Maria Esther Maciel
Estado de Minas: 25/12/2012
Já ouvi dizer que a crônica de Natal é, quase sempre, a pior que um cronista escreve durante o ano. O que falar sobre uma data sobre a qual tudo já se falou? Como fugir das frases prontas, dos clichês, das mensagens edificantes? Não é fácil. Mesmo quando se tenta criticar o consumismo que tomou conta desse dia, cai-se no previsível. Denunciar a falsa alegria que move muitas pessoas nessa época também já se tornou lugar-comum, assim como falar de redenção e bons sentimentos, ou até blasfemar contra tudo isso. Não à toa Luis Fernando Veríssimo já disse numa crônica natalina que “os cronistas já fizeram tudo que havia para fazer com o Natal”.
Chegou minha vez de escrever uma crônica de Natal, ou seja, minha pior crônica do ano. Confesso que passei o dia todo pensando em possíveis motivos natalinos, com a ilusão de que poderia fugir à regra e fazer algo surpreendente. Em vão. Entre as várias ideias que tive, me veio a história de uma mulher solitária e infeliz, que, já tendo desistido de buscar um novo sentido para a vida, ouve a campainha de sua casa numa noite do dia 24 de dezembro e, ao atender, não encontra ninguém, até que vê um recém-nascido envolto em panos puídos ao pé da porta, chorando. Sobre o bebê, um bilhete com os seguintes dizeres: “Cuide bem dele, por favor, pois não dou conta nem de mim”. Um acontecimento (ou um presente) que muda radicalmente a vida da mulher, para sempre.
Cogitei ainda falar da menininha incrédula, que todo ano se levantava de madrugada, na noite de Natal, para ver se era mesmo o Papai Noel quem deixava os presentes para ela. Mas sempre dormia antes que ele aparecesse. Até que, certa noite, quando já tinha por volta de 10 anos, viu um velhinho de roupa vermelha entrando na sala, sem saber que, na verdade, estava sonhando que o via. E a partir de então, não duvidou mais da existência dele.
Poderia também recordar minhas noites de Natal na infância, quando enfileirava todos os meus sapatos ao lado da cama, na expectativa de ganhar muitos presentes. Não havia, entre nós, o hábito dos presentes sob a árvore. Eles eram colocados sobre os sapatos, no quarto. E quem os trazia não era um velho gordo e barbudo, mas um anjo azul envolto numa luz dourada, visível somente aos olhos das crianças muito pequenas. Pelo que me lembre, nunca cheguei a vê-lo ao vivo, embora às vezes o sentisse por perto.
Outra possível crônica poderia ser sobre as narrativas de Natal que os escritores inventaram, como a do velho avarento de Charles Dickens, a do peru de Natal, de Mário de Andrade, ou a da Missa do Galo, de Machado de Assis. Tem também o conto “Via crucis”, de Clarice Lispector, que trata de uma mulher chamada Maria das Dores e do nascimento de seu filho Emanuel num estábulo, ao som do mugido das vacas. Para não mencionar o belo “Natal na barca”, de Lygia Fagundes Telles, sobre uma barca de madeira carcomida, com quatro pessoas solitárias dentro, deslizando na escuridão de um rio, em plena noite natalina.
Sim, o Natal, apesar de ser data festiva, tem um quê de solidão e melancolia. E talvez aí esteja a sua maior beleza.
Já que falei o óbvio, resta-me terminar com a frase inevitável deste dia: feliz Natal para todos!
Chegou minha vez de escrever uma crônica de Natal, ou seja, minha pior crônica do ano. Confesso que passei o dia todo pensando em possíveis motivos natalinos, com a ilusão de que poderia fugir à regra e fazer algo surpreendente. Em vão. Entre as várias ideias que tive, me veio a história de uma mulher solitária e infeliz, que, já tendo desistido de buscar um novo sentido para a vida, ouve a campainha de sua casa numa noite do dia 24 de dezembro e, ao atender, não encontra ninguém, até que vê um recém-nascido envolto em panos puídos ao pé da porta, chorando. Sobre o bebê, um bilhete com os seguintes dizeres: “Cuide bem dele, por favor, pois não dou conta nem de mim”. Um acontecimento (ou um presente) que muda radicalmente a vida da mulher, para sempre.
Cogitei ainda falar da menininha incrédula, que todo ano se levantava de madrugada, na noite de Natal, para ver se era mesmo o Papai Noel quem deixava os presentes para ela. Mas sempre dormia antes que ele aparecesse. Até que, certa noite, quando já tinha por volta de 10 anos, viu um velhinho de roupa vermelha entrando na sala, sem saber que, na verdade, estava sonhando que o via. E a partir de então, não duvidou mais da existência dele.
Poderia também recordar minhas noites de Natal na infância, quando enfileirava todos os meus sapatos ao lado da cama, na expectativa de ganhar muitos presentes. Não havia, entre nós, o hábito dos presentes sob a árvore. Eles eram colocados sobre os sapatos, no quarto. E quem os trazia não era um velho gordo e barbudo, mas um anjo azul envolto numa luz dourada, visível somente aos olhos das crianças muito pequenas. Pelo que me lembre, nunca cheguei a vê-lo ao vivo, embora às vezes o sentisse por perto.
Outra possível crônica poderia ser sobre as narrativas de Natal que os escritores inventaram, como a do velho avarento de Charles Dickens, a do peru de Natal, de Mário de Andrade, ou a da Missa do Galo, de Machado de Assis. Tem também o conto “Via crucis”, de Clarice Lispector, que trata de uma mulher chamada Maria das Dores e do nascimento de seu filho Emanuel num estábulo, ao som do mugido das vacas. Para não mencionar o belo “Natal na barca”, de Lygia Fagundes Telles, sobre uma barca de madeira carcomida, com quatro pessoas solitárias dentro, deslizando na escuridão de um rio, em plena noite natalina.
Sim, o Natal, apesar de ser data festiva, tem um quê de solidão e melancolia. E talvez aí esteja a sua maior beleza.
Já que falei o óbvio, resta-me terminar com a frase inevitável deste dia: feliz Natal para todos!
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