domingo, 16 de fevereiro de 2014

Eduardo Almeida Reis-Pilotos‏

Pilotos 
 
Brasileiro adora piscina, não só pelo clima quente como também porque parece coisa de rico 

 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 16/02/2014




Nos dias em que a sensação térmica nos Estados Unidos beirou os 50 graus celsius negativos, enquanto no Rio de Janeiro andava em volta dos 50 positivos, pensei nos pilotos comerciais, profissão que sonhei seguir quando tinha 17 anos e fui desiludido por um amigo, piloto da Força Aérea Brasileira (FAB), porque tinha e tenho astigmatismo miópico. Nada grave, enxergo perfeitamente sem óculos, mas tenho, hoje agravado pela presbiopia, também chamada vista cansada, presbiopsia, presbitia e presbitismo. Dá para imaginar o desconforto físico de um cavalheiro depois de um voo de 14 horas e uma variação térmica da ordem de 100 graus celsius. Pior que isso: as tripulações vêm e vão, ou vão e voltam, depois de um breve descanso. Deve ser de esborrachar, de deixar os organismos em pandarecos. Não é preciso ir muito longe. O escriba, depois de uma noite bem dormida, tira de letra os mistérios da informática. A operação para compor Tiro e Queda implica a redação num arquivo chamado “Notasdepé”, que é transferido para um quadrinho denominado “Microsoft Word 2010”, que por sua vez exige clique com o botão do lado direito do mouse num negócio chamado “Opções de colagem” depois de descobrir, no “Salvar como” destino desejado para a xaropada. De manhã cedo tiro a operação de letra. No turno da tarde, preciso parar para pensar cada uma das etapas. Será que um piloto cansado também se aperta nas emergências do voo? Receio que sim.

Piscinas

Brasileiro adora piscina, não só pelo clima quente como também porque parece coisa de rico. Sobrevoando cidades médias a gente vê bairros inteiros em que todas as casas têm piscinas. Penitencio-me de ter construído algumas por exigência das companheiras, mas nelas, piscinas, mergulhei poucas vezes. Nesta última virada de ano a tevê nos mostrou uma série de acidentes fatais com crianças nas piscinas. Na embalagem, os comunicólogos transformaram as piscinas em referência para a quantidade de chuva caída numa área. Um deles teve o descoco de informar que os temporais capixabas seriam suficientes para encher 2,5 mil piscinas olímpicas e os telespectadores continuaram desinformados, porque ninguém tinha condições de transformar em milímetros a água contida numa piscina olímpica, ou de realizar, imaginar, calcular o despejo das águas de 2,5 mil piscinas olímpicas numa região. Não bastasse isso, a tevê nos mostrou no final de janeiro episódio ocorrido na piscina de um hotel catarinense, em que uma menina teve um braço sugado pelo ralo da piscina e felizmente escapou com ferimentos leves. A retirada do bracinho exigiu até detergente e o toque divertido, na quase tragédia, foi proporcionado por quatro cavalheiros que tentavam esvaziar a piscina com baldes para 20 litros. Bem-intencionados, coitados, proporcionaram quadro de um ridículo assombroso: tentar esvaziar piscina de bom tamanho a baldadas de 20 litros. E aí cabe trocadilho, infame como todo trocadilhar: escusado é dizer que foram baldados os esforços dos quatro.

Notas paulistanas

O rapaz é simpático, bem-apessoado e ganha R$ 80 mil. Pagos os impostos, sobram mais que 50 mil, salário razoável para um jovem de 20 e pouco anos. Cobriu as férias de seu chefe, sessentão, que ganha R$ 230 mil, salário digno de apresentador televisivo que lidera a audiência em seu horário. São números citados por uma revista de circulação nacional. O chefe tem estilo próprio, que deve deleitar o público telespectador. O rapaz ainda é fraco, mas vai melhorar com o tempo. Em números redondos, o chefe ganha R$ 100 mil por mês. Admitamos que, pagos os impostos, sobrem R$ 70 mil suficientes para comprar, todo mês, um carro de boa qualidade. Apê supimpa em BH custa mais de quatro anos de salários, mas o sessentão, carioca, reside em São Paulo, que teve manifestação pacífica no dia em que completou 460 anos. O pacifismo paulistano, segundo nos mostrou ao vivo o telejornal das 20h, quase destruiu um carro da Guarda Civil Metropolitana, queimou um fusca de forma irrecuperável, quebrou lojas e concessionárias. Assim, os festejos programados para as 22h foram adiados sine die, locução adverbial latina que significa “sem fixar uma data futura”. O pessoal está brincando com as manifestações, com os rolezinhos e outros “eventos” que podem evoluir para situações catastróficas. Longe de mim a ideia de fazer terrorismo midiático, mas os fatos mostram que é preciso repensar o Brasil.

O mundo é uma bola
16 de fevereiro de 1267: assinada por Afonso III, de Portugal, e Afonso X, de Castela, a Convenção de Badajoz que define as fronteiras divisórias entre os reinos de Portugal e Leão, garantindo a soberania portuguesa no Algarve. Em 1773, as distinções entre cristãos-velhos e cristãos-novos são abolidas em Portugal. É igualmente decretada a destruição dos registros cadastrais dos judeus. Em 1832, Charles Darwin em sua volta ao mundo a bordo do HMS Beagle visita os Penedos de São Pedro e São Paulo, que, como todo mundo ignora, são pequenas ilhas rochosas. O arquipélago pertence a Pernambuco, dista 627 quilômetros de Fernando de Noronha e o ponto mais próximo no continente fica no Rio Grande do Norte, às voltas com o entra e sai da ilustre governadora Rosalba Ciarlini. Hoje é o Dia do Repórter.

Ruminanças


“Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes” (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o barão de Itararé, 1895-1971).

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