domingo, 16 de fevereiro de 2014

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Educação e amor‏

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Educação e amor
Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 16/02/2014





Pelo título não preciso dizer qual será o conteúdo do artigo. E não será surpresa para nenhum brasileiro ler aqui que o Brasil está entre os 10 países com o maior índice de analfabetismo de adultos. Também não será novidade dizer que o investimento no professorado e nas escolas públicas não cobre nem sequer parte da necessidade. Professores da escola pública não compram livros com o desonroso salário recebido.

Qual seria a novidade dos muitos lotes de merenda escolar perdidos por falta de administração e distribuição? Se fizéssemos uma pesquisa entre os jovens do ensino público, salvo raríssimas exceções, veríamos baixos índices de instrução, muitos são semianalfabetos.

E que a política de protecionismo no Brasil facilita com cotas para os menos favorecidos a entrada na universidade, que, ao final, cairá de nível se quiser que os alunos acompanhem sua grade de ensino.

Há uma cascata de consequências para um país cuja população não obteve instrução e não aprendeu a importância da civilidade. De nada adianta maquiar a realidade, sabemos que não há muito de novo no front. A violência espelhada na mídia diariamente indica completa falta de perspectiva de um futuro melhor.

A miséria diminuiu, mas a violência e a marginalidade não. A discrepância entre ricos e pobres permanece enorme. A corrupção continua exemplar. O assassinato recente de um rapaz no Bairro Gutierrez, ele não reagiu à abordagem dos ladrões que pretendiam levar o carro, demonstra que eles não tinham mais nada a perder. Nada mais importa senão a vingança contra aqueles que têm o que perder.

A morte de Santiago, cinegrafista carioca atingido quando trabalhava, e o homem amarrado ao poste e espancado por justiceiros são afinal atos de agressividade igualmente fora da lei, embora no segundo caso seja contra um marginal. Mas não se pode ignorar a lei.

Seria uma grande novidade, e foi Rita Lee quem deu a ideia em rede social, fazer um Big Brother com os candidatos a cargos políticos, para que a população conhecesse as pessoas em quem vota. Ou ainda se fizéssemos pesquisa entre autoridades e políticos para saber quantos mandaram seus filhos para a escola pública brasileira.

Acredito que um dos fatores de maior risco social é a desigualdade e a consequente desestruturação da família. Uma família sem condições de prover a educação de sua prole lançará seus filhos ao mundo no abandono e desamparo. Filhos desamados e miseráveis de afeto serão sempre pessoas em risco.

Na novela Amor à vida, que acabou recentemente, mostrou-se a que extremos pode chegar um homem que sofreu a rejeição e o desprezo do pai. Félix fez muitas maldades e se mostrou monstruoso.

Embora as redes sociais estivessem mais atentas à possibilidade de um beijo gay, creio que o mais importante no desfecho da novela foi a reconciliação entre o pai e o filho. A declaração de um pai e o reconhecimento e acolhimento amoroso de um filho podem ser curativos e salvadores. O pai honra um filho tornando-o homem.

A novela aponta o esforço feito por um filho pelo pai, para ser importante para o pai. Apesar de todo o desprezo e maus-tratos, ele não desistiu da busca por esse reconhecimento.

Se os pais soubessem a importância da paternidade na vida, educação e futuro do filho, seriam muito cuidadosos no desempenho desta função, capaz de honrar um homem, seja ele pobre ou rico. E o poder público também pode, ao conferir valor de fato ao cidadão, fazê-lo um homem de bem.

>>  reginacosta@uai.com.br

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