Zero Hora 16/02/2014
O calor, que bem pode ter diminuído até a publicação desta coluna mas que certamente vai nos assombrar por muito tempo, acaba sendo o tema da maior parte dos assuntos e pensamentos. Notou como anda todo mundo irritado? Bebês chorando, crianças brigando, adultos se estranhando. Parece que até o Bento, o cachorro-galã, andou mordendo um carteiro. A dona dele afirma que, com temperaturas abaixo dos 30 graus, o peludo jamais faria isso.
Em um dos picos de quentura da semana passada, vi no estacionamento de um shopping uma briga que quase terminou com um tiro. Por causa de uma vaga. E o que dizer das pessoas sem condução para ir e voltar exatamente quando a temperatura entrou em ebulição? Greve sim, mas um pouquinho de consideração com os usuários não faria nada mal ao movimento. Além do calor como ele é, ainda existem as condições que determinam a tal da sensação térmica. Ou sensação de inferno, como seria mais apropriado chamar. Ganha força a tese de que Porto Alegre se desprendeu da Terra e agora orbita muito próxima ao sol. Aqui, os acessórios que não podem faltar na indumentária das mulheres modernas custam bem menos do que uma bolsa Prada ou uma sandália Manolo: são uma toalha e uma sombrinha.
Fenômeno: os condicionadores de ar e ventiladores sumiram das lojas. Ventilador, vá lá. Tem de todos os preços e, apertando aqui e ali, dá-se um jeito de comprar. Mas condicionador de ar é caro. E precisa de instalação, que para acessível não serve. Como disse um vendedor: é mais fácil encontrar um bilhete premiado da megasena que um ar-condicionado na cidade. Na última passada pelas lojas, lista de espera de 10 dias úteis – ”mas pode ser mais, a gente nunca garante”. Ao que um senhor respondeu: “Em 10 dias, meu amigo, eu já virei um Doritos torrado, crocante e com sabor bacon”.
É preciso estar sempre com a roupa de baixo bonitinha porque nunca se sabe quando pode acontecer um acidente. Lembrei das palavras da minha avó ao perceber um zumbido nos ouvidos, um enjôo insuportável e o mundo fora de foco. Era tanto calor que a pressão despencou e desmaiei mesmo, eu que sou um cavalo de tão forte. Ou esse inferno dá uma trégua ou a próxima coisa a terminar na cidade serão os estoques de roupa de baixo bonitinha.
Voltando a Deneuve, que dá título à coluna. Quando esteve no Rio de Janeiro em 2011 para promover seu filme Potiche, ela acendeu um cigarro em plena coletiva e esse fato virou um assunto muito mais importante do que a entrevista. Chateada, reclamou: “Não sabia que não se podia fumar. Na França, se o dono da casa não se importar, fuma-se. Eu atravessei o oceano para trabalhar aqui e ninguém fala disso, só do meu cigarro. Já pedi desculpas, o que mais posso fazer? O mundo politicamente correto é uma chatice”. E sobre ser uma musa já com mais de 70: “Minha sorte é que não filmo nos Estados Unidos, onde quase não existem papeis para atrizes mais velhas. Envelhecer é mais fácil para as europeias e as latinas”. Boa atriz, inteligente, não tem rosquinha no umbigo e, ao que tudo indica, não sua. Dane-se a idade, a Deneuve ainda é a mulher perfeita.
De tudo o que a semana trouxe de pesado, nada foi pior do que ficar sem o Nico Nicolaiewsky. Não que eu o conhecesse muito, ia aos shows e, bem de vez em quando, o encontrava por aí. Volta e meia, um abraço no Olímpico, na alegria e na tristeza. Se para a gente, que admirava como fã, é duro, imagina para a Márcia, a Nina e a família. Muita força para elas.
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