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As marcas de Dilma
De "mãe do PAC" a gerente do governo e comandante da "faxina", a imagem da presidente sofre desgaste pela hesitação diante de reformas
Mantiveram-se inalterados, neste segundo semestre, os altos níveis de aprovação popular ao governo Dilma Rousseff. Surgem, porém, alguns sinais de alerta.
Com 62% de entrevistados qualificando-o como "ótimo" ou "bom", a última pesquisa Datafolha voltou a assinalar níveis idênticos aos de agosto, além de colocar uma eventual candidatura Dilma em posição comparável à de Lula.
Se as eleições presidenciais fossem hoje, Dilma Rousseff teria entre 57% e 53% dos votos. Já um terceiro mandato para Lula seria sufragado por 56% dos entrevistados.
Aumentou, no entanto, ainda que só ligeiramente, a percepção de que há casos de corrupção no governo Dilma. Eram 64% dos entrevistados em agosto; agora, são 69% (a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais).
Seria difícil encontrar, num mesmo partido político, duas personalidades de estilo tão diverso quanto Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. As explicações baseadas no "carisma pessoal", tantas vezes invocadas para o sucesso lulista, mostram suas limitações.
Sem dúvida Dilma se beneficia ainda dos expressivos avanços sociais e econômicos que marcaram o período do antecessor. O fato de ter sido ungida por Lula à Presidência contou decisivamente para que sua imagem ganhasse crédito.
Por outro lado, quase imperceptivelmente, o marketing em torno de sua figura se altera e adapta. Apresentada como "mãe do PAC", não conseguiu fazer o rebento crescer como ela decerto gostaria.
O PAC é, hoje, uma sigla quase esquecida. A aposta numa imagem maternal foi substituída -não sem a hesitante recidiva do Brasil Carinhoso, novo programa de assistencialismo- por outras estratégias de comunicação.
Houve o tema da "faxina", mas o combate à corrupção se limitou a alguns ajustes na mobília ministerial. Promoveu-se a marca da "gerente", mas a suposta eficiência de Dilma se vê desmentida pela incapacidade de acelerar os investimentos em infraestrutura.
Incapacidade que compromete, a olhos vistos, as expectativas de crescimento do PIB no curto prazo. É duvidoso que, com índices de atividade entre os mais baixos da América Latina, a presidente possa desfrutar indefinidamente da popularidade que ostenta.
O marketing político aposta numa nova marca -a de uma soberana, uma rainha da Inglaterra, que paira acima do ambiente nada vitoriano que a cerca.
Se não faltam imagens disponíveis para o governo Dilma, falta-lhe, entretanto, um projeto de reformas que pudesse, graças ao inegável respaldo popular de que dispõe, destravar os problemas tributários, ambientais, previdenciários e institucionais na raiz da relativa paralisia econômica do país.
Enquanto a modorra não se faz perceber no que afeta a maioria -o emprego e o nível dos preços-, é possível imaginar a persistência da popularidade presidencial. Seu tempo de duração é incerto, todavia, na medida em que, do ponto de vista administrativo e político, a atual gestão ainda deixa a desejar.
Faculdades reprovadas
Agiu bem o Ministério da Educação ao determinar punições mais duras aos cursos superiores que tiveram desempenho pífio em avaliações de qualidade consecutivas.Em vez de se fixar em sanções que se mostravam inócuas, como o corte de vagas, o MEC, desta vez, decidiu cancelar o vestibular de tais cursos em 2013 e impedir o ingresso dos candidatos que foram aprovados em seleções neste ano, mas ainda não se matricularam.
A medida alcança 200 cursos das áreas de exatas, licenciatura e tecnologia que não superaram a nota 2, numa escala que vai até 5, no Conceito Preliminar de Curso de 2008 e 2011. A avaliação trienal considera rendimento dos alunos no Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), qualificação dos professores e infraestrutura do estabelecimento.
Com tais indicadores objetivos em mãos, o MEC tem condições de dizer quais faculdades devem ter sua expansão bloqueada. Entre os cursos afetados, 14 são de instituições federais e 186 de particulares.
Para se reabilitarem, as unidades mal avaliadas deverão seguir uma série de exigências, como definir um plano detalhado de melhorias. Elas também serão vistoriadas por especialistas. Se as deficiências não forem corrigidas, o curso pode até ser fechado.
Punições rigorosas são importantes para melhorar a educação brasileira. Elas são um complemento necessário às avaliações de qualidade aplicadas no país desde meados da década de 1990. São, nesse sentido, ferramentas capazes de induzir a melhoria da qualidade da educação brasileira.
Verdade que a própria comparação entre as instituições já inspira mudanças nas que apresentam desempenho pior. A demanda, em boa parte das circunstâncias, se orienta pela excelência.
Não são poucos os estudantes, contudo, que se veem obrigados a levar em conta antes o custo que a qualidade. Nesse casos, as sanções evitam que fique prejudicado o futuro de milhares de jovens.
A nova política para cursos mal avaliados será permanente, segundo o Ministério da Educação. É bom que seja. O Brasil ainda tem muito a avançar nessa área.
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