Zero Hora - 07/12/2012
O idealizador do fumódromo do prédio aqui da RBS deve ter sido o Albert Speer, o arquiteto de Hitler.
A temperatura ambiente do fumódromo é de 60°C. Se se colocar um
frango cru ali dentro do fumódromo, em 20 minutos ele estará assado.
Eu compreendo o ódio que se devota atualmente aos fumantes, mas é
demais obrigar-nos a frigir dentro de uma sala durante o consumo de um
cigarro, não havendo a mínima chance de estabelecimento de qualquer
diálogo em tais senegalescas condições.
Há uma câmera dirigida para a porta do fumódromo, onde está escrita uma imperial observação: “Conserve a porta fechada”.
Se a porta permanecer fechada, torram todos os fumantes lá dentro.
Quem foi o arquiteto, quem é o engenheiro, quem é responsável pela barbárie?
Estou reclamando porque deram meu nome ao fumódromo. Sinto-me representante dos grelhados.
Quando quero ler sobre alacridades frívolas, leio o Fabrício
Carpinejar. Quando quero ler sobre a privacidade dos faraós, leio David
Coimbra.
Quando quero ler sobre a severidade dos governantes antigos, tipo
Borges de Medeiros e Flores da Cunha, leio J. A. Pinheiro Machado.
Quando quero ler qualquer ataque às esquerdas, leio Percival
Puggina. E, se quero ler prescrições éticas à imprensa, dou de olhos no
que escreve o excelente Marcos Rolim.
Se quero ler sobre dosimetria das penas, prefiro o Cláudio Brito. E,
se quero me deliciar com a análise das idiossincrasias dos detentores
do poder, leio Paulo Brossard.
Se quero saber como andam as coisas na política estadual e
municipal, recorro a Rosane de Oliveira, não me esquecendo nunca do
Nílson Souza, da Bela Hammes, do Kadão Chaves, do Flávio Tavares e do
Roger Lerina.
Esse é o caleidoscópio semanal em que mergulho no meu jornal, além, é
claro, das lúcidas intervenções do Moisés Mendes e do Luiz Antônio
Araujo, sempre nos atraindo para aspectos inéditos do cotidiano.
Não deixo de parar por minutos para ler as notas atraentes do nosso Tulio Milman.
No esporte, vou de Diogo Olivier, Zini Pires e Ruy Carlos Ostermann.
Sendo assim, é grande o meu espectro jornalístico. Leio todos com
sofreguidão e análise crítica, crendo que eles também me leem, não são
bruxos para escapar.
O Verissimo e o Wianey, nos últimos dias, me deixaram na mão,
recolheram-se a hospitais, onde eu deveria estar e teimo em resistir aos
veementes chamados nosocomiais.
Não sei se os leitores estão notando, a minha represália continua em curso: como ninguém me cita, cito todos.
O jornal é uma cachaça e as colunas são pontos de atrativo. Eu, por
exemplo, antes de ser colunista, era grande leitor de colunas. Ainda
jovem me apaixonei pelos colunistas Nélson Rodrigues e Stanislaw Ponte
Preta, parece-me que da Última Hora.
Eu era operário, mas não sei de onde eu conseguia tirar dinheiro
para comprar todos os dias a minha Última Hora na banca de revistas da
Praça da Alfândega. Era um dever socioíntimo que eu tinha.
Recém deixado de ser menino, filava de meus parentes a revista O
Cruzeiro, na qual lia avidamente o texto mais brilhante que já conheci
em toda a minha vida: David Nasser.
Eram duas páginas que erigiam ou derrubavam um governo.
Antes, pois, de ser jornalista, fui insistente leitor e antes de ser
radialista eu era frequentador de programas de auditório, como o
célebre Rádio Sequência de todos os meios-dias, na Rádio Farroupilha da
Rua Siqueira Campos.
Eu até acho estranho que me tenha tornado produtor, porque na verdade eu sou intrinsecamente um grande consumidor de imprensa.
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