Nos bailes da vida
Roupa Nova ganha biografia coletiva escrita por Vanessa Oliveira. Jornalista contou com a colaboração dos artistas
Ana Clara Brant
Estado de Minas: 29/12/2013
Com vendas na casa dos milhões, o Roupa Nova mantém a formação há 33 anos |
Quem gosta de ouvir Roupa Nova vai adorar ler sobre o Roupa Nova. E mesmo quem não é fã da banda, que já tem três décadas de estrada, vai se deleitar com a biografia do grupo, que acaba de ser lançada pela Editora Record. Tudo de novo, mais do que contar a história do sexteto formado por Nando, Kiko, Feghali, Cleberson, Serginho e Paulinho, é um projeto de vida da jornalista e escritora mineira, radicada no Rio, Vanessa Oliveira.
Insatisfeita com o rumo de sua vida profissional, ela decidiu jogar tudo para o alto e investiu dois anos em seu grande sonho. “Sempre gostei de escrever sobre música e comecei a procurar alguma coisa que tivesse a ver comigo. Sou fã do Roupa Nova desde criança e vi que não tinha nada no mercado sobre eles. Era a minha chance, foi uma grande virada e um resgate”, conta.
Antes mesmo de ter a autorização da banda, Vanessa já tinha iniciado a empreitada. Chegou a entrevistar 30 pessoas ligadas ao Roupa, pesquisou em jornais, revistas e internet. E foi com a cara e a coragem mostrar aos prováveis biografados o que tinha produzido. A jornalista lembra que os amigos chegaram a considerá-la maluca. “Várias pessoas falaram: ‘Meu Deus, mas você escolheu um grupo de seis pessoas? Vai dar trabalho demais. E se nem todos eles toparem?’. Mas quando mostrei o primeiro capítulo, o grupo viu a seriedade da minha proposta e o quanto estava empenhada em fazer aquilo. Já tinha colocado na cabeça. Ia fazer de qualquer jeito, com ou sem a participação do Roupa Nova. Que bom que eles aceitaram”, recorda.
Eles não só entraram de cabeça como abriram o coração para a autora. Depois de reunir mais de 100 horas de entrevistas em áudio, 40 livros de referência e muitos discos, Vanessa conseguiu apresentar toda a trajetória dos artistas, seja no campo da música ou mesmo no aspecto pessoal. A obra, com 540 páginas, mostra também um rico panorama da música brasileira nas últimas décadas, contando casos de bastidores de bailes, turnês, festivais e programas de rádio. “Conto a trajetória de cada um. E o bacana é que não tive censura nenhuma. Eles foram muito generosos e encararam suas histórias. Consegui fazer uma biografia autorizada, mas não é chapa-branca. Conto as histórias boas e ruins da carreira”, frisa.
“E por que só agora?”, questiona o compositor Ronaldo Bastos na orelha do livro. Vanessa Oliveira acredita que o fato de uma biografia demandar muito tempo, pesquisa e privações pode ser uma das explicações. E escrever sobre música pop, principalmente sobre uma banda popular, não é uma tarefa fácil no Brasil.
“A música pop não tem tanto respeito de pesquisadores para virar livro. É muito ignorada nesse sentido. E no caso de um grupo como o Roupa Nova, acho que tem até um preconceito. Tem quem torça o nariz. E eu passei por cima de tudo isso porque respeito esses músicos, que venderam milhões de discos, têm 33 anos de carreira e mereciam ter suas histórias reveladas. Sem falar que queria mostrar sua importância dentro da música brasileira e propor novas reflexões”, analisa
Apesar de ter ficado sem salário durante um bom tempo e ter se dedicado exclusivamente ao projeto, Vanessa não se arrepende e já quer até produzir uma próxima biografia, mesmo com toda a polêmica em torno do assunto. A escritora não tem dúvidas de que foi o trabalho que ela mais gostou de fazer e a boa repercussão da crítica, dos fãs e, claro, dos próprios artistas, ainda lhe deu uma satisfação maior. “Olho para o livro e me sinto orgulhosa e extremamente feliz. Foi a melhor coisa que fiz na vida. Biografia, antes de qualquer coisa, é uma homenagem, e daqui a 50, 100 anos, esse registro e tributo estará aí”, celebra.
Tudo de novo – Biografia oficial do Roupa Nova
De Vanessa Oliveira
Editora Record, 540 páginas, R$ 50
Pacote
Com 33 anos de estrada, o grupo está lançando o box comemorativo Roupa Nova Music, que reúne os cinco últimos DVDs. Entre os projetos incluídos na edição especial estão RoupAcústico, RoupAcústico2, Roupa Nova em Londres, Roupa Nova 30 anos e Cruzeiro Roupa Nova. Além disso, os fãs poderão curtir um EP com seis músicas inéditas.
Três perguntas para...
Ricardo Feghali
tecladista do roupa nova
Como vocês receberam inicialmente essa proposta do livro?
Temos sido procurados por vários escritores ao longo dos anos, conhecidos ou não. E até nós mesmo já quisemos escrever a nossa história. Mas é difícil ter tempo, conciliar agenda. Quando a Vanessa nos procurou, no começo a gente se assustou um pouco (risos). Mas gostamos da iniciativa dela, vimos que ela tinha corrido atrás, pesquisado e estava realmente interessada em fazer uma coisa verdadeira. Por isso decidimos contribuir para que saísse da forma mais correta. A iniciativa dela foi que nos impressionou, como ela estava engajada naquele projeto.
E o que você e o grupo acharam do resultado?
Li o livro todo antes. Corrigi algumas informações que achava que não estavam certas e a Vanessa sempre se mostrou aberta. Ela contou as histórias individuais de uma maneira tão poética e bonita e era importante que tivesse a nossa participação, nossos depoimentos, porque ela jamais saberia de alguma coisa particular se a gente não estivesse presente. Estamos curtindo muito. Todos aprovaram. Só o Serginho (bateria e voz), que é mais reservado, ficou um pouco grilado no começo. Ele sempre foi uma pessoa que gostou de preservar sua vida e o público tem que entender e respeitar isso. Mas todos nós gostamos muito do resultado de uma maneira geral.
E teve alguma coisa ou alguma história que você se surpreendeu ao ler a biografia depois de pronta?
Não, de jeito nenhum (risos). Eu sei de tudo. O Roupa Nova é a minha vida. Sempre fui muito ligado a tudo que acontecia. A não ser alguma coisa muito particular, até porque sempre tivemos muito respeito um pelo outro e ninguém fica entrando na vida privada do outro. Mas, de maneira geral, já conhecia tudo que está ali.
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