Zero Hora - 10/11/2013
Feliz aniversário!
Foi só ela ouvir o cumprimento e virou o rosto como se estivesse
sendo agredida. “Não repita isso de novo. Não sei o que há de feliz em
ficar mais velha”.
Respondi: “Você diz isso porque está fazendo 34 anos. Quando fizer 52, vai sentir vontade de pendurar balões pela casa”.
Ela desvirou o rosto e voltou a me encarar como se eu estivesse
tendo algum surto de insanidade. Exatamente como aquelas expressões que
ilustram a coluna da Mariana Kalil aqui no Donna, com um baloon escrito
“HÃ?”.
Só quem atravessa ao menos cinco décadas de vida pode entender a bênção que é entrar na segunda juventude.
Claro que antes é preciso passar pelo purgatório. Poucos chegam aos
50 anos sem fazer uma profunda reflexão sobre a finitude, e dá um frio
na barriga, claro. Amedronta principalmente quem ainda não fez nem
metade do que gostaria de já ter feito a essa altura. Será que vai dar
tempo?
Passado o susto, a resposta: vai. E se não der, não tem problema.
Você não precisa morrer colecionando vontades não realizadas. Troque de
vontades e siga em frente sem ruminar arrependimentos. Você finalmente
atingiu o apogeu da sua juventude: é livre como nunca foi antes.
Sendo assim, não passe mais nem um dia ao lado de alguém que lhe
esnoba, lhe provoca ou que não se importa com seus sentimentos. Pare de
inventar razões para manter seus infortúnios, você já fez sacrifícios
suficientes, agora se permita um caminho mais fácil. Se ainda dá trela a
fantasmas, se ainda pensa em vingançazinhas ordinárias, se ainda não
perdoou seus pais e seu passado, se ainda perde tempo com vaidades e
ambições desmedidas, se ainda está preocupado com o que os outros pensam
sobre você, está pedindo: logo, logo vai virar um caco.
Para alcançar e merecer a segunda juventude, é preciso se desapegar
de todas aquelas preocupações que existiam na primeira. Quando essa
Juventude Parte 2 terminar, não virá a Juventude Parte 3, mas o fim.
Então, esta é a última e deliciosa oportunidade de abandonar os
rancores, não perder mais tempo com besteiras e dar adeus à arrogância, à
petulância, à agressividade, ou seja, adeus às armas, aquelas que você
usava para se defender contra inimigos imaginários. Agora ninguém mais
lhe ataca, só o tempo – em vez de brigar contra ele, alie-se a ele, tome
o tempo todo para si.
Eu sei que você teve problemas, e talvez ainda tenha – muitos. Eu
também tive, talvez não tão graves, depende da perspectiva que se olha.
Mas isso não pode nos impedir a graça de sermos joviais como nunca fomos
antes. Lembra quando você dizia que só gostaria de voltar à
adolescência se pudesse ter a cabeça que tem hoje? Praticamente está
acontecendo.
Essa é a diferença que tem que ser comemorada. Na primeira juventude, tudo vai acontecer. Na segunda, está acontecendo.
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