sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

TeVê

Estado de Minas: 31/01/2014

TV paga



 (Ursula Coyote/AMC)

Fim de papo


Depois de uma longa jornada que durou cinco anos, chega ao fim hoje a premiada série Breaking bad. O canal AXN exibe o capítulo final duplo às 22h, selando o destino de Walter White, um professor de química que começou a fabricar metanfetamina depois de descobrir que estava com câncer e assim, com o dinheiro das drogas, garantir a segurança da mulher e dos filhos. O personagem foi interpretado de forma marcante pelo ator Bryan Cranston (foto), acompanhado de perto por Aaron Paul, que fez o papel de Jesse Pinkman, o drogado que foi aluno e virou assistente do mestre.

Ação, drama e humor  no pacotão de cinema


Na programação de filmes, um dos destaques é o suspense Eleição – O submundo do poder, do chinês Johnnie To, às 22h, na Mostra Internacional de Cinema na Cultura. No FX, hoje tem sessão triplex, com Quando um estranho chama (18h45), O chamado (20h15) e O chamado 2 (22h30). No Telecine Premium, às 22h, estreia Alvo duplo, com Sylvester Stallone. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais seis opções: A festa da menina morta, no Canal Brasil; Mais um ano, no Max; Senhores do crime, no Max Prime; O exorcismo de Emily Rose, no Sony; Assassinos de aluguel, no Telecine Action; e Fora de controle, no Universal. Outras atrações: Te amarei para sempre, às 20h40, na TNT; Lola, às 21h30, no Arte 1; e E aí, comeu?, às 22h30, no Megapix.

Contraplano debate  hoje a era do híbrido


Ainda falando de cinema, o programa Contraplano, às 22h, no SescTV, promove hoje um debate sobre “A era do híbrido”, com a participação do professor de Filosofia Celso Favaretto e do poeta e tradutor Geraldo Carneiro. Para esquentar o bate-papo são exibidos trechos de filmes relacionados ao tema: Juízo (2007), de Maria Augusta Ramos; Jogo de cena (2007), de Eduardo Coutinho; Morro do Céu (2009), de Gustavo Spolidoro; e O céu sobre os ombros (2011), de Sérgio Borges.

Canal Curta! emenda dois documentários


No canal Curta!, dois documentários mostram a força do gênero no Brasil. Para começar, às 21h20, será exibido o filme Hércules 56, dirigido por Sílvio Da-Rin, que discute a luta armada com alguns dos sobreviventes das organizações de extrema-esquerda que em setembro de 1969 sequestraram o embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick para trocá-lo por presos políticos. Às 23h, é a vez de Um passaporte húngaro, em que a diretora Sandra Kogut mostra a busca de uma cineasta brasileira pelo seu passado.

NX Zero participa do Coletivation da MTV


Para fechar a semana, às 20h, na MTV, o Coletivation recebe Di Ferrero e sua banda NX Zero para falar sobre o convite para tocar durante a Copa do Mundo. Já às 21h, o Multishow entra ao vivo mais uma vez, diretamente do Festival de Verão de Salvador, com as apresentações de Maria Gadú, Timbalada, Claudia Leitte e The Wailers.


CARAS & BOCAS » Na TV e na internet

Michelle Schlanger é a nova sereia surfando nas ondas do canal Off  (Guto Costa/Divulgação )
Michelle Schlanger é a nova sereia surfando nas ondas do canal Off

A partir de hoje, os internautas vão poder conferir no site do canal Off (www.canaloff.com) um ensaio exclusivo com Michelle Schlanger, a Off girl do mês de janeiro. A carioca de 20 anos surfa, anda de skate, pratica snowboard e wakeboard e joga futebol e futevôlei. Ela posou na Praia do Pepino, em São Conrado, e na Pedra Bonita, no Rio de Janeiro. Além das fotos, um perfil e um vídeo com o making of do ensaio também estarão disponíveis para os internautas. Inclusives das belas dos meses anteriores: Carol Guarnieri, Sofie Mentens, Emile Biason, Claudinha Gonçalves e Julia Ericson. Uma sugestão e tanto para um fim de semana de verão.

Globo mantém suspense no final de Amor à vida


A novela das nove chega ao fim hoje à noite na Globo sob vigilância e sigilo total. A direção da emissora fez de tudo para impedir o vazamento de informações sobre o último capítulo e até proibiu os atores do elenco de darem entrevistas à imprensa.

Em família começa com  um triângulo amoroso


O autor Manoel Carlos procura sempre fugir dos personagens estereotipados, ou seja, ninguém é totalmente vilão ou totalmente mocinho. Seus personagens são humanos, com defeitos e qualidades e assim será também na nova novela assinada por ele, Em família, que estreia segunda-feira, no lugar de Amor à vida, na Globo. Para seguir outra regra, a trama começa com dramas familiares. Neste caso é um triângulo amoroso entre os primos Helena e Laerte e Virgílio, que na juventude serão interpretados por Bruna Marquezine, Guilherme Leicam e Arthur Aguiar. Os três discutem o tempo todo e o ciúme de Laerte é doentio. Helena engravida e sua família praticamente a obriga a se casar com Laerte. Mas até o casamento tudo pode acontecer por causa da personalidade explosiva de Laerte.

Apelo sexual faz subir a  audiência do Big brother

Em sua 14ª edição, o Big brother Brasil vem até alcançando razoáveis índices de audiência, mas o nível continua bem rasteiro. Mesmo que apenas insinuado, o sexo rola solto, especialmente nas festas, com exageros etílicos e outros abusos mais comprometedores. Na última teve discussão entre Cássio e Ângela, que reagiu a uma apalpadela, e mais uma vez Vanessa e Clara provocaram os colegas de confinamento (e o público) com muitos amassos. Já na madrugada, Diego e Franciele faziam movimentos suspeitos embaixo dos edredons. É isso: nudez e beijo gay garantem o relativo sucesso do reality show da Globo.

Sarau faz um verdadeiro baile black na GloboNews

O Sarau abre hoje a temporada 2014 em ritmo de baile, ao som da black music. Chico Pinheiro recebe o ator e cantor Sérgio Loroza e o mestre Gerson King Combo, considerado o rei da soul music carioca, falando sobre o início da carreira. O papo rendeu tanto que acabou sendo dividido em duas partes, hoje e dia 7, às 23h30, na GloboNews.

Vale a pena  ver de novo


A faixa Globo cidadania continua reprisando as melhores reportagens produzidas no ano passado. Como vai ao ar muito cedo nas manhãs de sábado, na Globo, com reprises nos canais Futura e GloboNews, mais uma vez o melhor é antecipar as atrações de amanhã. O bloco Ecologia, por exemplo, vai mostrar que a carne brasileira tem o menor índice de colesterol do mundo por causa da prática do confinamento de gado. Outros assuntos são a prevenção do câncer de pele (Ciência), a adoção de metodologias alternativas no ensino público (Educação), o desempenho dos atletas brasileiros nas Olimpíadas Universitárias na Rússia (Universidade) e a cultura caiçara (Ação).

VIVA

O humorista Rafinha Bastos é mesmo uma figura. Prometeu mudar ao assinar contrato com a Bandeirantes para comandar o Agora é tarde e postou nas redes sociais uma foto em que aparece sem barba. Irreconhecível.

VAIA

Não dá para entender como a maioria dos canais pagos consegue definir e divulgar sua programação com até um mês de antecedência e muitas emissoras de sinal aberto não saibam nem o que vai ao ar no fim de semana.

Batucada de respeito - Walter Sebastião

Batucada de respeito 
 
Com letras de conteúdo e homenagem aos mestres do samba, Cesinha Pivetta lança o primeiro CD. Fã de Adoniran Barbosa, o jovem cantor e compositor é fruto da animada cena paulistana 


Walter Sebastião
Estado de Minas : 31/01/2014


O cantor e compositor Cesinha Pivetta afirma que Nossa bandeira é um disco político     (Marcos Hermes/divulgação)
O cantor e compositor Cesinha Pivetta afirma que Nossa bandeira é um disco político

O paulista Cesinha Pivetta, de 28 anos, chega ao primeiro disco depois de dedicar praticamente toda a sua vida ao samba. O CD Nossa bandeira traz composições dele e de parceiros – entre elas, Baquetas em pedaços (2003), composta na adolescência. Os mestres também comparecem: o repertório conta com Lamento de uma raça, composição inédita de Candeia e Waldir 59, de 87, sênior da ala de compositores da Portela.

“Nossa bandeira é a luta do povo por liberdade e igualdade. Ainda somos um país com muita discrepância social”, afirma Cezinha. “Arte e música, por si só, são transformadoras. Nesse sentido, esse é um disco político”, explica. O título remete também ao gosto do cantor de reunir pessoas, autores e trabalhos coletivos.

Assinada por Cesinha e pelo violonista Marron Santos, a produção teve um cuidado especial: buscar conteúdo. Essa atitude vai na contramão de letras que têm cada vez menos história para contar, de acordo com o artista. “Elas são praticamente onomatopeias”, lamenta. A dupla optou por um bandolim bem marcado. “O instrumento faz parte da nossa música. Precisamos popularizá-lo de modo que não se torne exclusividade dos eruditos”, defende Cesinha.

Nascido e criado na região da Bela Vista e do Bixiga, berço do samba paulistano, reduto de Adoniran Barbosa e da escola Vai Vai, Pivetta é filho da cantora e atriz Márcia Moraes e do dramaturgo César Vieira, criador do Teatro Popular União de Olho Vivo. Logo cedo ele já estava no palco interpretando o menino Adoniran Barbosa. “Aprendi tudo sobre ele e me encantei”, recorda. Batuqueiros amigos de seu pai, Mestre Pelão (“que fez o primeiro disco de Cartola”) e Plínio Marcos estimularam o gosto do menino pelo samba.

Cesinha Pivetta admira os compositores Adoniran Barbosa, Batatinha e Paulinho da Viola. O primeiro pela crônica da vida popular; o baiano pela beleza e melancolia das melodias; e o carioca por sua integridade e respeito ao ofício. “Paulinho da Viola é um gênio, tem samba na veia. Ele é quase a mistura de Noel Rosa e Cartola, se isso fosse possível”, brinca. Gravado ao vivo, Nossa bandeira traz Waldir 59 como convidado especial.

três perguntas para...

Cesinha Pivetta
cantor e compositor

Como vai o samba em São Paulo?
Temos dezenas de comunidades: Sambas da Vela, da Feira e do Bule; Toca do Samba; Batalhão da Vagabundagem; e Pagode da 27, entre outras. Todas estão nas mídias sociais. Mais que roda de samba, o encontro de centenas de pessoas, sem vaidade ou bairrismo, reverencia mestres e incentiva novos compositores, essenciais para dar identidade à produção paulista.

Como você avalia esse movimento?
Ele faz com que fãs de outros gêneros se interessem pelo samba, além de aguçar os mais jovens a conhecer mais o assunto. São alternativas de lazer e cultura a baixo custo e com muitas opões. Você encontra partideiros e autores em cada esquina de São Paulo. Luiz Carlos Micharia, por exemplo, é morador de rua e um baita compositor.

Quem já tem disco e merece ser ouvido com atenção?
Guilherme Lacerda, Emerson Urso, Adriana Moreira, Flávia Oliveira, Fabiana Cozza e Pagode da 27. Essa nova geração está batalhando, suando a camisa. A rapaziada traz várias vertentes: do samba-canção, gênero hoje pouco ouvido, ao samba de terreiro. É legal cultivarem o partido-alto, o verso de improviso feito no momento. O Eugênio Gudin nos dá alicerce. Ele tem um bar e abre espaço para nós tocarmos.

    

Carlos Herculano Lopes - O pequeno David‏

O pequeno David
Carlos Herculano Lopes - carloslopes.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 31/01/2014

Há poucos dias, numa viagem corrida, o homem e sua irmã, Laura, estiveram em São Paulo para visitar o pequeno David. Brasileirinho esperto, com pouco mais de um mês de vida, quase moreno e dono de lindos olhos castanhos escuros, vem a ser o primeiro filho dos sobrinhos Liza e Antônio. Este, paulistano da gema, tem velhas raízes fincadas em Minas, nas terras do Triângulo, de onde é a família da sua mãe.

No domingo pela manhã, dia de sol claro, com poucas nuvens no céu, saíram com o menino para uma volta pelas ruas de Higienópolis, bairro dos mais tradicionais da capital paulista, onde vivem, como o homem ficou sabendo, muitas famílias judias que ali se estabeleceram há anos. “Vamos tomar café num shopping aqui perto”, disse Ricardo, avô do David e que, com orgulho, ia empurrando o carrinho do neto.

Os olhos do garoto, como se descobrissem o mundo, do qual é um dos mais novos habitantes, passeavam curiosos observando tudo ao redor: as árvores centenárias, castanheiras, jacarandás, perobas e quaresmeiras que povoam as ruas do bairro; alguns casarões antigos, que ainda insistem em se manter de pé apesar da especulação imobiliária; e outras crianças que, como ele, eram levadas pelos seus.

Manhã das mais agradáveis, depois de vencer alguns quarteirões, que em São Paulo são chamados de quadras, finalmente chegaram ao shopping. O pequeno David, ainda não acostumado ao calor, a não ser o da sua mãe, que também participava do passeio junto com a vovó Adelaide e a tia Laura, estava suando. Pequenas gotas escorriam do seu rosto, que ia ficando rosado. Com certeza, devia estar com sede.

Numa mesa do Café Starbucks, lugar escolhido pelo Ricardo, que é cliente contumaz desde a mudança da família para o bairro, se estabeleceram. Ainda bem vazio àquela hora, pediram água mineral, pão de queijo e alguns bolos à menina do caixa, uma boliviana de nome Lizete. “Estou em São Paulo há sete anos, e sou de Cochabamba”, disse, ao ser perguntada de qual país tinha vindo. Junto a ela, outros dois atendentes: uma moça de origem chinesa e um rapaz nordestino, como perceberam pelo sotaque.

De repente, ao voltar à mesa, uma surpresa: bem próximo a eles, um tipo pequeno, usando chapéu de feltro, fazia anotações em uma caderneta. Ao olhá-lo com mais atenção, o homem não teve dúvidas, era o escritor Evandro Affonso Ferreira, amigo dos velhos tempos. Cumprimentaram-se, falaram da coincidência do encontro e ele, então, disse: “Foi aqui neste café, onde venho todos os dias, que praticamente escrevi meu último romance”. O livro em questão, vencedor do Prêmio Jabuti, é O mendigo que sabia de cor os adágios de Erasmo de Rotherdam, cuja leitura, desde já, está recomendada.

Alguns minutos depois, novamente na companhia de Ricardo, Adelaide, Liza e da tia Laura, o homem observou que o pequeno David estava com os olhos fechados e, dono de toda a inocência do mundo, dormia profundamente no conforto do carrinho, bem ao lado da mãe. Naquele mesmo dia, no fim da tarde, ele e sua irmã, cada vez mais encantados com o sobrinho, voltaram para Belo Horizonte. 

Eduardo Almeida Reis-Angústia‏

Angústia
 
Cada grupo de camelos do grão-vizir transportava os títulos que começavam com uma das 32 letras do alfabeto persa


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 31/01/2014

A pauta do Estúdio-i era angústia. Na filosofia de Kierkegaard, sentimento de ameaça impreciso e indeterminado inerente à condição humana, pelo fato de que o homem, ao projetar incessantemente o futuro, se defronta com possibilidade de fracasso, sofrimento e, no limite, a morte. Inquietação, estado de ansiedade, inquietude, sofrimento, tormento. Maria Beltrão disse que se angustia com problemas que terá de resolver daqui a cinco meses. Flávia Oliveira contou que há cinco anos, na véspera do primeiro Estúdio-i, teve uma dor de cabeça lancinante, foi ao médico, explicou que estava preocupada com sua estreia na GloboNews, tomou analgésico fortíssimo e hoje tira de letra seus programas de tevê. Cidadão normalmente alegre e de bem com a vida, fumando o primeiro charutinho da tarde, custei a admitir que também me angustio. Mas sou honesto com os leitores e me lembrei de algumas passagens que talvez se enquadrem nos estados de ansiedade, de inquietação. Minha reação é das mais originais: fico torto. Vou dormir na véspera e amanheço torto para só desentortar na hora do compromisso agendado.

Foi assim no dia em que combinei encontrar moça lindíssima, divorciada, mãe de dois filhos, às seis da tarde na porta do seu banco, isto é, do banco em que comandava uma plataforma de open. Morando em Juiz de Fora, amanheci torto e torto cheguei à porta do banco, na Avenida Rio Branco, Centro do Rio de Janeiro, depois de parar o carro no Terminal-Garagem Menezes Côrtes. Mandona como ela só, a bela surgiu na hora marcada, deu-me o beijinho regulamentar, perguntou onde estava o carro e disparou para o estacionamento seguida pelo torto. Escolheu o restaurante (caro) em Botafogo e os pratos que comeríamos, mas fiz questão de escolher o vinho para não ir à falência. Hoje, madurona, a bela aposentada namora sujeito muito famoso, do rol das celebridades brasileiras, que deu para dizer palavrões horrorosos e falar de sexo chulo assim que bota uma gota de álcool na boca, o que faz todas as noites. Resumindo: vive um quadro de obscenidade senil. De outra feita, quando andei num aperto dos diabos, recebi telefonema do Alfredo acenando com emprego pago em dólares. No dinheiro de hoje, seguros R$ 20 mil (cash) por mês, sem carteiras assinadas e recibos. Atividade honesta: procurar terras no Brasil para um grupo europeu. Entortei na hora e cheguei ao Rio tortíssimo para conhecer o patrão que fumava uma caixa de charutos cubanos por dia. Fumava uns 10 ou 12 charutos e distribuía o resto pelos circunstantes. Aí, já viu, né? Ficamos amigos de infância. Trabalhei para ele uma porção de anos.


Companhias
Um ano inteiro longe de Belo Horizonte e ainda não encontrei um bombeiro-eletricista competente, um técnico em informática, um marceneiro inteligente e honesto. Sei que devem existir por aqui, mas ainda não tive a sorte de os encontrar. Fosse rico, teria trazido Lili, Igor e Jésus, a exemplo de Abdur Kassem Ismael, grão-vizir na Pérsia no final do século 10, que viajava levando sua biblioteca de 117 mil livros sobre 400 camelos, que formavam caravana de dois quilômetros de comprimento. Lili, Igor e Jésus poderiam vir de carro, de ônibus ou de avião, que os camelos são raros em Minas, a não ser por derivação, em sentido figurado: indivíduo pouco inteligente, estúpido ou ignorante. Cada grupo de camelos do grão-vizir transportava os títulos que começavam com uma das 32 letras do alfabeto persa. Li e escrevi sobre biblioteca parecida, sem bem que mais modesta: era transportada em 170 camelos pelo Norte da África. Pertencia a um soba (governante, chefe) africano. Procurei meu texto no Google e não encontrei, daí o exemplo do grão-vizir que tirei de um texto de Emir Simão Sader, que, sendo emir, pode ser descendente de Maomé. Toda hora lido com peças construídas pelo excelente marceneiro Jésus e me lembro do socorro informático que me foi prestado, durante séculos, por Lili e Igor. Bombeiro-eletricista não era problema: bastava telefonar para o Lúcio, que me mandava um técnico de sua imensa indústria de eletroeletrônicos.


Linkedin
É todo santo dia e são vários os convites que recebo para o Linkedin, o Orkut, o Facebook e outros. Não existe a menor, a mais remota possibilidade de o vetusto philosopho participar desses negócios ou do Twitter: tenho mais que fazer. O blog não está fora de cogitações, mas depende de patrocínio de diversas empresas, de tal forma que me ajude no leite das crianças e nos charutos. Não me agrada trabalhar de graça. Já passei da idade.


O mundo é uma bola
31 de janeiro de 1542: o espanhol Álvar Núñez Cabeza de Vaca descobre as Cataratas do Iguaçu. O sobrenome Cabeza de Vaca data do século 12, quando Matin Alhaja auxiliou um ataque cristão sinalizando passagem secreta por meio de uma montanha com uma cabeça de vaca. Álvar nasceu em Jerez de la Frontera por volta de 1488 e foi a óbito em Sevilha por volta de 1560, depois de ter sido conquistador, soldado, alcoviteiro, escravo dos índios norte-americanos, comerciante, curandeiro, governador da província do Rio da Prata, prisioneiro de seu próprio povo e escritor. Hoje é o Dia do Engenheiro Ambiental.


Ruminanças
“A revolução é uma ideia que encontrou suas baionetas” (Napoleão Bonaparte, 1769-1821).

Estudo aponta que usar maconha aumenta as chances de ter filhos viciados

Herança perigosa 
 
Estudo feito com ratos sugere que consumir maconha aumenta as chances de alguém ter filhos com problemas de dependência química. Especialistas, contudo, ressaltam a importância de mais pesquisas 
 
Paloma Oliveto
Estado de Minas: 31/01/2014


Brasília – Os que defendem a legalização da maconha argumentam que se trata de liberdade individual. Mas um estudo recente, publicado na revista especializada Neuropsychopharmacology, mostra que o consumo da droga na adolescência está associado a uma probabilidade maior de os descendentes se tornarem dependentes de drogas. Os pesquisadores da Faculdade de Medicina Mount Sinai, de Nova York, encontraram essas evidências ao fazer um experimento com ratos. No entanto, a principal autora, Yasmin Hurd, professora de psiquiatria, farmacologia e química biológica, acredita que o resultado pode influenciar as políticas de liberação da cannabis.

Anteriormente, Yasmin havia constatado, também em camundongos, que a exposição precoce à maconha aumenta o risco de, na idade adulta, compensações químicas para satisfazer o cérebro serem buscadas com o uso de drogas mais pesadas. Agora, ela resolveu investigar se o consumo teria implicações para as gerações futuras, mesmo sem exposição direta à substância psicoativa.

“Estudos evidenciam que o uso de drogas, incluindo maconha, por parte dos pais, traz prejuízos aos filhos. Mas essas pesquisas levam em consideração o consumo durante a gestação e na época da concepção. Queríamos saber se o uso de drogas antes disso poderia trazer implicações negativas à descendência”, explica a pesquisadora. O resultado da pesquisa indicou que ratinhos cujos pais tiveram contato com a principal substância psicotrópica da maconha, o THC, durante a adolescência tinham mais riscos de exibir comportamentos compulsivos e de buscar a autoadministração de heroína.

Isso ocorre, explica Yasmin Hurd, por causa da epigenética. Esse conceito se refere a características transmitidas à geração seguinte sem que tenha havido uma modificação no DNA. Alguns estudos têm fornecido evidências de que o vício pode ser hereditário. Nesses casos, os pais, portadores de genes que os tornam mais propensos a serem dependentes, passam essas variantes aos filhos. A epigenética, diferentemente, está  associada à exposição ambiental.

Pesquisas com gêmeos, que têm DNA praticamente idêntico, mostram como as experiências exercem uma influência tão grande sobre o indivíduo quanto a sequência de genes. Substâncias como tabaco, álcool e outras drogas imprimem suas marcas no material genético do indivíduo. Sem provocar mutações – alterações na ordem das letras –, elas promovem mudanças químicas nas moléculas do DNA. Essas características adquiridas pelos genes podem ser transmitidas aos filhos.

No experimento do Mount Sinai, os pesquisadores expuseram ratos adolescentes a doses de THC. Quando os animais estavam adultos e já não tinham contato com a substância psicoativa, eles foram colocados para cruzar. Os fetos não foram expostos no útero, já que, na gestação, as fêmeas viviam em um ambiente livre de cannabis. Ao atingir a adolescência, os ratinhos demonstraram um comportamento típico de dependentes químicos.

Além de exibir alterações motoras associadas à compulsão, eles se esforçavam e se arriscavam mais que outros animais para  acessar uma infusão de heroína deixada no recinto pelos pesquisadores. Análises do sangue dos animais indicaram que eles tinham impressas nos genes alterações químicas que, no cérebro, estão associadas aos sistemas de recompensa, os mesmos implicados no vício. “Não tenho dúvidas de que evidenciamos que a cannabis afeta não apenas quem se expõe a ela, mas as futuras gerações também. Isso deveria ser considerado pelos legisladores que consideram legalizar o consumo da maconha.”

Segundo a Organização Mundial de Saúde, em todo o mundo, mais de 20 milhões de pessoas são dependentes da cannabis, sendo que seu consumo é particularmente alto (30%) entre indivíduos de 16 a 24 anos. “É a população mais suscetível aos efeitos danosos da maconha”, observa Yasmin. O principal ingrediente ativo, o THC, age no cérebro ao se ligar a receptores localizados nos neurônios. Essa união desencadeia uma série de reações químicas, regulando o metabolismo, a sensação de prazer, os processos cognitivos e a ingestão de alimentos. Quando o THC superestimula os receptores canabinoides, há uma redução das habilidades de memória, da motivação e, gradualmente, ocorre a dependência.

A confirmar Estudioso da relação entre epigenética e uso de drogas, o psiquiatra David Nielsen, do Bayler College of Medicine, na Inglaterra, diz que as pesquisas que investigam essa associação ainda estão muito embrionárias, o que requer um aprofundamento do resultado alcançado pelos colegas do Mount Sinai. “A epigenética evolui rapidamente. Mas o vício ainda é um campo órfão comparado a outras áreas de pesquisa, como a oncologia”, diz.

Uma revisão sistemática dos poucos estudos a respeito da epigenética e da dependência em ópio, álcool e cocaína, contudo, permitiu a Nielsen avaliar que alterações na expressão do gene influenciam as respostas iniciais e continuadas à droga, ao desenvolvimento da tolerância que leva ao vício, ao afastamento e ao relapso. “Aparentemente, as mudanças epigenéticas estão associadas ao vício mais em consequência da exposição direta à substância do que a uma predisposição biológica”, observa. Mas ele não descarta que essas alterações influenciem, futuramente, a descendência. “Pesquisas sobre mudanças na metilação do DNA provocadas pelo uso de drogas sugerem a possibilidade de a epigenética predispor um indivíduo a uma vulnerabilidade maior à dependência química.”

Para Thomas Kosten, também pesquisador do Bayler College of Medicine, estudos futuros terão de confirmar os resultados de Yasmin Hurd e verificar se a predisposição ao vício é passada para mais de uma geração. Mas ele diz que esse e outros trabalhos oferecem indícios fortes. “Ainda não temos uma associação causal definitiva entre o abuso de drogas e as mudanças epigenéticas, e as relações estatísticas estão apenas começando a ser replicadas. Contudo, todas as evidências mostram que a dependência e as mudanças epigenéticas não são apenas uma coincidência. Aparentemente, o efeito das drogas sobre a regulação dos genes ocorre em duas direções: a epigenética é um fator de risco, aumentando a predisposição, ao mesmo tempo em que o uso da droga provoca mudanças epigenéticas”, diz.

Venda legal

Em 1º de janeiro, a indústria da maconha recreativa abriu suas portas em oito cidades do estado americano do Colorado, até agora o único a legalizar a produção e o comércio do entorpecente. Até então, esses estabelecimentos só existiam na Holanda, país que permite a compra e a venda de cannabis, mas onde cultivá-la e processá-la são atos ilegais. Nos próximos meses, Washington se juntará ao Colorado. Em dezembro, o Senado uruguaio aprovou a produção e a venda da maconha para cidadãos cadastrados, mas a medida ainda não vigora. 

E nós, quando teremos nosso Mandela?‏ - Luiz Francisco Corrêa

E nós, quando teremos nosso Mandela?

Luiz Francisco Corrêa

Jornalista, diretor da Via Comunicação, membro do Conselho Curador da Fundação de Pesquisa e Ensino da Cirurgia (Fupec), diretor da Associação Palavra Bem Dita

Estado de Minas: 31/01/2014



Um novo ano sempre nos deixa revigorados, numa expectativa intensa sobre o que vem pela frente, sobretudo depois do Carnaval. Baseados em 2013 podemos fazer uma série de projeções para 2014. Com o pensamento crítico avaliamos algumas situações e almejamos novidades que interessem à população como um todo. Quais as transformações trará a política, neste ano muito movimentado, com as eleições para presidência do país? Quais os novos e execráveis escândalos de corrupção? Serão punidos os anteriores? As manifestações de junho voltarão? Teremos o nosso Mandela? Continuaremos a falar de biografias citando sempre as mesmas celebridades brasileiras que se acham divindades? O simpático papa Francisco continuará a fazer suas sábias críticas à Igreja Católica?

Ao vermos as ainda recentes reportagens sobre Mandela e sua trajetória na África do Sul, pensamos que as imagens são do Brasil, pois as semelhanças são muitas entre os dois países. Evidentemente, no nosso caso, sem o nosso Mandela. Os líderes políticos brasileiros, salvo poucas exceções, não são grandes idealistas, envolvidos na alma em eliminar de fato a pobreza no Brasil. Apenas fazem jogo de cena, mas, na verdade, eles querem mesmo é manter privilégios de grupos poderosos que desejam se perpetuar no poder. Muitos parecem sobreviventes de um mundo que já acabou, mas eles insistem para que não acabe. Dessa forma, passam-se anos, décadas, e, na essência, não muda quase nada. As exceções que surgem nessas lideranças, quando assumem o poder ficam deslumbradas e esquecem rapidamente as suas metas iniciais, os seus princípios éticos e até mesmo suas origens. É o famoso caso daquelas pessoas que são picadas pela mosca azul ou se preferir, caro leitor, elas lembram que quem nunca comeu melado quando come se lambuza. E como se lambuzam!

Ver o país por meio de jatos que percorrem o belo Brasil, ou caminhando pelas ruas elegantes das cidades brasileiras, tem-se uma ideia de um mundo de fato existente, sólido e crescente, com grandes marcas espalhadas por todos os lados e com o cheiro bom dos perfumes desse universo. Mas, ao chegarmos de avião em várias grandes cidades brasileiras, são muito visíveis as periferias imensas (impressionantemente imensas), feias, com os seus problemas de saneamento, pobreza, carências de todo tipo, e, consequentemente, violência. Aí, vamos sentir o cheiro incômodo da miséria humana. Será que teremos o nosso Mandela, com um olhar mais profundo sobre esse mundo pobre e vasto, claramente existente e, também, sólido e crescente? Quem se desgrudará da imagem produzida pelo marketing para sentir na essência os nossos abismos sociais, e trabalhar para grandes mudanças? As novas gerações, sobretudo as que têm mais acesso aos estudos, já perceberam as nossas reais necessidades.

E as biografias? Permanecerão na pauta em 2014? Muitos dos nossos famosos da música, não é preciso citar os seus nomes, pois você sabe perfeitamente de quem estamos falando, sentem-se acima do bem e do mal, lindos e inatingíveis. Muitas pessoas famosas costumam ser desagradáveis em suas relações mais íntimas. Quando não estão delirando com os aplausos que adoram, ficam fechadas em si mesmas, aguardando ansiosas pelo próximo palco. Desculpem-nos pelo exemplo, mas essas figuras, vão ao banheiro, tomam banho, morrem e viram cinzas como todos nós. O “não me toques” desses artistas, que cultuam tanto o sucesso, é uma tremenda chatice. Apostamos nas biografias não -autorizadas.

E o papa Francisco continuará a fazer as suas sábias críticas à Igreja Católica que ele dirige? Que o agradável papa continue no caminho de uma Igreja pastoral, principalmente em um país com tantas mazelas sociais como o Brasil. Vamos ficar atentos, pois o ano já está começando e passando rápido.

O divórcio à distância - Frederico Damato

O divórcio à distância 

Nova lei facilita a separação de casais brasileiros no exterior 
 
Frederico Damato
Advogado e sócio do escritório Amaral & Damato Advogados
Estado de Minas: 31/01/2014


Divorciar no Brasil tem se tornado um procedimento cada vez mais célere devido às várias alterações na Constituição Federal e também nas demais leis criadas para agilizar ainda mais o fim de uma união que um dia deu certo. Desde 2010, a dissolução do casamento pelo divórcio não exige mais o antigo requisito prévio de separação judicial, o que facilitou muito a situação para casais que pretendiam se desvincularem de vez. Agora, a dissolução de um casamento também passa a ser mais fácil para os brasileiros residentes no exterior. Isso porque a lei 12.874/13, aprovada em outubro do ano passado, acrescentou dois parágrafos ao artigo 18 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), permitindo que brasileiros se separem ou divorciem em consulados brasileiros.

Segundo essa nova lei, os brasileiros que residem no exterior poderão procurar o consulado brasileiro para lá realizarem a separação extrajudicial ou o divórcio. Para tanto, a separação ou o divórcio devem ser consensuais e não pode haver filhos menores e/ou incapazes. Com isso, dispensa-se a vinda pessoalmente do casal ao Brasil para realizar o divórcio, ou mesmo enviar ao país procuração a algum parente ou amigo para que faça o divórcio em seu nome. É possível a separação e divórcio de brasileiro casado com estrangeiro, desde que o casamento tenha ocorrido no Brasil, ou mesmo no exterior (nesse caso, deve ter sido realizado na presença de autoridades consulares brasileiras). Não é necessário que o casal more no exterior. A lei veio para facilitar, não para complicar. O divórcio pode ocorrer para aqueles casais separados de fato, em que um mora no Brasil e outro no exterior. O divórcio/separação é feito por escritura pública, o que confere muito mais agilidade ao procedimento. Mas atenção: a lei determina que é obrigatória a assistência de advogado inscrito na Ordem dos Advogados dos Brasil (OAB) para realizar o divórcio. Ou seja, o divórcio realizado no consulado tem a mesma validade que se fosse feito no Brasil. Contudo, é exigida a assistência do advogado apenas em relação ao documento encaminhado à autoridade consular. Sendo assim, a presença do profissional não é necessária quando o casal se dirigir pessoalmente até o consulado.

Mesmo com as facilidades acerca da realização do divórcio, o Instituto Brasileiros de Geografia e estatística (IBGE) divulgou dados revelando que, em 2012, houve uma redução no número de divórcios. Segundo esse levantamento, houve cerca de 340 mil divórcios concedidos em primeira instância e sem recursos ou por escrituras extrajudiciais, apresentando redução de 1,4% em relação a 2011. Assim, a taxa geral de divórcios (2,5 %) teve um pequeno declínio, mas manteve-se em patamar acima do observado antes da aprovação da Emenda Constitucional nº 66, em julho de 2010. Apesar da evolução das leis acerca do divórcio, percebe-se que o matrimônio não cai em desuso, como alguns pensam. Ainda de acordo com o IBGE, a taxa matrimonial apresentou crescimento de 1,4% em 2012, registrando mais de 1 milhão de casamentos.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Marina Colasanti-Uma maneira de viver‏

Uma maneira de viver 
 
Marina Colasanti - marinacolasanti.s@gmail.com
Estado de Minas: 30/01/2014





Ela era veterinária em Milão quando o conheceu. Não sei o que ele fazia nessa época, sei que em algum momento se encontraram, se quiseram bem e decidiram viver juntos. Não em Milão, mas nas altas montanhas da Lombardia, onde ele havia nascido. Iam levados não só pelo amor, como por outro projeto conjunto: criar cabras cachemire.

A gente entra numa loja, escolhe uma suéter mais macia que as outras, mais leve e mais cara, é cachemire. Não se detém na árvore genealógica da suéter. Paga e leva com satisfação, a mesma que teria com qualquer mercadoria industrial, não mais do que isso. O cachemire, porém, merece outra atenção. Pelo menos aquele produzido pelo casal das montanhas.

Começaram com cinco cabras, quatro fêmeas e um macho. Hoje, passados alguns anos, já são 15. As cabras se vestem, durante todo o verão, com pelo longo e liso, preto ou claro. Que só serve para elas. O que serve para nós é aquele finíssimo, que no outono se adensa por baixo do outro, uma espécie de subpelo, destinado a aquecer os bichos quando a neve vier.

É com a chegada da primavera que essa lã preciosa – agora desnecessária para os animais – começa a ser recolhida com uma escova metálica, parecida com as que usamos para pentear nossos cães. As cabras têm que ser escovadas durante quatro a cinco horas por dia, todos os dias. Durante meses. O que fica entre os dentes da escova é cuidadosamente recolhido.

Ao fim da temporada, toda essa lã é enviada para ser penteada e fiada. Eu disse “toda”, mais em relação ao esforço que à quantidade. Pois após tanta escovação, o que se obtém com 15 cabras são somente dois cones, daqueles de fiação industrial, cheios. Um de lã escura, outro clara. Só dois.

Não tenho especial interesse em cabras. O que me atraiu nesse casal, encontrado por acaso em um canal italiano de televisão, foi a sua maneira de viver e o prazer que extraem dela.

Dois cones de lã fiada não bastam para viver, nem nas altas montanhas. E é preciso pagar os dois serviços, executados por terceiros. A moça, veterinária, então, além de pentear cabras, trabalha como garçonete. E o marido tem um trabalho similar, acho que é frentista. Sem ressentimento. Seu negócio, afirmam com ternura, progride e, se tudo continuar como previsto, dentro de quatro ou cinco anos terão alcançado um rebanho de 50 cabras, que é o quanto pretendiam desde o começo.

Cinquenta cabras a serem escovadas diariamente podem representar a felicidade, ou que nome se dê a esse sentimento de acerto com a vida, o trabalho não como condenação, mas como parte de um projeto muito mais amplo e plural. Se a natureza faz o seu trabalho produzindo as cabras, se as cabras fazem o seu trabalho produzindo a lã, por que seria mais importante ou mais exaustivo o trabalho humano que leva à produção do fio?

A esposa de um meu amigo era tecelã. Em viagem de trabalho com ele ao Equador, sugeri que comprasse meadas de lã de vicunha para lhe levar de presente. Eram meadas artesanais, macias, ainda sem tingir, preciosas como cachemire. Ele estranhou o preço altíssimo. Ela, até hoje, me é grata pelo conselho.

Essas cabras e essas vicunhas não vivem estabuladas, não são alimentadas com ração, não tomam produtos químicos para aumentar sua lã. Que embora cara, vale mais do que custa.

TeVê

TV paga




Estado de Minas: 30/01/2014



 (Reprodução de internet )

Um escritor chamado Tennessee Williams


A série Grandes escritores, que o canal Curta! exibe às 23h, vai focalizar hoje um dos mais importantes autores do teatro moderno: Tennessee Williams (1911–1983). A produção retrata desde a juventude do dramaturgo norte-americano no Mississippi até alcançar o sucesso nos palcos e no cinema. Entre entrevistas com pessoas que conheceram e trabalharam com Williams (foto) são apresentadas algumas das cenas mais célebres de filmes adaptados de suas obras, como À margem da vida, Um bonde chamado desejo e Gata em teto de zinco quente.

Canal Fox Life promove  disputa entre designers


A Fox Life continua com as estreias de produções do canal Bem Simples. Entre as novidades de hoje está Design star, às 22h15, com o apresentador David Bromstad conduzindo a disputa entre 12 designers encarregados de transformar cômodos de uma casa em Hollywood. Às 23h é a vez de Operação design, seguido de Design original, às 23h45.

Rodrigo Hilbert também curte culinária japonesa


Na edição de hoje de Tempero de família, às 22h30, no canal GNT, o apresentador Rodrigo Hilbert vai até o Mercado Municipal, no Centro Histórico de Laguna, onde compra os ingredientes para preparar um verdadeiro banquete japonês com sushi, rolls, tempura e temaki.

SescTV traça o perfil do gravurista Mário Gruber


No SescTV, às 21h, será exibido o documentário Em volta do cavalete, sobre o gravurista Mário Gruber, criador de obras associadas ao realismo social e de personagens fantásticos. Na Cultura, o destaque de hoje é o documentário Vivienne Westwood – Faça você mesmo, às 22h, sobre a mulher, artista, intelectual e militante que foi eleita a rainha inglesa da moda.

Tom Zé resolveu agora reinventar a Tropicália


Ainda na Cultura, às 23h30, no programa Ensaio, Fernando Faro recebe o cantor, compositor, performer, arranjador e escritor baiano Tom Zé cantando e falando de seu novo álbum, Tropicália lixo lógico. No Multishow, continua hoje a cobertura do Festival de Verão de Salvador, com as apresentações de Paralamas do Sucesso, Asa de Águia e Ivete Sangalo, a partir das 21h.

Muitas alternativas na  programação de filmes


No pacotão de cinema, o Telecine Pipoca programou a comédia Finalmente 18 para a faixa das 22h. No mesmo horário, o assinante tem mais oito opções: Rinha, no Canal Brasil; Gabriela, no Telecine Cult; O Chacal, no Telecine Action; Rastros de violência, na HBO HD; Argo, na HBO 2; J. Edgar, no Max Prime; Elizabeth, no Studio Universal; e O advogado do diabo, no TCM. Outras atrações da programação: Eu, meu irmão e nossa namorada, às 21h, no Comedy Central; Fúria de titãs, às 21h20, no Space; As garotas do calendário, às 21h50, no Gitz; e Atividade paranormal 3, às 22h30, na Fox.


CARAS & BOCAS » Reforço de peso

Rita Valente, Reynaldo Boury e os 20 novos atores que entram em Chiquititas (Leonardo Nones/SBT)
Rita Valente, Reynaldo Boury e os 20 novos atores que entram em Chiquititas

Desta vez a produção de Chiquititas exagerou. Na manhã de terça-feira, o SBT reuniu jornalistas em São Paulo para apresentar oficialmente os 20 atores que passam a integrar o elenco da novela. Os protagonistas Manuela do Monte e Guilherme Boury, que interpretam Carol e Junior, deram as boas-vindas aos novos atores e listaram seus respectivos personagens. Reynaldo Boury, diretor-geral, e Rita Valente, colaboradora da autora Iris Abravanel, explicaram que os novos personagens vão entrar aos poucos na trama.

Rede Minas entrevista  o jornalista Juan Arias


O programa Imagem da palavra apresenta hoje a primeira entrevista da série realizada na Feira do Livro de Poços de Caldas de 2013. O entrevistado é o jornalista espanhol Juan Arias, correspondente do El país no Vaticano. Ele acaba de publicar a biografia de Santa Rita de Cássia. Arias conversa com Guga Barros sobre a escrita da religiosidade e a construção histórica dos santos. A pauta inclui reportagens sobre a beatificação de Nhá Chica, primeira santa brasileira, negra e analfabeta, e o ramo literário das biografias de santos, as chamadas hagiografias. Às 22h30, na Rede Minas.

A liga vai relembrar o  que foi notícia em 2013


Também hoje, na Bandeirantes, o programa A liga vai relembrar os temas que levou ao ar em 2013 e voltar a ouvir os principais personagens dessas histórias. Rita Batista vai ao encontro de MC Guimê para conferir se ele ainda continua “patrão” ou se a onda do funk ostentação já passou. Cazé visita Roland Pellegrine, pai do MC Daleste, assassinado em julho do ano passado. E ainda tem uma reportagem sobre o desabamento de uma obra irregular no bairro paulistano de São Mateus que matou 10 pessoas. No ar, à meia-noite.

Amor à vida chega ao  fim amanhã, na Globo

Na reta final de Amor à vida surgem muitas especulações sobre o destino dos personagens da novela da Globo. Especialmente Félix (Mateus Solano), Aline (Vanessa Giácomo) e Amarilys (Danielle Winits). Regenerado, Félix conquista o amor de Niko (Thiago Fragoso) e, finalmente, o carinho do pai, César (Antonio Fagundes). Ninho (Juliano Cazarré) continua preso e Aline morrerá ao tentar fugir da prisão. E Amarilys deve aplicar o golpe da barriga de aluguel novamente. Segundo o autor Walcyr Carrasco, o saldo positivo da novela foi o levantamento de discussões importantes. "Ela fez o público refletir sobre a aceitação das pessoas, como homossexuais e evangélicos, mostrando que há lugar para todos neste mundo”, argumenta, citando ainda a doação de órgãos, a importância da leitura e a violência contra a mulher.

Félix foi o melhor no  folhetim de Carrasco

Para especialistas em televisão, Félix foi o maior trunfo de Amor à vida. "Solano é o grande destaque, o melhor de todos. A redenção do Félix se deu graças ao público, que a quis, e o Walcyr Carrasco teve de acatar” diz Claudino Mayer, doutor em teledramaturgia. Já Elmo Francfort, responsável pelo Museu da TV, destaca também Aline e César. "A novela vai ficar marcada por Félix, César e Aline. Eles surpreenderam, e o Félix será lembrado eternamente”, afirma. Como ponto negativo, ele aponta o excesso de personagens. “Muita gente ficou de lado. Alguns núcleos poderiam ser melhor realizados”, conclui.

Outros sentidos

Exibido regularmente pela TV Brasil (canal 65 UHF) na faixa das 22h e reproduzido pela Rede Minas bem cedinho, às 6h30, o programa Caminhos da reportagem vai mostrar hoje que é possível um deficiente visual se adaptar a um mundo cheio de informações. Um exemplo: o surfista Derek Rabelo dá uma lição de vida quando afirma que é possível sentir a luz da fé quando se vive no escuro. Ele venceu as ondas lendárias do Havaí e ganhou o respeito dos monstros do surfe mundial, como Kelly Slater, Carlos Burle e Laird Hamilton. “Quando a gente tem bastante fé e determinação, é capaz de fazer tudo”, afirma. Sua história inspirou o documentário Além da visão, dirigido por Bruno Lemos e Luiz Werneck.

VIVA
Como se esperava, A teia (Globo) estreou em um ritmo acelerado, alucinante. Tem gente que a compara aos seriados policiais da TV americana, mas isso não pode ser entendido como algo negativo. A teia tem sotaque próprio.

VAIA

Para mais uma grosseria de Luciana Gimenez em seu Superpop, na RedeTV!. Na segunda-feira, ela não foi nada elegante ao comentar a solteirice do jornalista Thiago Rocha. Tão constrangedor que nem merece ser repetido aqui.

Estrela brasileira - Ailton Magioli

Estrela brasileira
 
Destaque de musicais produzidos no país, Soraya Ravenle protagoniza espetáculo dedicado a Chico Buarque. A cantora e atriz diz que o Brasil deve valorizar seus autores e compositores



Ailton Magioli
Estado de Minas: 30/01/2014



A atriz e cantora Soraya Ravenle em Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos  (Leo Aversa/Divulgação)
A atriz e cantora Soraya Ravenle em Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos



De volta ao universo buarqueano depois de Ópera do malandro e Suburbano coração, a fluminense Soraya Ravenle, de 51 anos, é a estrela do teatro cantado brasileiro. Desta vez ela interpreta a mulher do dono de uma companhia mambembe em Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos, de Cláudio Botelho e Charles Möeller, em cartaz no Rio de Janeiro.

“Minha personagem é uma mulher madura e vivida, um pouco amarga, que se sente ameaçada com a entrada de uma jovem atriz na trupe”, conta Soraya Ravenle, que se nega a aceitar o título de primeira-dama do musical brasileiro, dado a ela por Cláudio Botelho, entre outros. “Penso e ambiciono, sim, evoluir a cada trabalho. Abrir possibilidades, crescer como intérprete e me arriscar. Faço aulas de canto, de teatro e de corpo, nunca vou parar”, diz. Sua irmã é a talentosa Ithamara Koorax, dona de bela voz, que faz carreira no exterior.

As duas são filhas de uma cantora lírica polonesa amadora, que chegou ao Brasil fugindo da 2ª Guerra Mundial. Mesmo com sólida formação ela não seguiu carreira e acabou passando a “missão” para suas meninas. “Aprendemos a ler partitura enquanto aprendíamos a ler e escrever. A música está nas entranhas de nossa alma, assim como a dança”, orgulha-se Soraya. “Sem querer, ou por sorte, tive formação para o teatro musical. Minha mãe não poderia imaginar que fosse levar aquilo tão a sério”, conta.

Soraya Ravenle estreou como corista em A estrela Dalva, musical protagonizado por Marília Pêra. “Ela é uma referência para mim, assim como Bibi Ferreira e Sueli Franco. O ponto em que me sinto mais tocada, comovida e identificada com essas mulheres é a dedicação absoluta ao palco. Vejo-me nelas, são minhas mães artísticas”, revela.

A atriz cita também o apoio vindo do dramaturgo Douglas Dwight, de Lenita Lopes e de Ney Madeira, que a convidaram para estrelar Dolores, musical sobre a vida de Dolores Duran. Naquela época, Soraya não era um nome conhecido. “Cláudio Botelho e Charles Möeller também me proporcionaram maravilhas, como a Teresinha de Ópera do malandro e a Golda de Um violinista no telhado, além de Todos os musicais de Chico Buarque...”. Outro marco foi Sassaricando – E o Rio inventou a marchinha, de Sérgio Cabral e Rosa Maria Araújo. “Tenho a sorte de ter vivido vários fenômenos, trabalhos que ficam mais de ano em cartaz, com sucesso de crítica e público”, afirma.

Certa vez, Soraya ouviu de Claudio Botelho: “Ator de musical é um atleta”. Cedo, aprendeu que voz é músculo. “Bibi Ferreira canta lindamente até hoje porque se exercita”, diz a artista.

Broadway  Adepta da escola do musical brasileiro, a atriz e cantora diz nada ter contra a importação de peças da Broadway como vem ocorrendo, principalmente em São Paulo. “Apesar de entender que deve haver lugar para tudo e precisamos respeitar gostos e opiniões diferentes, sinto profundamente que podemos realizar muito falando a partir do nosso país, usando nossas matérias-primas: autores, compositores e arranjadores”, observa. E defende a exportação dos espetáculos brasileiros: “Este ano, vamos a Portugal com Todos os musicais de Chico Buarque..., assim como fizemos com Ópera do malandro”.

Soraya constata que o público se diversificou e não se limita a senhoras que desejam se divertir. “Isso é uma realidade, mas o musical não se restringe a essas plateias. Os jovens prestigiam espetáculos quando há qualidade e excelência. O boca a boca leva público eclético ao teatro. Com toda a minha experiência, posso garantir: o boca a boca é que segura uma peça em cartaz”, conclui.


MÚSICA

Ex-vocalista de shows da cantora Fernanda Abreu, Soraya Ravenle integrou o grupo Arranco de Varsóvia, com o qual gravou dois discos na década de 1990. A carreira solo como intérprete de MPB se concretizou em 2011, com o disco Arco do tempo, cujo repertório é dedicado ao letrista Paulo César Pinheiro e a seus parceiros.

 (Rafael França/divulgação)

NAS TELAS

A atriz Soraya Ravenle trabalhou na minissérie Dalva e Herivelto e nas novelas Paraíso (foto, com Reginaldo Faria) e Beleza pura. No cinema, fez Mulheres do Brasil, A partilha e Lost Zweig.

A voz do ofício

Cláudio Botelho

Soraya Ravenle entrou na minha vida como ídolo. Explico: somos da mesma geração de atores, diretores, músicos e demais malucos que se dedicaram a criar o que hoje se chama de retomada do teatro musical no Brasil. Um dia, fui ver o musical Dolores – já naquela época, um exemplar do que hoje se tornou uma espécie de febre (amarela, com razão para febre alta, espasmos e dores no ouvido), um musical biográfico. O espetáculo era Soraya. Descobri-a ali e me tornei fã. Em 1999, no Rio de Janeiro, só se falava em Soraya Ravenle e sua extraordinária performance como Dolores Duran. O mais impressionante é que ela não fazia uma imitação – hoje em dia, há uma espécie de estilo “Raul Gil forever” no teatro musical carioca –, mas uma interpretação personalizada, adulta e refinada.

A vida nos colocou juntos logo depois, num show em homenagem a Lupicínio Rodrigues – então, já éramos um time. Soraya foi a Teresinha na montagem que eu e Charles Möeller fizemos da Ópera do malandro, de Chico Buarque; fez Suburbano coração em substituição generosa da também talentosíssima Inez Vianna; fez par com José Mayer num trabalho impressionante de atriz (muito mais que de cantora) em Um violinista no telhado. Agora ela é a primeira-dama de Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos... Ela é, sem dúvida, a primeira-dama do teatro musical que se vem fazendo no Brasil dos últimos 20 anos. Há dentro dela um rio correndo, um caldeirão de informações artísticas que vêm do tempo em que cantava samba com o grupo Arranco de Varsóvia; dos papéis em tantos musicais de sucesso; de uma ligação enorme com a MPB; e da propriedade de transformar a canção em texto teatral, tornar teatro o que poderia ser apenas música.

Quando Soraya está em cena, uma geração inteira de gente que se dedicou ao nosso ofício está ganhando voz. Ela é a nossa Bibi, a nossa Marília, alta representante de um teatro que cresceu e conquistou multidões sem precisar ter ‘gente de novela’ no elenco.

Ator, diretor e produtor

MOSTRA DE CINEMA » Burburinho nos bastidores‏

MOSTRA DE CINEMA » Burburinho nos bastidores Produtor Thiago Macêdo Correa destaca-se pela quantidade de obras que levam a sua assinatura na edição deste ano 

Carolina Braga
Estado de Minas: 30/01/2014


O jovem produtor Thiago Macêdo Correa, no centro, cercado por Lygia Santos, Affonso Uchoa, Maurílio Martins, Leonardo Amaral, Gabriel Martins, André Novais, Ricardo Alves Jr.   (Túlio Santos/EM/D. A Press)
O jovem produtor Thiago Macêdo Correa, no centro, cercado por Lygia Santos, Affonso Uchoa, Maurílio Martins, Leonardo Amaral, Gabriel Martins, André Novais, Ricardo Alves Jr.

Tiradentes – Ele está virando o produtor mais querido da nova geração do cinema mineiro. Nos bastidores da Mostra de Cinema de Tiradentes, rola a brincadeira de que até a produção do tradicional cortejo ficará por conta dele. Zoação, claro, que Thiago Macêdo Correa encara numa boa. Trabalho não lhe falta. Com 30 anos recém-completados, somente nesta edição do festival ele responde pela produção de nada menos que sete filmes, dois longas em competição na Mostra Aurora e outros cinco curtas. A lista de projetos para os próximos anos é igualmente grande, assim como a versatilidade.

“Meu modo de produzir cinema tenta ser sensível à necessidade do filme. Não me armo de uma estrutura específica que tem que ser respeitada, tento saber o que o trabalho precisa”, comenta. Integrante da produtora Filmes de Plástico, Thiago produz tanto obras de seus sócios André Novaes, Gabriel e Maurílio Martins como de outros colegas. Na lista de projetos independentes, tem parcerias com os jovens realizadores Ricardo Alves Jr., Affonso Uchoa, Leonardo Amaral e outros. “A sensibilidade está muito baseada na relação entre diretor e produtor. Cada um tem uma personalidade, então não tem como eu me portar do mesmo modo”, continua.

Para o diretor Ricardo Alves Jr., o que diferencia o trabalho de Thiago Macêdo Correa é o envolvimento que ele estabelece com o trabalho. “Ele não só executa o filme no caminho da produção, mas é uma figura que pensa o filme artisticamente. Desde a ideia do roteiro até no processo de montagem ele está ali como uma peça muito importante”. Além do curta Tremor, Ricardo e Thiago trabalham juntos na realização do longa Elon Rabin não acredita na morte.

Os integrantes da Filmes de Plástico se conheceram na Escola Livre de Cinema, em Belo Horizonte. Como além de aluno Thiago era também funcionário da secretaria da escola, começou quase por acidente a cuidar da realização dos curtas feitos pelos estudantes. Dali para a carreira profissional foi um pulo. Em 2008, o curta Sábado, de Gabriel Martins, oficializou a criação da produtora e, depois disso, a fama do grupo de Contagem só cresce.

Como profissional, primeiro ele se especializou na produção do set. Agora, a demanda para a produção executiva e a captação de projetos maiores o fazem acumular funções. A ideia é, inclusive, começar a trabalhar nas estratégias de distribuição para que os filmes sejam cada vez mais vistos. Aliás, será esse o trabalho mais pesado nos próximos dias, depois de tantas estreias durante a Mostra de Cinema de Tiradentes. “A expectativa é de formular uma carreira de festivais no Brasil e no mundo. Para os longas, queremos pensar um modo para que esses filmes cheguem ao público”.

A repórter viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes.


Curtas em linguagem experimental




É certo que os longas costumam chamar mais a atenção em festivais, mas há alguns anos os curtas exibidos nas telas em Tiradentes não ficam devendo em nada. Pelo contrário, às vezes são trabalhos até melhor realizados. Tanto nas sessões programadas para o Cine Praça como as mostras competitivas exibidas no Cine Tenda, qualidade técnica e diversidade são pontos que chamam a atenção.

Para se ter uma ideia, esta semana foram exibidos no Largo das Forras trabalhos em animação de cordel (Suassuna, a peleja do sonho com a injustiça, de Felipe Gontijo) e temas como daltonismo (Diários daltônicos, de Patrícia Monegatto), filhos de casais homossexuais (Meu amor que me disse, de Cátia Martins Nucci) e até a suposta chegada de ETs ao Brasil (Efeito Casimiro, de Clarice Saliby).

As obras exibidas na Mostra Foco, no Cine Tenda, são ainda mais ousadas. Sessão competitiva valendo, entre outros prêmios, aquisição pelo Canal Brasil, tem o objetivo de dar visibilidade a cineastas em início de carreira. O negócio é dar vazão à produção feita por estudantes do Brasil inteiro e, principalmente, fazer apostas, lançar nomes.

 “Surpreende-me a qualidade técnica dos filmes. Às vezes, temos na cabeça que curta é um filme feito com pouco dinheiro – o que muitas vezes é mesmo –, mas o digital e a formação muito precoce desses meninos estão garantindo técnica muito boa”, analisa Pedro Maciel Guimarães, um dos curadores dos curtas. Ele chama a atenção para os avanços na narrativa. “Você vê que não foi filme feito do dia para a noite. Já vem com uma reflexão.”

Também é essa a percepção do diretor de fotografia pernambucano André Antônio. Na cidade para representar o curta Estudo em vermelho, de Chico Lacerda, ele ficou feliz com o que viu na tela. “Enquanto outros festivais ficam restritos a uma espécie de qualidade técnica que às vezes é meio careta, que se restringe a regras de como fazer cinema, aqui a seleção está muito mais aberta a experimentações, ao que a linguagem cinematográfica pode oferecer mesmo quando ela se mostra muito diferente do padrão”, elogia.

FILMES PRODUZIDOS POR THIAGO MACÊDO CORREA EM TIRADENTES

>> Longas
A vizinhança do tigre, de Affonso Uchoa
Aliança, de Gabriel Martins, João Toledo e Leonardo Amaral

>> Curtas
Quinze, de Maurílio Martins
Mundo incrível remix, de Gabriel Martins
Tremor, de Ricardo Alves Jr.
Sandra Espera, de Leonardo Amaral
Onde não posso ir, de Lygia Santos

PROGRAMAÇÃO DE HOJE

>> CINE TEATRO SESI

10h30 – Debate sobre A mulher
que amou o vento
12h – Debate curtas –Mostra Foco série 3
15h – Seminário “Processos de criação: da ideia ao set de filmagem”
17h30 – Sessão de curtas

>> CINE TENDA

15h30 – Sessão de curtas

>> CINE TENDA

18h30 – Mostra Aurora –Aquilo que fazemos com as nossas desgraças, de Arthur Tuoto
20h – Mostra Aurora –Batguano, de Tavinho Teixeira
22h – Exilados do vulcão, de Paula Gaitán

>> CINE BNDES NA PRAÇA

21h – Turn off, de Carlos Segundo

>> CINE-TENDA-BAR-SHOW

0h30 – Show de Ricardo Nazar

Eduardo Almeida Reis - Étonnant! Espantoso!‏

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 30/01/2014 



Étonnant! Espantoso!

Esqui na neve me lembra episódio ocorrido em Courchevel, nos Alpes franceses, com o industrial brasileiro Fernando Alencar Pinto. Cearense dinâmico, foi durante anos o maior distribuidor da GM no Brasil, fabricou os circuladores de ar Bomclima e criou gado holandês numa fazenda em Pindamonhangaba (SP), onde o conheci. Bebeu durante mais de 50 anos um litro de uísque/dia, aos golinhos, sem gelo, o dia inteiro. Naquele tempo havia muito uísque falsificado e as importações eram proibidas, ou quase. Sabendo de uma importação, Fernando comprava um litro e mandava examinar no Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo. Confirmada a autenticidade escocesa do produto, comprava logo 20 ou 30 caixas daquela remessa. Contou-nos essa história numa noite em que dormimos em sua fazenda paulista. Viajava conosco um casal bom de copo, ela adorável dona de casa, mãe de três filhos; seu marido genial artista plástico, pintor e humorista com PH maiúsculos. Ainda me lembro de que o artista renovava a dose de seu imenso copo – daqueles “copos de uísque” de antanho, coisa de 1/3 de litro – e ficou tão encantado com a notícia do Adolfo Lutz que seu Black&White transbordou o copo, sem deixar espaço para uma pedrinha de gelo. Maduro e rico, o industrial resolveu esquiar em Courchevel. Comprou os melhores esquis que encontrou à venda numa loja de Paris e se mandou para os Alpes. Lá chegando, hospedou-se no melhor hotel e foi para o bar em busca do uisquinho regulamentar. Dois dias depois matriculou-se no curso de esquiadores principiantes, para espanto de meia França: “Étonnant! O senhor chegou aqui com os melhores e mais profissionais esquis à venda. Passou dois dias no bar, coisa de profissional, para se acostumar com a altitude. E agora se matricula num curso de quem nunca esquiou na vida”.

Indicações 

O só fato de ser escolhido e indicado para ministro de tribunais superiores por determinados governantes acoima o indicado, inda que aprovado por um Senado em que o presidente avoa para transplantar cabelos no Recife. Acoima, minha gente: verbo acoimar no sentido de condenar. Critiquei determinado ministro, logo que foi nomeado, pelas besteiras que andou falando. Em sua defesa recebi e-mail de um amigo, primo e confrade, ex-presidente da mesma corte, dizendo que o criticado é um sujeito formidável. Não é. Anda metendo os pés pelas mãos, confundindo-se, desdizendo-se, defendendo ideias estapafúrdias, sinal de que talvez esteja ficando maluco da cabeça. Há precedentes: Nietzsche, que era Nietzsche, ficou inteiramente maluco aos 44 anos, doido de pedra ou de hospício, como se diz em Diamantina. Há que tomar cuidado com o tal ministro. Além da toga, é conveniente que a alta corte de Justiça mantenha sempre à mão uma peça de tecido resistente ou de lona, semelhante a uma camisa, com que se envolvem e amarram firmemente, com cordões, os braços e a parte superior do corpo, impedindo movimentos violentos, especialmente de loucos em acesso de fúria, vulgo camisa de força.

A propósito do sesso 

Há palavras dicionarizadas desde sempre que a gente nunca leu, nunca ouviu e ignora o significado. Um exemplo: sesso, ortoépia ê, que entrou em nosso idioma c1537-1583, veio do latim e todos temos, philosopho e leitores. Significa par de nádegas, traseiro. Deu-se que levantei o meu sesso da cadeira para pegar na estante o Dicionário Latino-Português, de F. R. dos Santos Saraiva, volume de 1.297 páginas conhecido como Saraiva, porque estava escrevendo sobre os imperadores romanos Vespasiano e Tito, pai e filho, em que havia um conselho do pai sobre o lugar onde a pessoa prefere assentar o seu clunis: numa privada, num banco escolar ou num estádio. Aí descobri que Plínio escreveu residere in clunes, posição que tem relação estreita com Vespasiano, não o imperador, mas o Vespasiano da Grande BH, porque significa assentar-se de cócoras e o mineiro adora ficar de cócoras. Puro de sentimentos e intenções, evitei os sinônimos de residere in clunes, que não cabem numa coluna voltada para as altas cousas do espírito. E agora peço licença para tirar o sesso da cadeira e devolver o Saraiva à estante. Pela atenção, muitíssimo obrigado.

O mundo é uma bola 

30 de janeiro de 1592: eleição do papa Clemente VIII, nascido Ippolito Aldobrandini. Foi o responsável pela introdução do café na Europa, bebida até então considerada muçulmana. Em 1649 o rei da Inglaterra, Carlos I, foi executado. Ontem ou anteontem, se estou lembrado, falei da morte de Edward II pela introdução de um chifre oco em seu fiofó, através do qual passou um ferro em brasa. Edward era bissexual, tinha namorados, mas Carlos I foi capturado, julgado e condenado por não admitir a monarquia constitucional. Foi sucedido por seu filho Carlos II. Em 1933, o presidente Paul von Hindenburg nomeia Adolf Hitler chanceler da Alemanha. Em 1938, emancipação política do município de Governador Valadares (MG), onde nasceria Eike Fuhrken Batista. Hoje é o Dia do Portuário, da Saudade e da Não Violência.

Ruminanças

“O perigoso é um pouco de conhecimento” (Alexander Pope, 1688-1744).

Antioxidantes podem aumentar os tumores‏

Antioxidantes podem aumentar os tumores
Estado de Minas: 30/01/2014


Presentes em vitaminas como a A, a C e a E, os antioxidantes são conhecidos pelo potencial anticancerígeno. Pesquisas recentes, porém, têm indicado que eles podem ter efeito contrário: aumentar o risco da doença em grupos de alto risco. Em um estudo publicado na Science Translational Medicine de hoje, cientistas suecos concluíram, em um experimento com ratos, que essas substâncias podem agravar o câncer de pulmão. 

Martin Bergo, professor do Centro de Pesquisa do Câncer da Universidade de Gotemburgo e um dos autores do trabalho, explica que a suspeita de que os antioxidantes não teriam efeitos positivos quanto à prevenção do câncer surgiu em um experimento anterior, também com ratos. “Descobrimos que as cobaias com câncer de pulmão desenvolveram três vezes mais e maiores tumores pulmonares quando comiam antioxidantes extras e que morreram duas vezes mais rápido”, relata.

O grupo de pesquisadores decidiu, então, realizar um estudo mais amplo para investigar as razões dos problemas constatados. No experimento, usaram dois tipos de antioxidantes: a vitamina E e a acetilcisteína (medicamento utilizado para reduzir o muco do pulmão). Eles foram ingeridos diariamente por ratos com estágios iniciais de câncer de pulmão. 

Conforme o esperado, os tumores aumentaram de tamanho e os animais morreram em um tempo duas vezes mais rápido em comparação com ratos no mesmo estágio da doença, mas que não haviam ingerido os antioxidantes. Bergo acredita que os resultados fornecem dados importantes para pesquisas na área, mas que precisam se aprofundar, já que o estudo foi feito com animais.
“Nosso estudo não diz nada sobre o uso de antioxidantes em pessoas saudáveis, mas os resultados sugerem que os pacientes com câncer de pulmão e pessoas em risco de desenvolver esse problema, como fumantes ou indivíduos com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), devem usar antioxidantes com cautela. No mínimo, precisam evitar tomar quantidades extras ou suplementos até que essa questão possa ser resolvida definitivamente”, sugere.

Segundo Anderson Silvestrini, oncologista clínico e diretor técnico do grupo Acreditar de Oncologia e Hematologia, de Brasília, ainda existem muitas controvérsias em relação ao papel das vitaminas em relação ao câncer. Originalmente, elas serviriam como um instrumento para retardar o envelhecimento celular e o surgimento de tumores. “Porém, essa teoria tem sido posta em xeque. Acredito que trabalhos como o dos suecos, mesmo se tratando de experimentos com ratos, já servem para discussões acerca disso, apesar de precisarem de uma continuidade para a confirmação (dos efeitos) no organismo humano”, destaca. (VS)

Vacina evita que células com HPV virem câncer‏

Vacina evita que células com HPV virem câncer Tratamento proposto por cientistas dos EUA potencializa a ação do sistema imunológico contra células pré-cancerígenas no colo do útero. Testes com mulheres apresentaram resultados promissores 

 
Vilhena Soares
Estado de Minas: 30/01/2014


Uma vacina terapêutica que auxilia o corpo a lutar contra células pré-cancerosas. Essa foi a estratégia utilizada por pesquisadores americanos para proteger mulheres do câncer no colo do útero. O tratamento acelera a reação dos linfócitos T, que combatem a reprodução desordenada de células. Com o progresso detectado, os cientistas acreditam que o procedimento possa futuramente fazer com que o tratamento cirúrgico não seja mais necessário.

Leonel Maldonado, um dos pesquisadores do estudo publicado hoje na revista científica Science Translational Medicine, explica que a vacina não é imunizadora: servirá para tratar uma condição que pode evoluir para o câncer. “Estudos anteriores avaliaram a vacina de sangue (ativação do sistema imune por meio do sangue do próprio paciente) dos voluntários a fim de observar a magnitude de uma resposta imune. Nosso estudo é o primeiro a identificar um aumento da resposta imunitária no tecido de pacientes com uma lesão pré-cancerosa do colo do útero após a vacinação com uma vacina de HPV com alvo terapêutico”, explica o professor do Johns Hopkins Medical Institutions.

No experimento, a vacina terapêutica foi aplicada em 12 mulheres com lesões no colo do útero e os cientistas observaram uma melhora expressiva no sistema imunológico delas. As células T, responsáveis por combater a doença, se manifestaram em níveis antes não vistos. De acordo com os cientistas, essa resposta é positiva e pode contribuir para que o tratamento de lesões seja mais eficiente. “As respostas imunes geradas pela vacina têm o potencial de induzir, em algumas mulheres, a regressão completa da lesão cervical pré-cancerosa, evitando, assim, a progressão de cancro e os tratamentos desnecessários”, completa Maldonado.

Segundo o pesquisador, outros exames podem complementar o procedimento proposto, criando um conjunto de intervenções capaz de aumentar a proteção das mulheres contra o câncer do colo do útero. “Nossos resultados têm o poder de modificar a forma com que futuras vacinas terapêuticas e testes clínicos de HPV podem ser concebidos para analisar as respostas imunitárias em tecidos, uma vez que esses métodos podem ser mais informativos para avaliar a eficácia do tratamento. Além disso, os pacientes com doença pré-invasiva poderiam ser mais bem monitorados com base na resposta imunológica encontrada nas biópsias após a vacinação”, explica.

Novas estratégias A equipe do Johns Hopkins pretende avaliar mais 20 pacientes, testando uma combinação da vacina terapêutica com um creme tópico. A intenção é fazer que, com a união das terapias, a resposta dos linfócitos T seja ainda mais potencializada.

Devido à grande quantidade de variantes e à ligação com o câncer, o HPV tem sido alvo de pesquisadores de vários países. Rosires Pereira de Andrade, chefe do Departamento de Tocoginecologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), é um dos que seguem em busca de vacinas mais eficazes contra o vírus. “Nossa equipe, em parceria com pesquisadores de Salvador e de outros centros do Brasil, trabalha em uma vacina nonavalente para nove variações do HPV. Dessa forma, a proteção do colo do útero será mais completa, cerca de 20% maior. Isso é algo que ainda não temos, pois a vacina oferecida pelo governo é quadrivalente”, compara.

Pereira avalia que a ideia dos cientistas do Johns Hopkins Medical Institutions de utilizar uma vacina para ativar o sistema imunológico de mulheres com lesões uterinas também é uma estratégia eficaz. “Se você consegue ativar os anticorpos no lugar da lesão, como foi feito por ele, a resposta imunológica aumenta e a proteção da mulher contra o câncer sobe consideravelmente. Isso pode contribuir para um tratamento mais completo”, destaca.

O especialista também acredita que a vacina terapêutica poderá evitar que as cirurgias para a retirada de lesões do colo do útero sejam feitas. No procedimento atual, uma grande parte do colo é cortada, o que pode facilitar a ocorrência de partos prematuros. “Cirurgias são sempre agressivas; se pudermos evitar isso, sempre é algo positivo”, completa.

Proteção ampliada

A vacina quadrivalente previne contra quatro tipos de HPV – o 16 e o 18, que estão presentes em 70% dos casos de câncer de colo do útero –, e o 6 e o 11, presentes em 90% das verrugas genitais. Ainda em desenvolvimento, a vacina nonavalente pretende agregar mais cinco sorotipos do vírus.

Palavra de especialista
 Mauricio Abrão, professor associado do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP)

Necessidade de mais testes

“É necessário cautela ao interpretar os resultados desse trabalho devido ao pequeno número de pacientes incluídas. Mas isso não desmerece a originalidade da ideia. O papilomavírus humano (HPV) é causador de lesões que, em última instância, vão se transformar em câncer de colo uterino, doença em grande parte prevenível e, atualmente, um significativo problema de saúde pública em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. No Brasil, em 2004, o câncer de colo uterino foi o segundo tipo de câncer mais diagnosticado em mulheres, cerca de 20.700 casos novos (11% do total diagnosticado), perdendo apenas para o câncer de mama. Esse trabalho de Maldonado e dos colaboradores tem o importante papel de levantar novas potencialidades para a vacina, efeitos que devem ser mais bem avaliados por estudos bem desenhados para que o conhecimento científico possa se transferir para a prática clínica.” 

Abalo vem dos EUA - Rosana Hessel

O Federal Reserve, o BC dos Estados Unidos, corta mais US$ 10 bilhões dos estímulos à maior economia do planeta, independentemente do impacto nas nações emergentes

 

Rosana Hessel
Estado de Minas: 30/01/2014



Em sua última reunião à frente do Fed, Ben Bernanke manteve o corte (Karen Bleier/APF)
Em sua última reunião à frente do Fed, Ben Bernanke manteve o corte

Brasília
– Seguindo à risca a cartilha anunciada em dezembro do ano passado, o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, deu mais um passo ontem na redução dos estímulos à maior economia do planeta, aumentando a tensão entre os países emergentes, sobretudo os que abriram mão de reformas importantes, como o Brasil. São eles os que mais vão sofrer com a migração do capital para os EUA, que, futuramente, darão início a outro movimento importantíssimo: o aumento dos juros. O Fed cortou em mais US$ 10 bilhões, para US$ 65 bilhões, o programa de compras mensais de títulos que estão em poder do mercado.

Apesar do tremor que abalou as economias emergentes, que foram obrigadas a elevar drasticamente os juros – na Turquia, a taxa saltou de 7,75% para 12% ao ano –, o BC dos EUA já avisou que manterá o processo de redução dos estímulos ao longo de 2014. Deu, porém, uma amenizada temporária na tensão, pois reforçou a promessa de manter os juros próximos de zero por um bom período, mesmo depois de a taxa de desemprego norte-americana, atualmente em 6,7%, cair abaixo de 6,5%, e caso a inflação se mantenha próxima da meta de 2%.

O comunicado do Fed provocou alívio no governo de Dilma Rousseff. Apesar de, publicamente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, dizer que o Brasil está preparado para o tapering, como é chamado o corte de estímulos à economia dos EUA, o Palácio do Planalto vê com muita preocupação uma ação mais forte da autoridade monetária norte-americana. Como quase todos os indicadores do país pioraram – a dívida bruta está encostando nos 60%, a meta de superávit primário é cada vez menor, o crescimento econômico continua pífio e o rombo das contas externas bate recorde – os investidores andam arredios e não descartam o rebaixamento da nota de crédito brasileira.

A reunião de ontem foi a última de Ben Bernanke na presidência do Fed. Ele conduziu o banco em um território desconhecido nos oito anos em que ocupou o posto, construindo um balanço patrimonial de US$ 4 trilhões e mantendo os juros próximos de zero por mais de cinco anos para afastar a economia dos EUA do pior revés em décadas. Amanhã, passará o comando da autoridade monetária à atual vice-presidente, Janet Yellen.

Mudança Entre os investidores, não há, por enquanto, expectativa de grandes mudanças na política do Fed. Mas a grande maioria deles acredita que, já no início de 2015, Yellen dará início ao aumento dos juros, para evitar desequilíbrios na economia dos EUA, que vem se mostrando mais forte, sempre com revisões para cima do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

No comunicado pós-reunião, o Fed reconheceu que “a atividade econômica dos EUA ganhou fôlego nos trimestres recentes” e minimizou o fraco resultado da abertura de empregos em dezembro último. “Os indicadores do mercado de trabalho foram mistos, mas o balanço mostra melhorias”, destacou a instituição. Dados divulgados nas últimas semanas, incluindo os gastos do consumidor e a produção industrial, foram amplamente otimistas e alimentaram a tese de que os EUA estão melhorando. Analistas estimam que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA cresceu 3,2% no quarto trimestre, após o avanço de 4,1% nos três meses anteriores.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

MARTHA MEDEIROS - Vaquinha

Zero Hora 29/01/2014

O site www.vakinha.com.br permite que qualquer pessoa organize uma vaquinha com um propósito determinado, desde conseguir dinheiro para a festa de formatura da filha até reformar o teto da igreja, desde reunir fundos para uma cirurgia até realizar uma viagem para conhecer o neto que nasceu em Sergipe. A pessoa estipula quanto vai precisar e, ao alcançar a quantia desejada, sai automaticamente do site – não há excedente. As contribuições podem ser feitas por boleto bancário ou cartão de crédito, e, se não estou enganada, o valor mínimo é de R$ 5.

Atualmente, há uma vaquinha em prol do dono do carro incendiado durante um protesto em São Paulo. O serralheiro Itamar Santos passava com seu velho Fusca ano 75 e mais quatro pessoas, incluindo uma criança, na Avenida Consolação, quando foi surpreendido por colchões pegando fogo no meio do caminho. Achou que conseguiria desviar da barricada, não conseguiu e, quando deu por si, o veículo estava em chamas. Foi o tempo de estacionar e retirar todos de dentro. Uma sorte terem escapado ilesos, mas o Fusca deu perda total, e o serralheiro ficou sem o carro com que entregava portões, seu ganha-pão. Agora, há uma vaquinha em benefício do seu Itamar a fim de que ele receba R$ 10 mil: R$ 7,5 mil para comprar um novo fusca e R$ 2,5 mil para cobrir os dias que está sem trabalhar. Até este momento, foram coletados R$ 2.768,50.

Esmola eletrônica, exatamente. Mas o termo “vaquinha” é mais simpático. Gosto da ideia de que cada um de nós, doando uns trocados, pode colaborar para que alguém realize um sonho (terminar a obra da casa, fazer um tratamento dentário etc) ou que seja ressarcido por uma perda, como é o caso do seu Itamar, que, se fosse esperar providências das autoridades, ficaria anos passando o chapéu nas ruas sem jamais alcançar os seus R$ 10 mil. As pessoas são mais solidárias quando conhecem o problema de quem precisa. Por isso, a vaquinha realizada através de sites e redes sociais é mais eficiente, pois ficamos sabendo para quem vai o dinheiro e que uso terá.

Você pode estar pensando que há quem se aproveite desse recurso para projetos menos nobres, como organizar um churrasco para a galera. Sem problema. O que há de estranho? A galera convidada é quem contribui e o churrasco sai. Rachar a conta é o que importa, seja pelo meio que for.

Estranho seria alguém contribuir para alguma bizarrice, tipo, sei lá, deixe-me pensar em algo bem esquisito... Imagine que alguns políticos ajudaram a fazer com que nossos impostos não fossem utilizados de forma correta, que tenham roubado dos cidadãos que neles confiaram. Imagine que esses políticos foram condenados a devolver para o país, em forma de multa, o prejuízo causado, e que eles organizassem uma vaquinha para tal. Você contribuiria? Estranho seria isso. Você estaria pagando duas vezes o mesmo imposto.

Frei Betto - Sonegação global‏

Frei Betto - Sonegação global 
 
Se os US$ 18,5 trilhões estocados em paraísos fiscais pagassem impostos, os cofres públicos recolheriam o suficiente para erradicar a pobreza no mundo


Estado de Minas: 29/01/2014 04:00


A presidente Dilma participou pela primeira vez, na terceira semana de janeiro, do Fórum Econômico Mundial, em Davos. Assim como existe retiro espiritual, o evento sediado na Suíça equivale a um retiro pecuniário. Ali se reúnem os donos do mundo. Entre os quais 85 pessoas que, juntas, acumulam uma fortuna de US$ 1,7 trilhão – o mesmo valor que possuem 3,5 bilhões de pessoas, a metade da população do planeta.

Este dado acima foi divulgado, em janeiro, pela organização britânica Oxfam. Ela alerta ainda que, em 2013, o número global de desempregados atingiu a cifra de 202 milhões. Em decorrência da acumulação privada da riqueza, as bases da democracia estão sendo minadas.

O fim da Guerra Fria atenuou a tensão entre o Leste e o Oeste do mundo. No entanto, a desigualdade social crescente agrava a disparidade entre o Norte e o Sul. Segundo Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, o PIB dos países ricos está encolhendo. O da Grécia sofreu uma redução de 25% desde 2008. O do Brasil ficou em torno de 2% em 2013.

Nos EUA, segundo Stiglitz, 95% dos ganhos na economia se concentram em mãos de 1% da população, os que ocupam o topo da pirâmide social. Ele conclui: “Mesmo antes da recessão, o capitalismo ao estilo americano não estava funcionando para uma grande parte da população”. A renda média do cidadão estadunidense é, hoje, inferior à renda média de 40 anos atrás.

Ao contrário do esperado, nos últimos anos as políticas impostas pelos donos do poder só agravaram a desigualdade social, devido a fatores como desregulamentação financeira; ampliação dos paraísos fiscais e do sigilo bancário (o narcotráfico agradece); práticas comerciais anticoncorrenciais; impostos menores para os rendimentos mais elevados; e redução de investimentos em serviços públicos. Desde o início da década de 1980, dos 30 países pesquisados pela Oxfam, em 29 os ricos pagam cada vez menos impostos.

E o governo do PT, quando fará a reforma tributária tão alardeada em seus documentos e discursos originários?

Estima-se que os paraísos fiscais guardem, livres dos olhos e da boca do Leão, US$ 21 trilhões! Na Índia, como no Brasil, o número de bilionários aumentou 10 vezes na última década, graças a uma estrutura tributária fortemente regressiva. Na Europa, a crise financeira impôs austeridade às classes média e pobre, enquanto os governos socorrem com recursos públicos empresas e instituições financeiras em dificuldades. (No Brasil, a galinha dos ovos de ouro se chama BNDES.).

A miséria e a pobreza que afetam 4 bilhões de seres humanos – para os quais o capitalismo fracassou – advêm de várias causas, entre as quais se destacam a imunidade e a impunidade do crime de sonegação fiscal. A riqueza financeira líquida global (exceto imóveis) é calculada em US$ 94,7 trilhões (dado de 2012). Dos quais US$ 18,5 trilhões se encontram estocados em paraísos fiscais. Se essa fortuna avarenta pagasse impostos, os cofres públicos recolheriam US$ 156 bilhões, o suficiente para erradicar duas vezes a pobreza extrema no mundo.

O documento The price of offshore revisited, de James Henry, ex-economista-chefe da consultoria McKinsey, revela que os bilionários brasileiros acumulavam em paraísos fiscais, até 2010, US$ 520 bilhões (cerca de R$ 1,3 trilhão).

A Oxfam propôs em Davos algumas medidas: 1) Tributação progressiva. Quem ganha mais paga mais impostos. 2) Fim do financiamento de campanhas eleitorais por pessoas jurídicas (tomara que o STF ouça o apelo!). 3) Transparência de todos os investimentos públicos em empresas e fundos de pensão. 4) Priorizar os recursos públicos para saúde, educação e seguridade social. 5) Salários compatíveis com as necessidades vitais dos trabalhadores. 6) Acabar com a pobreza extrema no mundo até 2030 (sobrevivem na pobreza extrema todos que possuem uma renda diária inferior a US$ 1,25 (= R$ 2,95)).

Prevê-se que em 2030 estarão na pobreza extrema 342 milhões de pessoas. Hoje, são pouco mais de 1 bilhão. A redução se explica pelo aumento de recursos dos governos em políticas sociais. No entanto, não se mexe uma vírgula na estrutura capitalista que produz pobreza extrema e agrava a desigualdade social.

Duvido que os donos do mundo reunidos em Davos darão ouvidos a apelos como o da Oxfam. Walt Disney, catequista do capitalismo, retratou bem na figura de Tio Patinhas a idolatria da fortuna. Ela inebria e escraviza seus devotos. O fetiche do dinheiro cega quem o possui, embora haja exceções.

FERNANDO BRANT » É fogo‏

FERNANDO BRANT » É fogo 

 
Estado de Minas: 29/01/2014




O fogo é belo e fascina. Mas ele bem longe de nós. O fogo é medonho, aterrorizante, tudo a ver com o inferno. Houve um tempo, em minha juventude em Belo Horizonte, que não era incomum grandes prédios da avenida principal se consumirem em chamas. A notícia do incêndio se espalhava por todos os cantos e as pessoas desciam dos bairros para assistir ao espetáculo. Todos ficavam a uma distância prudente, enquanto os bombeiros trabalhavam para que a tragédia não fosse maior. O fogo na noite era uma diversão inesquecível na metrópole calma.

A descoberta do fogo acelerou a civilização humana. Podia-se comer o alimento cozido, abandonando-se a necessidade de morder o cru, o que demandava tempo e esforço muito grande. E haja dentes para se incumbir da tarefa. Nossa arcada passou a ser mais delicada, propícia mais aos beijos do que às mordidas. Digo isso e os restaurantes de comida oriental, incrustados em todas as esquinas do Ocidente, me desmentem. O chique, hoje em dia, é se deliciar com as iguarias cruas.

De minha parte, conservo o jeito tradicional. Gosto muito de verduras e legumes que não sofrem cozimento. A diferença entre o sabor de uma cenoura mastigada ao natural e uma que vai ao fogão é oceânica. Adoro o craque- craque e o sabor da primeira. Mas carne crua, desculpem-me, só a humana nos atos de amor. Não sou um carnívoro fervoroso, mas quando me sirvo de boi, porco, peixe ou frango, exijo nenhuma gordura e que se passe bem. Pra lá de welldone.

A nega Luzia recebeu o Nero e queria botar fogo no mundo, diz o samba de Wilson Batista. Mas parece que não foi só ela que andou em contato com o imperador maluco. Virou febre nos cidadãos do Brasil e do mundo. O trem quebrou, bota fogo nele. O ônibus atrasou, risca o fósforo na gasolina. Não importa pensar que aí é que ele vai atrasar mais.

Não tem casa para morar ou terra para cultivar, fecha-se a rodovia e manda fumaça em pneus e outros objetos para que ninguém trafegue por ali. Mesmo que o problema esteja a quilômetros de distância e que os governantes não sejam incomodados em seus palácios, onde se come o cru e o cozido da melhor qualidade, pagos com o dinheiro de todos. Ali se queima o nosso dinheiro.

Mata-se a granel no presídio, a polícia chega e a reação não é contra a força militar. Toca-se fogo no ônibus que leva para casa famílias e crianças que querem apenas chegar em casa para brincar, divertir e dormir. Que o fogaréu se levante nas ruas de Kiev é justo, compreensível, pois é caso de combater a repressão e o frio.

Não seria mais produtivo dirigir nosso combustível para ações mais certeiras e humanas, mais inteligentes? Não seria mais útil apontar nossa fúria cívica para injetar mais democracia e transformar o país? Outubro vem aí.