Vai indo que eu não vou
No sábado seguinte ao Dia da Criança, a jornalista Juliana Centini, 28, decidiu levar o filho de dois anos a uma exposição sobre "Como Nasce um Brinquedo". Ela tinha consultado o "Guia Folha" na internet e ficou animada com um molde gigante do Woody, o caubói de "Toy Story", que o menino adora.
Juliana atravessou a cidade: da sua casa na zona norte ao Shopping SP Market, são 36 quilômetros. "Não era nada do que estava descrito. Meu filho ficou frustrado", conta.
O pequeno Artur tinha razão. A exposição resumia-se a dezenas de bonecos expostos em cubos apertados de vidro, nada muito diferente do que se encontra em uma loja de brinquedos. A explicação sobre como eles "nascem" aparecia em cartazes colados à parede, no melhor estilo feira de ciências dos anos 70. O molde do Woody era só uma foto.
Quem cria filho em São Paulo sabe como é difícil arrumar programa de fim de semana. Na revista sãopaulo de 21 de outubro, entre as dicas selecionadas para crianças, estava outra exposição, essa de livros de pano ("Manos que Cuentan").
A descrição da mostra estava correta, mas não faz sentido incluí-la como opção de programa para toda a cidade. Eram só oito livros feitos por artesãs peruanas, sem nada de muito especial, dispostos em pequenas prateleiras de uma biblioteca pública no coração do largo 13. Quem mora nas redondezas pode ter gostado, mas pobre de quem enfrentou o trânsito de Santo Amaro para levar o filho até lá.
Outra sugestão errada para crianças é o Beco do Batman, na Vila Madalena, que aparece no ªGuiaº on-line. Apesar do nome, a viela, cuja graça são as paredes grafitadas, não é uma atração para pequenos.
Nem tudo o que está nos roteiros de lazer é checado ªin locoº. Não há tempo nem gente suficientes para visitar todas as mostras, fazer os passeios, assistir a todas as peças e filmes. Esse foi o problema com a dica do Shopping SP Market.
A Redação diz que "o melhor é sempre visitar o local, mas, em alguns casos, a atração é anunciada antes de estar pronta". A apuração, nesses casos, é feita por telefone e com as assessorias de imprensa.
No "Manos que Cuentan", a reportagem foi até o lugar e argumenta que "as opções listadas na revista não incluem só superproduções, porque há pais que preferem outros tipos de atividade". Difícil de engolir. Entre um show do Cirque du Soleil e a exposição feita para os frequentadores da biblioteca, há um abismo gigantesco.
Ao longo dos anos, os roteiros de lazer cresceram muito e o pioneiro "Guia Folha" é o melhor da cidade. Há uma preocupação saudável de selecionar opções para diferentes bolsos e regiões, mas talvez esteja na hora de pensar menos em extensão e mais em qualidade.
Em assuntos como cinema, é essencial listar tudo o que está em cartaz, porque existe cinéfilo que não se importa em pegar dois ônibus e fila para assistir a um filme turco sobre "um casal sufocado pelo vazio e monotonia do cotidiano".
Já outros roteiros, como o destinado a crianças e o de passeios, podem ter menos itens, mas apurados com mais cuidado. É um jeito de eliminar barcas furadas.
DROGA NA USP
A polícia fez um achado surpreendente: um túnel de 15 metros usado por traficantes para vender drogas perto da Cidade Universitária. Segunda surpresa: a notícia virou manchete da Folha de quinta-feira, com duas fotos na capa.
Dois dias antes, a ocupação da favela de Paraisópolis, fato muito mais importante, mereceu uma chamada pequena. Inflaram um assunto menor, dando vazão, na internet, a toda sorte de impropérios contra a USP. Jeito fácil de chamar a atenção e criar polêmica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário