Negociador das Filipinas pediu urgência após um tufão que matou 500 em seu país
Ted Aljibe/France Presse | ||
Lenlen Medrino, sobrevivente de enchentes causadas por tufão nas Filipinas, é amparada ao cruzar rio em New Bataan |
GIULIANA MIRANDAENVIADA ESPECIAL A DOHA
Com a voz embargada, os olhos cheios de lágrimas e um discurso sem os eufemismos comuns nas negociações diplomáticas, o chefe da delegação das Filipinas deixou ontem a cúpula mundial do clima em silêncio.
"Por favor, chega de desculpas e atrasos. Abram os olhos para a dura realidade que nós enfrentamos. Se não for agora, quando será?", apelou Naderev "Yeb" Saño na última plenária de discussões sobre a extensão do Protocolo de Kyoto na COP-18, em Doha, no Qatar.
A atitude do até então discreto diplomata filipino gerou, além de lágrimas pelos corredores, muitas palmas por onde ele passou. Mas é difícil dizer se a bronca de Saño, cujo país acaba de ser atingido por um grande tufão que deixou mais de 500 mortos e centenas de desabrigados, será suficiente para promover alguma mudança de rumo na conferência.
Faltando 24 horas para o encerramento do encontro, os pontos mais polêmicos da discussão foram, como de costume, empurrados para o último dia de negociação.
A questão do financiamento tem travado a agenda. Todos parecem concordar que o aquecimento global é uma questão urgente e perigosa, mas poucos são os países dispostos a pagar a conta.
As nações em desenvolvimento, especialmente países africanos e as nações-ilhas, endureceram o discurso por mais verbas.
Na cúpula de 2009, na Dinamarca, ficou estabelecido que os países desenvolvidas doariam, em um chamado fundo rápido, US$ 30 bilhões até 2012. Mais US$ 100 bilhões seriam liberados por ano a partir de 2020.
Na ocasião, não foi feito um plano detalhado de como seria essa transferência. As nações em desenvolvimento pressionam por um documento que detalhe um financiamento progressivo.
Esses países estão pedindo US$ 60 bilhões escalonados até 2015 para combater e mitigar as consequências das mudanças climáticas. Até agora, as verbas anunciadas mal chegam a US$ 10 bilhões.
"Os valores não refletem a urgência do combate ao aquecimento global", resumiu o embaixador brasileiro André Corrêa do Lago.
O negociador-chefe do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo Machado, passou quase todo o dia em discussões ministeriais para acertar a extensão do Protocolo de Kyoto, considerado o principal objetivo da conferência.
Decisões sobre o período de vigência e o grau de comprometimento dos países também foram empurrados para o último dia.
"Ao andar pelos corredores deste evento, não parece que o aquecimento global é uma realidade que está afetando a vida de milhões de pessoas em todo o mundo", disse Wael Hmaidan, da CAN (Climate Action Network).
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