.

Em 1859, publicação do livro A origem das espécies, de Charles Darwin, o que não impediu que até hoje idiotas acreditem no criacionismo.

Em 1632 nasceu, em Amsterdam, de família judaica portuguesa, o filósofo holandês Baruch de Espinoza, fundador do criticismo bíblico moderno. Em 1864 nasceu o pintor francês Toulouse-Lautrec. Em 1897, foi a vez do gângster americano Lucky Luciano. Em 1963, Lee Harvey Oswald, indiciado como assassino do presidente Kennedy, foi morto por Jack Ruby.

Um comentário:

  1. [O mundo é uma bola]

    245 anos do original e 40 e poucos anos da publicação da criminosa """tradução""" d'A Origem das Espécies pela editora (sic) Hemus.
    Tão escalafobética """tradução""" que um então pivete aspirante a biólogo teve que recorrer a seu pai, um dentista artífice das palavras. Se nem ele entendeu aquela mixórdia, concluí: "Não é para mim".

    Não virei criacionista, mas engenheiro ;)
    O fato de traduções para português flutuarem no mundo da "cultura" nos torna condescendentes com esses crimes, mas o código penal bem poderia contemplá-los.
    Mais adiante, ali pelos 18-20 anos, peguei a """tradução""" d'O Mundo Assombrado pelos Demônios (Carl Sagan), onde se encontra a pérola "A negação não é um rio do Egito" (assim, sem cuspe nem contexto).
    Mas aos 18-20 eu já tinha recursos para fazer a tradução reversa e encontrar o sentido que havia no original ("Denial is not a river in Egypt").

    É dose. Além de periferia do mundo científico-cultural, ainda a língua portuguesa e a muito rarefeita oferta de tradutores competentes.
    E a maravilhosa pedagogia nacional a garantir que avancemos sempre para trás. Quanto mais acelerado, melhor.

    O que resta? O talento, a inteligência i.n.d.i.v.i.d.u.a.l. Se não fosse ela, nós brasileiros não faríamos troco nem pegaríamos ônibus.

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