PEIMAN MILANI E HÉRCIA STAMPINI DUARTE MARTINo
TENDÊNCIAS/DEBATES
Dois bilhões de pessoas têm alimentação inadequada em micronutrientes. Veja o Brasil: resolveu o deficit de estatura da população, mas vai à obesidade
Um dos maiores desafios da saúde pública atual é superar a "fome oculta", que se caracteriza pela deficiência de micronutrientes, vitaminas e minerais essenciais.Sem alarde, a fome oculta prejudica o desenvolvimento de milhões de pessoas no planeta, leva à morte. Muito se investe na capacitação de recursos humanos, mas ainda pouco se faz para conter esse enorme dreno do capital humano global.
Dois bilhões de pessoas sofrem da desnutrição de micronutrientes, comprometendo seu desenvolvimento físico, cognitivo e imunológico e acarretando uma perda de 2% do PIB dos países em desenvolvimento.
Não admira que soluções para a fome oculta tenham sido consideradas a prioridade máxima do desenvolvimento global pelo Consenso de Copenhague 2012. Essas soluções trariam benefícios duradouros: crianças mais saudáveis, adultos mais produtivos e um círculo virtuoso de desenvolvimento.
No Brasil, 40% das crianças ainda sofrem de anemia e 20%, de hipovitaminose A. Somadas, essas carências afetam milhões de brasileiros, quase a metade da população de crianças e gestantes. Embora tenha propiciado um declínio marcante do deficit estatural, o processo de transição nutricional do Brasil no passado recente contribuiu, também, para a emergência epidêmica da obesidade, que está frequentemente associada à carência de micronutrientes.
O problema não é restrito às classes C, D e E. Mesmo uma dieta adequada em calorias, proteínas e carboidratos pode ter sérias deficiências de micronutrientes. Os países buscam superar este desafio aplicando as estratégias complementares de diversificação da dieta dentro dos princípios de uma alimentação saudável, fortificação de alimentos e consumo de suplementos alimentares.
Uma dieta saudável e balanceada representa uma aspiração a ser perseguida pela sociedade. A educação de mães e crianças é fundamental nesse esforço de longo prazo.
A fortificação de alimentos básicos é uma das estratégias de melhor custo-benefício, preconizada pela OMS e pela Unicef. Comparada à suplementação, a fortificação tem custo mais baixo e aceitação mais fácil, pois não requer mudanças nos hábitos alimentares. É uma estratégia que proporciona uma rede de proteção imediata contra a fome oculta.
A experiência brasileira com a fortificação inclui sucessos como o controle do bócio, mediante a iodação do sal, e dos defeitos do tubo neural, graças ao enriquecimento das farinhas com ácido fólico.
Entretanto, precisamos avançar. Temos de ampliar o impacto da fortificação em nosso país, com alimentos que fazem parte do nosso hábito alimentar diário, como o arroz, e aproveitando das experiências exitosas de outros países.
Apesar das conquistas sociais dos últimos anos, ainda não asseguramos o acesso de toda a população aos micronutrientes essenciais. Assim como país rico é país sem pobreza, país saudável é país sem desnutrição e obesidade. Possibilitar o desenvolvimento pleno do potencial de nossas crianças e cidadãos é um desafio de todos nós. Vamos vencer a fome oculta.
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