domingo, 10 de novembro de 2013

Eduardo Almeida Reis » Delatores‏

Sempre desconfiei daquela onda patriótica de delatores dos Estados Unidos, país cheio de defeitos, ainda assim bem melhor que a Venezuela, Cuba e a Coreia do Norte



Eduardo Almeida Reis


Estado de Minas: 10/11/2013 






Detesto delatores. Com 10 aninhos fui expulso de um colégio de padres para não delatar um colega de sala, autor da brincadeira. Talvez 40 meninos na sala de aula, quando um colega lá da frente cortou aquele pompom da ponta de uma cordinha, que os padres enrolavam na cintura da negra batina.

O gordo padre Agostinho dava aulas andando entre as carteiras. Quando percebeu o corte do seu pompom, a bola de fios de lã ou seda, que vinha sendo repassada pelos colegas, estava em cima da minha carteira. Expulso, fiz admissão, ginásio e científico no colégio de um casal de professores mineiros, gente nascida para o magistério. Não era o melhor colégio do Rio, mas a minha turma do 3º científico, de poucos alunos, produziu duas embaixadoras, um embaixador, um maestro, um astrônomo e um avicultor, mais tarde transformado em tirador de leite. E um presidente da Academia Brasileira de Letras.

Sempre desconfiei daquela onda patriótica de delatores dos Estados Unidos, país cheio de defeitos, ainda assim bem melhor que a Venezuela, Cuba e a Coreia do Norte. Agora, vejo que os denunciantes prestam desserviço à causa gay. O jornalista americano, que fornece material para o britânico The Guardian, vive no Rio casado com um rapaz de ótima família.

O soldado Bradley Manning, que repassou milhares de documentos para o WikiLeaks, distribui fotos suas vestido de mulher com bela peruca loura e lábios pintados de vermelho-vivo. O Assange, do WikiLeaks, é acusado de estupro: não em Nova Iguaçu, mas na Suécia. Estupro é crime tanto na Suécia como em Nova Iguaçu, mas em BH vem sendo tolerado, que o diga o doutor Pedro Meyer Ferreira Guimarães, que vai muito bem, obrigado.

Edward Joseph Snowden, que conseguiu asilo na Rússia, também não é flor que se cheire. Basta ver suas fotos, com aquela carinha de anjo, para desconfiar de que ali tem coisa. Um sujeito normal não trocaria o Havaí e uma bailarina de shows eróticos pelo frio de Moscou. Deles todos, o único que tem futuro risonho é o Manning, já condenado a 30 anos de cadeia, onde fará sucesso com a peruca loura e os lábios pintados de vermelho.


Depoimento I
Caro Philosopho. Há quase um mês você fez uma pergunta retórica que bateu nas redes da minha alma: “O que é exatamente o alcoolismo?”. Tentei responder na bucha, mas o assunto me exalta de tal modo que precisei esperar para, pelo menos, tentar ser objetivo e sucinto. Minha admiração por Vossa Excelência cresceu ainda mais quando, em vez de já lançar palavras deturpadas a respeito desta doença reconhecida pela Organização Mundial de Saúde, o caro Escriba joga a questão no ar para seus milhares de admiradores, com a humildade dos fortes e sábios. Vou tentar.

Experiências com ratos: centenas de animais foram deixados só com bebida alcoólica por dias. É sabido que o álcool é fonte de calorias, embora nada saudável. Ao se darem conta de que não haveria comida, todos beberam e se embebedaram. Após certo tempo, os cientistas lhes ofereceram comida e álcool. Pois bem; 90% dos ratos passaram a optar exclusivamente pela comida, enquanto 10% a ignoraram e enxugaram a cachaça até morrer de falência múltipla dos órgãos.

Ou seja, nada de “psicológico”: ratos são ratos. Esses 10% são os mesmos que entre nós, humanos, têm uma combinação genética que os torna dependentes físicos da bebida alcoólica. Têm uma resistência enorme ao álcool e, progressivamente, ao longo dos anos, vão aumentando a quantidade ingerida, os “dias de beber”, até chegar ao ponto de, praticamente, não se alimentarem e viverem só do álcool, num nível em que o organismo não aguenta. Fazem parte da patologia as “desculpas” para eles próprios e terceiros: “Bebo porque perdi o emprego/minha mulher me largou/minha mulher não me largou”. Nota: a carta do leitor, que não conheço pessoalmente, tem 1.510 palavras, que reduzi para 650. Amanhã teremos o final.

O mundo é uma bola
10 de novembro: faltam 51 dias para acabar o ano. Em 1619, René Descartes teria tido uma visão em sonho de um novo sistema matemático e científico. No ano de 1871, em Ujiji, atual Tanzânia, o repórter Henry Stanley encontra o explorador David Livingstone e faz aquela que deve ter sido a pergunta mais idiota da história: “Doctor Livingstone, I presume?”. Alguns muitos repórteres fazem perguntas idiotas, sobretudo entrevistando os treinadores, perdão, professores, depois dos jogos de futebol, mas essa de Stanley levou a palma.

Em 1928 começa a circular a revista O Cruzeiro. Em 1937, instauração no Brasil do Estado Novo: veja a ruminança de hoje. Em 1945, fundação do Partido Libertador. Em 1955, fundação da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, fato que a Wikipédia julga importantíssimo, tanto assim que o anotou.

Em 2006, com 160.398 sócios, o Sport Lisboa e Benfica entrou para o Guinness dos recordes. Resta saber se o clube também conta com torcidas organizadas que se cospem, como as de Cruzeiro.
Hoje é o Dia do Trigo.

Ruminanças
“A metade de meus homens de governo não é capaz de nada e a outra metade é capaz de tudo.” (Getúlio Vargas, 1883–1954)

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