A crise tem nome: democratite
Affonso Romano de Sant'Anna
Estado de Minas: 16/02/2014
Affonso Romano de Sant'Anna
Estado de Minas: 16/02/2014
Não adianta fingir
indiferença diante do que está acontecendo. Estamos todos metidos nisso.
Você pode não morar no Rio de Janeiro, mas mora no Brasil. E, se me
permitem, acho que tenho um diagnóstico para essa crise: estamos
sofrendo de democratite, doença que ataca as pessoas que têm uma noção
errada de democracia.
Isso se manifesta de várias maneiras. O governo, porque é populista e conta com alguns guerrilheiros e ex-torturados na sua chefia, tem medo de ser chamado de repressor. O Exército está acuado e recolhido, desgastado pela última ditadura. E a polícia, apesar de muitos avanços no Rio, é sempre vista sob suspeita. Com isso, abriu-se a porteira. Entramos no terreno da permissividade, que começa no Big brother, passa pelas novelas e chega às ruas.
Essa permissividade, esse viver num lugar que não tem lei nem rei leva a alguns mal-entendidos. O primeiro é ignorar que todo sistema tem lei e tem rei. A natureza não é o caos, que o digam os cientistas. A cultura é a implantação de leis e normas para propiciar a convivência e a produtividade.
Estou quase dizendo uma coisa que parece antiga, mas é moderníssima e essencial à vida comunitária: a relação entre ética e estética. O que ocorre nas ruas está acontecendo com as artes. Qualquer um pode se intitular artista e expor suas tolices. Ah, essa mania de ser contemporâneo! Há nisso um equívoco diabólico: lamento informar que nem todo mundo é artista. A maioria gostaria de sê-lo. Assim como há gênios, numa escala decrescente de valores há artistas medíocres e os não artistas.
O que faz a ideologia atual?
O que nos dizem as bienais e galerias de arte?
Dizem que todos são artistas, uma mentira que só interessa aos carreiristas.
Mas a ideologia atual vai da estética à ética e causa danos ainda maiores.
Sabemos que todo mundo tem direito a opinar, dizer o que pensa, botar sua palavra no Facebook, no blog. Claro que têm esse direito, até a Constituição garante esse privilégio. Os jornais ampliaram a parte de opinião. Complicou-se a definição do que é opinião pública e opinião publicada. Mas acontece que as opiniões não se equivalem, não têm o mesmo peso e valor. A opinião de um cientista ou médico não pode ser comparada à de um leigo, à de alguém que nunca estudou fenômenos ou células.
O Brasil está levando a permissividade ao extremo. Temos uma palavra para isso: bagunça. Os estrangeiros veem isso claramente. Outro dia, uma revista publicou charges de uma francesa sobre como ela vê o nosso cotidiano. Um horror! Sem saber, ela estava dizendo algo que eu disse em Que país é este?: uma coisa é um país, outra um ajuntamento.
Se manifestantes com boas intenções são incompetentes para segurar os vândalos que se infiltram nas manifestações, seria bom que pensassem em nova tática. Atualmente, na confusão generalizada, parece que os manifestantes estão gritando como naquela música: “Chama o ladrão!”.
Ora, os bandidos estão a postos, rindo de nossa ingenuidade. Atendendo a esse chamado, eles botam máscaras, vão para as ruas e, em vez de coadjuvantes, passam a atores principais.
P.S.: Democracismo é a democracia pervertida. É achar que cada um faz a sua lei.
Isso se manifesta de várias maneiras. O governo, porque é populista e conta com alguns guerrilheiros e ex-torturados na sua chefia, tem medo de ser chamado de repressor. O Exército está acuado e recolhido, desgastado pela última ditadura. E a polícia, apesar de muitos avanços no Rio, é sempre vista sob suspeita. Com isso, abriu-se a porteira. Entramos no terreno da permissividade, que começa no Big brother, passa pelas novelas e chega às ruas.
Essa permissividade, esse viver num lugar que não tem lei nem rei leva a alguns mal-entendidos. O primeiro é ignorar que todo sistema tem lei e tem rei. A natureza não é o caos, que o digam os cientistas. A cultura é a implantação de leis e normas para propiciar a convivência e a produtividade.
Estou quase dizendo uma coisa que parece antiga, mas é moderníssima e essencial à vida comunitária: a relação entre ética e estética. O que ocorre nas ruas está acontecendo com as artes. Qualquer um pode se intitular artista e expor suas tolices. Ah, essa mania de ser contemporâneo! Há nisso um equívoco diabólico: lamento informar que nem todo mundo é artista. A maioria gostaria de sê-lo. Assim como há gênios, numa escala decrescente de valores há artistas medíocres e os não artistas.
O que faz a ideologia atual?
O que nos dizem as bienais e galerias de arte?
Dizem que todos são artistas, uma mentira que só interessa aos carreiristas.
Mas a ideologia atual vai da estética à ética e causa danos ainda maiores.
Sabemos que todo mundo tem direito a opinar, dizer o que pensa, botar sua palavra no Facebook, no blog. Claro que têm esse direito, até a Constituição garante esse privilégio. Os jornais ampliaram a parte de opinião. Complicou-se a definição do que é opinião pública e opinião publicada. Mas acontece que as opiniões não se equivalem, não têm o mesmo peso e valor. A opinião de um cientista ou médico não pode ser comparada à de um leigo, à de alguém que nunca estudou fenômenos ou células.
O Brasil está levando a permissividade ao extremo. Temos uma palavra para isso: bagunça. Os estrangeiros veem isso claramente. Outro dia, uma revista publicou charges de uma francesa sobre como ela vê o nosso cotidiano. Um horror! Sem saber, ela estava dizendo algo que eu disse em Que país é este?: uma coisa é um país, outra um ajuntamento.
Se manifestantes com boas intenções são incompetentes para segurar os vândalos que se infiltram nas manifestações, seria bom que pensassem em nova tática. Atualmente, na confusão generalizada, parece que os manifestantes estão gritando como naquela música: “Chama o ladrão!”.
Ora, os bandidos estão a postos, rindo de nossa ingenuidade. Atendendo a esse chamado, eles botam máscaras, vão para as ruas e, em vez de coadjuvantes, passam a atores principais.
P.S.: Democracismo é a democracia pervertida. É achar que cada um faz a sua lei.
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