Zero Hora - 07/12/2012
Outro dia um sujeito me perguntou:
– Que tal isso de ser formador de opinião?
Fiquei pensando. Formador de opinião. Uma função, um cargo. Poderia
abrir uma empresa para essa atividade específica. Algo moderno, com nome
em inglês: Formed Opinion S.A. Ou: Cia da Opinião. “Formam-se
opiniões”, diria o meu anúncio. “Você está sem assunto? Não sabe o que
pensar sobre economia, política, futebol? Nós temos uma opinião pronta
para você.
Por um preço módico, você levará para casa uma opinião ponderada ou
polêmica, engraçada ou dura, a opinião que mais combine com você, junto
com toda a argumentação para defendê-la. Procure-nos! E faça sucesso
social”.
Claro que poucos procurariam a empresa para adquirir opiniões sobre
futebol. Todo mundo acha que entende de futebol. Mesmo assim, para os
que quisessem ter opiniões exclusivas, nossos especialistas forneceriam
algumas sobre novos jogadores africanos que estão atuando na Europa.
Qualquer um que fale de novos jogadores africanos que estão atuando na
Europa parece entender muito.
Na economia é mais fácil formar uma opinião. A economia passa a
impressão de ser uma ciência, de que tudo nessa área é técnico,
matemático, resultado de estudos profundos e inacessíveis. Nós, da
Formed Opinion, sabemos que não. Sabemos que, ao contrário, tudo é vago
em economia, tudo é especulação e que tudo muda, às vezes
inesperadamente.
Sabemos mais: sabemos que Lulu Santos estava certo: a vida vem em
ondas, como o mar. Assim, as crises se sucedem. Está tudo bem com uma
economia? Não por muito tempo. Logo sobrevirá uma crise que a abalará.
Portanto, em economia você deve fazer alertas: diga que o país está bem,
mas que é preciso ter cuidado, que não se pode gastar tanto, que a
bolha vai furar. Funciona.
Agora, complicado mesmo é a política. Claro, você sempre pode
resmungar que todos os políticos são corruptos. Ninguém vai reclamar
dessa opinião, embora nós, da Formed Opinion, saibamos que não é
verdade, que os políticos são corruptos na medida da corrupção da
sociedade. O problema, na política, são certos personagens. Lula, por
exemplo. Lula é um carismático e, como todo carismático, ou é amado ou
odiado. Quer dizer: não é possível tecer considerações racionais acerca
de Lula.
Ou ele é todo ruim ou todo bom. Só que nós, no recôndito do
relacionamento com nossos clientes, podemos dizer a verdade: que Lula
tem predicados e defeitos, como qualquer um, e que seu governo os teve
ambos, predicados e defeitos. Mas nosso conselho é que você não opine
diretamente sobre Lula. Apenas faça observações espirituosas em cima da
opinião de alguém. Como fazer observações espirituosas? Desculpe, vamos
ter que refazer o orçamento. Ter opinião é fácil, fazer observação
espirituosa custa muito mais.
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