sábado, 30 de novembro de 2013

Para lembrar Zé Clementino‏


Para lembrar Zé Clementino - Carlos Marcelo

Estado de Minas: 30/11/2013


Luiz Gonzaga dividiu suas canções com vários parceiros, de Zé Dantas a Zé Clementino     (Arquivo O Cruzeiro/EM/D.A Press - 31/1/56)
Luiz Gonzaga dividiu suas canções com vários parceiros, de Zé Dantas a Zé Clementino


“Certo mesmo é um ditado do povo/ Pra cavalo velho, o remédio é capim novo…”

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Quem não conhece os versos acima, que fazem parte do refrão de um dos maiores sucessos de Luiz Gonzaga nos anos 1970? Capim novo, conhecida nacionalmente pela inclusão na trilha da primeira versão da novela Saramandaia, foi escrita pelo compositor cearense Zé Clementino (1936-2005). A inspiração para a letra é autobiográfica, revela o jornalista e professor universitário Jurani Clementino no livro Zé Clementino: o ‘matuto’ que devolveu o trono ao Rei, lançamento da editora da Universidade Estadual da Paraíba, por meio do selo Latus. Com 240 páginas, o livro destaca Clementino como “um sensível cronista da vida do Nordeste” e tem o objetivo de apresentar um “Zé Clementino que é resultado das várias impressões, diversos olhares e pontos de vista”. Por meio de depoimentos de familiares, amigos próximos e reprodução de entrevistas, o autor – primo distante do compositor – traça perfil de um parceiro de Gonzaga que, ao contrário do conterrâneo Humberto Teixeira e outros como Zé Dantas e Antonio Barros, nunca deixou sua terra natal: Várzea Alegre, homenageada no hino que escreveu para a cidade e na música Contrastes de Várzea Alegre, gravada pelo Rei do Baião, e assim analisada por Jurani no capítulo “Desvelando os contrastes”: “Os contrastes demonstram ainda a capacidade perceptiva e observacional do autor, que ao se referir aos fatos curiosos da cidade, deixa claro a sua veia humorística, o seu poder irônico e sua poesia singular”.



Para os fãs e estudiosos da obra do Rei do Baião, o livro é particularmente revelador, pois conta como Clementino escreveu sucessos como Xote dos cabeludos, o desabafo do cantor pernambucano diante das mudanças no comportamento masculino nos anos 1960. “Era uma espécie de protesto a uma moda que fazia a cabeça dos homens ‘modernos’”, lembra Jurani, citando um trecho emblemático da letra, gravada em 1967: “Cabra do cabelo grande, cinturinha de pilão/ Calça justa bem cintada, costeletas bem fechadas, salto alto, fivelão/ Cabra que usa pulseira, no pescoço um medalhão/ Cabra com esse jeitinho no sertão do meu Padim/ Cabra assim não tem vez, não”.

No livro, Jurani também reproduz entrevista de Clementino ao Diário do Nordeste nos anos 1970, quando ele detalha como funcionava sua parceria musical: “As composições que Luiz Gonzaga gravou foram encaminhadas com melodia e letra. O Rei do Baião dava uma ajeitada, impunha o seu estilo. E a música passava a ser dos dois. Aceitava essa situação, queria a parceria”, explica o compositor.

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No capítulo “O esquecimento de um Zé”, Jurani muda o tom expositivo e tece críticas aos que narram a vida do cantor sem citar o compositor cearense: “É impressionante a forma quase desrespeitosa como a memória de Clementino é tratada por grande parte dos biógrafos de Luiz Gonzaga”. Por outro lado, ele ressalta o trabalho de uma sobrinha de Clementino, a professora Ana Emília, fundamental na catalogação da obra do tio, que dizia desconhecer a quantidade de músicas que havia escrito. “Muitas vezes, a professora teve que recorrer a Zé Clementino para saber o que significava determinada palavra, verso, uma vez que o áudio estava praticamente incompreensível”, narra Jurani. Ana Emília, ao final do trabalho, conseguiu quantificar as músicas de Clementino, gravadas por Gonzaga (Sou do banco, O jumento é nosso irmão) e outros grandes artistas nordestinos como Sirano, Dominguinhos, Trio Nordestino, Messias Holanda e Genival Lacerda.

No fim do livro, o autor reproduz os discos de Gonzaga que incluem músicas de Clementino, entre eles Óia eu aqui de novo, O sanfoneiro do povo de Deus, Sertão 70 e Capim novo, e ainda contabiliza: “Até março de 2005, foram gravadas 41 músicas, que somadas as 20 regravações, totalizam 61 interpretações, distribuídas entre 32 intérpretes do cancioneiro popular a nível nacional e regional”. Zé Clementino: o ‘matuto’ que devolveu o trono ao Rei é um livro indicado não só para pesquisadores da música brasileira, mas para aqueles que desejam conhecer mais sobre a vida e obra do autor de versos que até hoje habitam a memória do povo nordestino. 

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Zé Clementino: O ‘matuto’ que devolveu o trono ao Rei
. De Jurani Clementino
. Latus Editora e Editora da Universidade Estadual da Paraíba, 240 páginas. Encomendas pelo telefone (83) 3315-3300.

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