sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Cenário externo é desafio em 2º mandato de Obama - Igor Gielow


ANÁLISE
Cenário externo é desafio em 2º mandato de Obama
IGOR GIELOWSECRETÁRIO DE REDAÇÃODA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A doutrina militar de Obama preconiza o que os "falcões" de Bush pediam

Passado o oba-oba eleitoral, um cenário sem soluções simplistas espera Barack Obama no campo em que os Estados Unidos são líderes incontestáveis: o militar.
Um dos fatores para a benevolência de boa parte do mundo em relação a Obama é sua imagem apaziguadora, contraposta ao militarismo associado aos anos Bush.
Em favor do presidente, ele pôs um fim político ao capítulo de intervenções no Iraque e no Afeganistão, ainda que problemas permaneçam.
Mas ele o fez mais por contingências: as guerras eram impagáveis. Significativamente, o marco final da antiga guerra ao terror foi um assassinato violando soberania nacional (Bin Laden no Paquistão). Denúncias de tortura diminuíram, mas a prisão de Guantánamo, ícone da "maldade" republicana, segue aberta.
O Paquistão continuará a ser uma fonte de preocupação, mas a saída das tropas americanas do vizinho Afeganistão levará a dúvidas sobre o futuro do sul da Ásia, tenso e com rivais nucleares em Islamabad e Nova Déli.
Mais: a doutrina militar de Obama preconiza o que os "falcões" de Bush pediam - execuções, uso de forças especiais e aviões-robôs que não respeitam fronteiras.
O terrorismo islâmico virou um fator perene da paisagem. Na Líbia, o não intervencionismo de Obama cozinhou no mesmo pote a queda de uma ditadura, extremistas e mais instabilidade.
Sobre a agônica Síria, há uma grita para que Obama ajude a derrubar o regime, o que será postergado ao máximo, dada a incógnita do que pode acontecer por lá. Ironia: o mundo que reclamava do militarismo de Bush hoje clama por bombas americanas.
Coroando o monstro a ser encarado está o Irã. Especulava-se que uma vitória de Romney daria sinal verde a Israel para um ataque contra o programa nuclear do país, e que o triunfo obamista manteria a diplomacia à frente.
Isso tudo não parece certo, embora a retórica do governo de Netanyahu não possa ser levada ao pé da letra.
Seja como for, esse é o maior nó a ser desatado no curto prazo. No Oriente Médio, há ainda a questão israelo-palestina, para a qual Obama mostrou-se basicamente indiferente.
O direcionamento do poderio dos EUA para o Pacífico que assiste a uma China emergente deverá continuar, mas não parece provável que os problemas pontuais como a disputa Pequim-Tóquio por ilhotas descambem para algo maior no curto prazo.
Esta é uma lista curta. Há sempre a imprevisibilidade norte-coreana, algum arroubo russo em sua vizinhança.
E há o fato de que Obama terá de concentrar-se nos graves problemas domésticos de um país em que quase metade dos eleitores o rejeitou.
Se isso levar a uma inapetência reativa em relação às questões mundiais, caberá à realidade testar a eficácia do sorriso amplo do presidente negro de sobrenome muçulmano para lidar com um mundo mais complexo.

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