sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Papo reto - Carolina Braga‏

MV Bill estreia como apresentador de TV no programa O bagulho é doido, que será exibido pelo Canal Brasil. Rapper abordará temas como segurança e preconceito no setor cultural 

Carolina Braga
Estadode Minas: 09/11/2012 




Ele não queria um programa “engessado”. Também era fundamental ter liberdade para falar com quem quisesse e do que quisesse. Trato feito, estreia hoje, às 23h30, no Canal Brasil, O bagulho é doido, programa idealizado e apresentado pelo rapper MV Bill. “Estou encarando uma coisa completamente nova”, diz ele. Com cerca de 25 minutos, cada um dos 14 episódios traz uma entrevista.

O nome da atração é referência a uma das faixas de Falcão – O bagulho é doido, disco de MV Bill lançado em 2006. Mais que convidar personalidades, o músico procurou conversar com pessoas que ele considera importantes. O fato de serem ou não famosas não importa. Na estreia, Bill, bate papo com José Mariano Beltrame, secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro. O cenário da gravação é o adro da Igreja da Penha, na Zona Norte carioca.

Também participarão da série a cantora paraense Gaby Amarantos, o sambista Arlindo Cruz, o cineasta Cacá Diegues, o rapper Projota, a jornalista Maria Beltrão e o produtor cultural Haroldo Costa, entre outros. “O resultado de cada conversa me surpreendeu. Aprendi com todas elas”, conta Bill. Ainda que sua experiência no posto de entrevistador de TV seja novidade, ele já desempenhou essa função no cinema. Comandou o documentário Falcão – Meninos do tráfico, que conta a história de 17 garotos recrutados por traficantes em favelas do país.

MMA 

Morador da Cidade de Deus, na Zona Oeste carioca, MV Bill sempre procura associar a carreira artística a ações voltadas para a comunidade. Além do programa, ele prepara a gravação de EP, cuida da organização de um torneio de MMA e de um torneio de futebol para moradores das favelas do Rio de Janeiro. Também participa como ator do filme romântico Dia dos Namorados, de Roberto Santucci, e da gravação do videoclipe de sua canção O soldado que fica.

A nova música conta a história de um jovem policial escalado para ficar na favela depois da implantação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). “Ele acha que está defendendo o coletivo, mas quando se vê cercado pela ocupação, percebe que está sozinho. É o exército de um homem só”, revela o rapper.

As UPPs e o projeto de pacificação de favelas, pondera MV Bill, devem ser analisados com cautela, pois a implantação dessas unidades ainda é recente, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo. “Ainda que a intenção seja pacificar, ocupar não é suficiente. Ocupar a favela é uma coisa, pacificar é outra. A pacificação se dá quando temos outros tentáculos do governo, além do braço armado, adentrando nesses lugares. A polícia pode garantir segurança. Entretanto, os serviços básicos vêm de outros exércitos: professores bem pagos e estimulados, muita saúde, agentes na área social, trabalho, renda, habitação. Enfim, outros tentáculos governamentais precisam entrar”, adverte.

Bagulhinho em ação



O bagulho é doido aposta na diversidade de temas, explica MV Bill. Se a segurança está em voga na estreia, com a cantora Gaby Amarantos o papo abordará preconceitos cristalizados na indústria do entretenimento. Os programas foram dirigidos por Anderson Quak. 

“Há um roteiro. Fico com o papel na mão, mas nem sempre sigo o que está ali. Às vezes pergunto coisas que estão na minha cabeça e são até mais interessantes que o roteiro”, explica. Um personagem foi criado especialmente para participar da sabatina. Perguntas espinhosas ficarão por conta do boneco Bagulhinho, criação do mineiro Evandro Luiz da Rocha. Ele venceu concurso promovido na internet. Cerca de 100 desenhos foram enviados por artistas de todo o país. 

A entrevista funciona como o carro-chefe de O bagulho é nosso, mas a música terá espaço. Ao fim de cada episódio será exibido um videoclipe brasileiro. “Sempre tive vontade de ser VJ. É a minha oportunidade”, conta o rapper.

Saiba mais
Ele joga em todas





Alex Pereira Barbosa, o MV Bill, nasceu no Rio de Janeiro, em 1974. Escritor, compositor, documentarista, roteirista e militante na política e em movimentos negro e social, ele recebeu os prêmios Unesco – Categoria Juventude; o Prêmio de Direitos Humanos, concedido pelo Ministério da Justiça; Cidadão do Mundo, pela ONU; e Wladimir Herzog, do Sindicato de Jornalistas de São Paulo. 

Em 2005, em parceria com o produtor Celso Athayde e o antropólogo Luiz Eduardo Soares, publicou o livro Cabeça de porco. Em 2006, chamou a atenção do país com o documentário Falcão – Os meninos do trafico, dele e de Athaíde. Em 2006, lançou o livro Falcão, os meninos do tráfico, seguido de Falcão – Mulheres do tráfico (2008). Como ator, dividiu a cena com Nanda Costa (foto) no filme Sonhos roubados, dirigido por Sandra Werneck, sobre garotas moradoras de favelas cariocas.

O BAGULHO É DOIDO
Hoje, às 23h30, no Canal Brasil

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