domingo, 10 de novembro de 2013

Três não é demais

Grupo de casais mineiros contraria a tendência de queda na taxa de fecundidade no estado e no país e forma famílias com três ou mais crianças, como era comum no passado


Patricia Giudice

Estado de Minas: 10/11/2013 


O casal Fabiane e Paulo Henrique com os filhos Mateus, Lara e Paula: os pais, que sempre sonharam ter três crianças, dividem as tarefas para dar conta do recado. %u201CEle (o pai) faz tudo que eu também faço%u201D, diz a mãe (Juarez Rodrigues/EM/D.A Press  )
O casal Fabiane e Paulo Henrique com os filhos Mateus, Lara e Paula: os pais, que sempre sonharam ter três crianças, dividem as tarefas para dar conta do recado. %u201CEle (o pai) faz tudo que eu também faço%u201D, diz a mãe


O primeiro filho nasce, esperado e planejado. O ritmo de vida muda, os gastos aumentam e o casal não está mais sozinho. Logo vem a dúvida: aumentar ou não a família? Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no Censo 2010, indicam que, nos últimos anos, a maioria dos pais para por aí e fica com apenas um. Outra parte importante arrisca, no máximo, ter um segundo filho para fazer companhia ao primogênito. Mas há quem contrarie a regra. Na contramão da queda da taxa de fecundidade no país, um grupo de casais mostra que, com planejamento, é possível formar famílias numerosas como no passado, com três ou mais crianças.

As estatísticas mostram que ter muitos filhos deixou de ser tendência. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, havia em Minas Gerais 230 mulheres a cada grupo de mil com apenas um filho e 250 com dois na idade entre 30 e 34 anos. No mesmo grupo, eram apenas 93 por mil com três filhos nessa idade. Diante disso, a taxa de fecundidade no Brasil chegou a 1,90 filhos por mulher em 2010 e Minas já estava abaixo da média nacional, com 1,77. Os números ainda indicam que, na Região Sudeste, a época em que a taxa de fecundidade apontava para famílias com três crianças era a década de 1980, com 3,45 filhos por mulher. A partir da década seguinte os índices começaram a diminuir gradativamente.


Para muitos casais, porém, ter a casa cheia de crianças ainda é projeto de vida. Três filhos, eles dizem, não são demais – há quem ache até pouco. O engenheiro e professor universitário Ion Willer dos Santos, de 49 anos, pensa assim. Ele se casou com a pedagoga Marília França de Sousa, de 46, em 1995, depois de quatro anos de namoro. Quando falavam do futuro, da família que queriam ter, nem cogitavam ter menos de três crianças e planejaram tudo. Primeiro veio Vitor, hoje com 15 anos. Dois anos depois chegou Pedro, de 13, e após três anos nasceu Jade, agora com 10. Marília até pensou que pararia por aí, mas, numa reunião com amigos e diante de repetidos sonhos com um bebê, decidiu aumentar a prole. Rapidamente ela engravidou de Luca, hoje com 5 anos.


A família está completa, mas Ion ainda quer mais dois. Para dar conta dos quatro, o casal põe tudo na ponta do lápis. O mesmo planejamento que tiveram para tê-los aplicam agora nos gastos. Cada um tem uma agenda coordenada pela mãe, com descrições sobre as atividades. Os filhos estudam em escola particular e fazem cursos extras. Quando querem fazer uma viagem ou comprar algum bem, fazem os cálculos juntos para analisar se será necessário fazer algum corte no orçamento. “Vivemos bem com simplicidade e ensinamos isso a eles. Não queremos ter muito, preferimos ser mais e isso é importante para sermos pais”, diz Ion. O casal conta com a ajuda de uma funcionária em casa, que é considerada a quinta filha. Remanejaram também os horários no trabalho para sempre estar com as crianças. “Priorizamos a família, esse foi o nosso foco. Agora,  trabalho num período e ele em outro para estarmos mais em casa com eles”, conta Marília.

OBJETIVO A médica Fabiane Dias Lopes, de 40, e o publicitário Paulo Henrique Leal Soares, de 41, já ouviram dos colegas inúmeras vezes que são loucos. Mas não consideram loucura, apenas um objetivo. “Foi uma decisão mesmo, sempre quisemos ter três filhos”, disse. Quando tinham cinco anos de casados, o desafio começou. Paula nasceu em 2004, três anos depois chegou Mateus e, quando ele estava prestes a fazer 1 ano, veio Lara. Para Fabiane, o principal para dar conta do recado é ter a ajuda do marido para tudo. “Fazemos tudo juntos para dar certo, ele me ajuda demais. Nós dois trabalhamos fora e, dentro de casa, é um conjunto, ele faz tudo que eu também faço”, afirma.
A condição financeira pesa na hora de tomar a decisão de ter casa cheia. Desde que as crianças nasceram, Fabiane e Paulo contrataram empregada doméstica, babá e, até o semestre passado, tinham uma faxineira. E, antes, segundo ela, já tinham uma condição que permitia a chegada de mais filhos, por isso houve a escolha. A estrutura ainda permitiu que a médica retornasse ao trabalho um tempo depois do nascimento dos filhos.

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Para a psicopedagoga Jane Patrícia Haddad, o que se percebe é um envolvimento maior dos pais quando é uma decisão comum ter muitos filhos. “Não vejo dificuldade em ter dois, três ou quatro, depende da dinâmica da família”, avalia. “Muitas vezes, quem tem vários filhos consegue administrar melhor do que quem tem apenas um. Muitos filhos não significa necessariamente aumento de problema”, acrescenta. A dica da especialista é que o casal planeje, principalmente financeiramente, e não tenha o filho para que a criança seja “tudo aquilo que o pai ou a mãe não foi”, alerta. “Não dê essa responsabilidade à criança. O filho vai construir sua própria caminhada”, diz Jane. Ter filhos, ela lembra, é sinônimo de muita dedicação, não é algo provisório e muitas vezes faz com que pais tenham de abrir mão de projetos pessoais.


Planejar para criar bem

Especialista alerta para despesas altas em famílias com muitas crianças e dá dicas para gastar melhor. Ter filhos com intervalo menor de tempo ajuda a economizar
Patricia Giudice
Publicação: 10/11/2013 04:00

 (Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)

Criar filhos tem preço e especialistas alertam que planejamento econômico ajuda casais que pretendem ter muitas crianças. O consultor de finanças pessoais Mauro Calil calcula que um filho em uma família de classe média alta pode “custar” até R$ 2 milhões do nascimento aos 18 anos, incluídas despesas com escola particular, plano de saúde, cursos extras de línguas ou esportes, entre outras. Mesmo em famílias com rendimento um pouco menor, dificilmente o valor será inferior a R$ 200 mil, considerando despesas com educação e saúde privadas. Calil lembra, porém, que há formas de economizar ou gastar melhor.

A principal dica dada pelo educador financeiro para quem planeja ter muitos filhos é tê-los em um intervalo pequeno de tempo, no máximo três anos. Assim, eles podem dividir roupas, brinquedos, cadeirinhas do carro e até ser cuidados pela mesma babá. “Isso nem sempre é possível, mas é importante pelo menos otimizar os custos”, afirma. Ele sugere que os pais avaliem a necessidade de uma atividade antes de matricular o filho. Ou seja, não adianta querer colocar a filha no balé se ela não gosta tanto. “Às vezes, o que a criança quer e precisa naquele momento é brincar mais no prédio. É preciso analisar o motivo daquela atividade, se é pela disciplina, educação, pelo físico”, disse. Ele dá outro exemplo: “Analise se é melhor colocar no inglês ou mudar a escola para bilíngue, por exemplo. O benefício pode ser maior”, diz.

No caso da pedagoga Marta Nogueira e do engenheiro Marcos Vinícius, pais de João Marcos, de 10 anos, Pedro Augusto, de 6, e Felipe, de 1, o que mais pesa no orçamento é a escola – são R$ 1,6 mil de mensalidade para os dois mais velhos. Nada, porém, comparada à alegria de criar os filhos. “Hoje me sinto privilegiada de poder acompanhá-los de perto”, diz Marta. Mesmo com muitas pós-graduações, ela decidiu parar e se dedicar à família quando o segundo filho nasceu.

Mudar de casa também foi necessário. Marcos e Marta saíram de um apartamento menor no Bairro Santa Mônica, Região da Pampulha, para um maior no Bairro Serra, na Região Centro-Sul. O terceiro filho veio e eles novamente se sentiram apertados. No mesmo prédio, foram para a cobertura e agora têm uma área para as crianças. Como são três meninos futuramente, eles planejam aumentar um quarto para caber todos eles juntos. Hoje, apenas o bebê está separado dos irmãos. “Não dá para criar três filhos isolados, queremos que eles brinquem juntos, joguem juntos, durmam perto, sejam unidos”, disse Marta.

SURPRESA E quando o terceiro vem de repente? Foi o que aconteceu com a contadora Ana Carolina, de 27, e o marido Bruno, de 28. Durante o namoro, ela engravidou e teve os gêmeos Davi e Isadora, hoje com 6 anos. Meses depois já carregava Sofia, de 5, na barriga. “Foi um susto, mas hoje vemos que não é impossível criar três filhos”, diz. A vida sofreu mudanças. Ana estava na faculdade e projetava se dedicar à vida profissional antes de ser mãe. Não deu tempo. Já entrou no mercado de trabalho tendo que se dividir entre o escritório de contabilidade próprio e os filhos. “Ainda ouço comentários antigos como ‘vocês não têm televisão em casa não?’”, contou. Novos, eles apostam que vão aproveitar para viajar juntos e realizar alguns sonhos no futuro. “Tudo tem seu tempo, cada um tem uma forma de aproveitar a vida. A nossa agora é com as nossas crianças.”

Lídia Amaral Lopes, de 40, professora de ioga, é casada com o engenheiro mecânico aeronáutico Érico Antônio Teixeira, de 45. Eles queriam muito ter um terceiro filho, mas faziam as contas e avaliavam que ainda não era a hora certa. Melissa, de 1, não quis esperar a decisão dos pais e chegou de surpresa. Para ela, a escola é o que mais influencia no orçamento da família, por isso o planejamento agora é que a pequena comece a estudar em 2015. “Pensamos que não vai dar nem no que vem, vamos deixar para o outro ano para equilibrar as contas”, afirma. Para ajudar com os três, eles agora assinam a carteira de uma ajudante, despesa que não existia quando eram Ravi, de 7, e Teo, de 5. “Hoje, se não tiver condição financeira, tem que ter é coragem mesmo. É um ritmo frenético, mas muito recompensador”, resume Lídia.

Família grande ‘na moda’
Há artistas e modelos que declararam recentemente ter planos para formar famílias com muitos filhos

» Luana Piovani
Casada com o surfista Pedro Scooby, a atriz disse na semana passada que quer aumentar a família já em 2014 e que o casal planeja ter três crianças. Eles são pais de Dom, de 1 ano.

» Gisele Bündchen
Mãe de Vivian e Benjamim, a top model casada com o jogador de futebol americano Tom Brady disse que vai esperar um pouco para ter o próximo, mas reafirmou que quer ter quatro filhos.

» Fernanda Tavares
A modelo voltou às passarelas na semana passada após licença-maternidade. Ela teve Artur, o segundo filho com o ator Murilo Rosa. O casal já afirmou que pretende ter um terceiro filho. 

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