Luiz Mott
Professor titular de Antropologia da Ufba
luizmott@oi.com.br
Aprendi a gostar de música clássica nos
oito anos de seminário dominicano, e
com o passar dos anos, gosto cada vez
mais de Bach, Vivaldi, Mozart, Sattie. Raramente
perco concertos em Salvador e quando
na Europa, aí então, “lavo a égua”.
Em Roma posso me dar ao luxo de escolher
quase toda tarde e noite dois ou três concertos
grátis em maravilhosas igrejas, palácios e salas
musicais. Os mais frequentes são concertos de
órgãos barrocos, perfeitamente restaurados,
muitas vezes comtelão para se ver o frenesi das
mãos e pés de virtuoses intérpretes. Um dos
organistas era cego!
Ouvi certa vez um concerto de órgão a quatro
mãos, raridade. Assim como também nunca
havia visto no Brasil um sexteto de flautas, as
mais graves fazendo o papel de baixo contínuo
à moda de violoncelo. Em maio passado, na
deslumbrante Biblioteca Casanatense, fui a um
concerto de Mozart para dois cravos, detalhe
preciosista: a partitura era original da época!
Alguns dias após, outro concerto inédito entre
nós: “Fisarmônica”. Confesso que não conhecia
esse nome sofisticado para sanfona e acordeão.
Pois é: incrível o efeito sonoro deste instrumento
popular executando música clássica,
igualzinho a órgão!
Não menos celestial foi um concerto de
“charanga” a cargo de um jovem argentino:
instrumento típico dos Andes, tipo bandolim,
feito com a carapaça do tatu ou
armadillo. Uma delicatessen ouvir Piazzola
e Pixinguinha adaptados para o charango.
E não foi a única vez que a música brasileira
esteve presente nestes concertos: além do
Carinhoso, na barroca biblioteca jesuítica
do Colégio Romano, artistas da equipe do
célebre Morricone, que musicou La Dolce
Vita e outras obras primas de Fellini, executaram
Bahia, de Caymmi, com trinados
de uma soprano que provocou na plateia
“multipli orgasmi!”
Miguel Angelo esculpiu o inimitável Davi
na mesma década em que o Brasil foi descoberto.
Milênios de civilização clássica nos
separam do velho/belo mundo! Corramos
“alla ricerca del tempo perduto”!
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