Palavrão - Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 30/11/2013
Ato ou efeito de
disputar, confrontação verbal em que cada lado defende com argumentos
seus pontos de vista, discussão, debate, polêmica – o substantivo
feminino “disputa”, em nosso idioma desde 1513, não serve para o
fenômeno sobre o qual pretendo falar neste belo suelto, mas veio à baila
para me permitir a transcrição de uma frase que se dizia antigamente e
hoje, entre aspas, não encontro no Google – quem disputa diz palavrão. O
buscador informa: No results found for “quem disputa diz palavrão”. O
fenômeno, observado em cavalheiros de certa idade, seria divertido se
não envolvesse medicamentos, cirurgias e doenças, assuntos chatíssimos.
Consiste em fazer pouco das enfermidades alheias ao reivindicar a glória
idiota de ter passado por situação muito pior. Se o cavalheiro emerge
de uma cirurgia com três pontes de safena, não faltam “amigos” que
trocem das três porque têm quatro ou cinco pontes. Caçoar, zombar de,
escarnecer, ridicularizar – o verbo troçar, de etimologia obscura, fez
que o philosopho escrevesse “trocem” pela primeira vez nos últimos 50
anos. Troço do meu pobre texto sem esquecer que troço /ó/ é
palavra-ônibus usada no Brasil em lugar de qualquer fato ou objeto,
enquanto troço /ô/, que tem por aqui uma porção de significados, em
Portugal é muito usado quando se fala de um trecho de estrada: “O troço
de asfalto entre Bocaiúva e Montes Claros, mesmo sem chuva, é muito
derrapante”.
Novidades
Durante
séculos, Juiz de Fora foi das cidades mais tranquilas do Brasil. Tinha
polícia e poucas entradas: hoje, tem direitos humanos, estatutos
protegendo a bandidagem infanto-juvenil, polícia tolhida e uma porção de
entradas com as respectivas saídas ou rotas de fuga. Pausa para falar
da polícia. Este acampamento que tem hino, bandeira e constituição
cidadã precisa acabar com a besteira de prender PMs que, eventualmente,
matem cidadãos. PMs nunca foram madres Teresas de Calcutá, mas cidadãos
brasileiros armados pela sociedade para defendê-la, ganhando uma tuta e
meia, o que significa dizer pouco mais que os professores, que ganham
meia tuta. Não me refiro aos PMs bandidos, que existem, assim como
existe a bandidagem no magistério, na imprensa e até nas mais altas
cortes da Justiça, pasme o leitor. Refiro-me à esmagadora maioria dos
policiais militares. Se um deles mata um sujeito, de maior ou de menor,
têm razão em 99,9% dos casos. Sem ser deputado federal, fiquei tiririca
quando um primeiro sargento, que vi nascer, ficou preso 24 horas no
quartel só porque matou um bandido.
Volto a Juiz de Fora para
constatar que as novidades paulistanas estão chegando por aqui. Dois
arrastões em restaurantes no bairro em que se esconde o philosopho.
Cavalheiros armados de escopetas limparam os caixas e os fregueses que
acabavam de jantar num restaurante e numa pizzaria. Nostradamus modernos
estão dispensados de prever a chegada dos arrastões cariocas e
paulistanos a Belo Horizonte, se é que já não chegaram.
Contas malfeitas
Recebi
e-mail de um leitor residente em estado litorâneo horrorizado com a
indicação para conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de um
deputado duas vezes condenado, em primeira e segunda instâncias, por
malfeitos gravíssimos. Isso na tarde de uma terça-feira em que havia
pensado comentar, enquanto philosopho, os malfeitos de muitos fiscais da
prefeitura de São Paulo e as declarações de um conselheiro do Tribunal
de Contas do Município de São Paulo (TCM-SP). Durante anos brinquei na
imprensa diária sobre o meu desejo de ser nomeado ministro do Tribunal
de Contas da União (TCU). Minha mãe acreditava piamente na brincadeira e
na possibilidade de nomeação do filhinho. Mais grave que isso: um
conselheiro de tribunal estadual me disse: “Se você quer ser
conselheiro, vou explicar como deve proceder”. Estávamos ligeiramente
trêbados, o conselheiro e o philosopho. Ainda assim, quase morri de rir.
Toda generalização é perigosa. Conheci conselheiros do TC-MG ilustres,
ilustríssimos, o que não quer dizer que todos tenham sido. Um deles, de
tão analfabeto, errava regências e concordâncias em discursos lidos.
Nada mais divertido que ouvir um discurso lido pelo presidente da Corte.
Presumo que noutros tribunais a situação seja muito pior do que a
mineira. Alfim e ao cabo, os políticos mineiros sempre foram melhores
que a média nacional.
O mundo é uma bola
30
de novembro de 1783: fim da guerra da independência dos Estados Unidos
com a assinatura, em Paris, de um tratado entre a Grã-Bretanha e os
revolucionários norte-americanos. Em 1803, fim da administração francesa
no território da Louisiana. Passei lá dois meses, quando tinha 18
aninhos, tentando aprender inglês. A pronúncia era ótima, tanto assim
que o professor sempre fazia para o jovem philosopho aquele sinal que
junta o indicador ao polegar formando um círculo, que por lá é elogio,
enquanto por aqui é ofensa, ou era, considerando que as coisas tomam
novos rumos. Em 1807, o Exército francês, comandado pelo general Junot,
ocupa Lisboa e assume a presidência do conselho de governo. Hoje é o Dia
do Estatuto da Terra, do Teólogo, do Síndico e o Dia Nacional
Evangélico.
Ruminanças
“Quem não carrega dentro de si a infância, até o último minuto de vida, está perdido.” (Pedro Rogério Moreira)
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