O estilo é o boleiro
O golaço da Suécia contra a Inglaterra não pode ser patenteado como uma bicicleta clássica à Leônidas
Amigo torcedor, amigo secador, há mais semelhança entre os escritores e jogadores de futebol do que supõe a crônica esportiva.O gol do Ibrahimovic, por exemplo, foi obra de um Haruki Murakami, o narrador pop de um certo Japão ocidental.
O golaço da Suécia contra a Inglaterra não pode ser patenteado como uma bicicleta clássica à Leônidas da Silva, o Diamante Negro. Foi algo mais próximo, plasticamente, de um golpe de Bruce Lee ou do filme das adagas voadoras. Ibra é chegado às artes marciais, como sabemos.
Fã confesso do Murakami, o atacante do Paris Saint-Germain replica seu estilo. Assim como Ganso, que retorna amanhã com uma nova camisa, a do São Paulo, é o nosso Graciliano Ramos. Na elegância, no corte seco, nos passes precisos e até no jeito tímido e carrancudo.
O velho Graça, naturalmente, desprezaria esta comparação. O autor de "Angústia" detestava futebol. Era uma modinha estrangeira que não teria chance no país. O esporte nacional, segundo o escritor, seria sempre a rasteira.
Segue a peleja. No jogo contra a Colômbia, o amigo Fernando Barros e Silva cravou um chiste certeiro sobre futebol e estilo: "Esse pênalti do Neymar é como se o Machado de Assis de repente escrevesse Marimbondos de Fogo".
O livro sobre os insetos incendiários, de 1978, reúne poemas do senador José Sarney. A obra foi decisiva para fazê-lo imortal da ABL. Na galhofa da turma do "Casseta & Planeta", o político maranhense faria uma trilogia com mais dois volumes: "Marimbondos de Porre" e "Marimbondos de Ressaca".
Neymar realmente é machadiano. Quem, porém, não comete suas pisadas?
Até o Messi sofre diante do placar em branco como uma página que desafia o escriba. O argentino seria um Jorge Luís Borges ou um Júlio Cortázar? Um pouco dos dois em uma pegada mais veloz. Vestiria a mesma camisa que o chileno Roberto Bolaño usou na literatura.
A todo escritor corresponde um boleiro e vice-versa. O contista tricolor Sérgio Sant'Anna, autor de "Páginas sem Glória", é o Rivelino da máquina do seu Fluminense.
Ronaldinho Gaúcho, na sua temporada mineira, teve um campeonato de Guimarães Rosa. Invenção e resultado ao mesmo tempo. Assim como todo o time do Corinthians que vai ao Japão usou o arrojo de um João Cabral na poesia sob medida do Tite.
O Grêmio teria sido um aguerrido João Simões Lopes Neto? No Brasileirão sim, bravo como os contos gauchescos, apesar de fracassar na Sul-Americana.
A Lusa seguiu na sua camoniana sina: o mundo gira e a lusitana roda. Sempre na faixa de risco da Segundona.
O Sport Recife não honrou seus dois ilustres e grandes escritores: Raimundo Carrero e Ariano Suas-suna.
Finalizo com Fiori Gigliotti e o seu Palmeiras. Sim, um narrador esportivo na categoria de Fiori é um poeta condoreiro.
Fecham-se as cortinas e termina o espetáculo.
Até a próxima.
@xicosa
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