sexta-feira, 9 de novembro de 2012

HÉLIO SCHWARTSMAN


O espectro da polarização

SÃO PAULO - Vencida a eleição, o presidente Barack Obama, que fez maioria no Senado, mas não na Câmara, voltará a ser assombrado pelo espectro da polarização partidária, isto é, o clima de guerra que se instalou entre democratas e republicanos, no qual um tenta sabotar as iniciativas do outro mesmo que fazê-lo cause prejuízos para o país.
O fenômeno não é exatamente novo. Nos primórdios da América, representantes de facções políticas rivais não apenas cultivavam com muito esmero suas divergências como chegaram, numa ocasião, a enfrentar-se em duelo. A diferença é que agora não dependemos mais de anedotas para atestar a polarização, que pode até ser representada graficamente com auxílio de uma escala, a DW-Nominate, desenvolvida para traduzir em números o comportamento ideológico de parlamentares.
Para encurtar a história, vários estudos mostram que os congressistas de centro, ainda bastante comuns nos anos 60 e 70, quase desapareceram. Pior, os representantes de ambos os partidos têm abraçado posições cada vez mais radicais.
Várias hipóteses foram levantadas para explicar o movimento. Elas incluem o realinhamento do Sul conservador, que saiu das mãos dos democratas nos anos 50 para tornar-se solidamente republicano nos 70; a centralização de poder nas mãos das burocracias partidárias; a adoção de primárias para a escolha dos candidatos; e o redesenho de distritos.
Nenhuma dessas alternativas, que são polêmicas na academia, esclarece sozinha o aumento da polarização, mas seria precipitado cravar que não contribuíram para o fenômeno.
E é bom ter essas questões em mente, já que, no Brasil, várias das propostas de reforma política em circulação falam em reforçar o poder dos partidos, adotar primárias e algum tipo de voto distrital. Não é que sejam más ideias, mas, em política, quase toda mudança produz efeitos colaterais nem sempre antevistos.

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