Saúde para dar e vender
Roteiro automático para os telejornais de hoje: começamos com a apresentadora entre empolgada e surpresa, entoando: "Já é Ano-Novo na Austrália". Surgem imagens da Ópera de Sidney e do espetáculo de fogos de artifício.Depois de algumas frases sobre a comemoração nas ruas da Oceania e flashes de nativos espocando champanhe, entra uma matéria sobre a corrida de São Silvestre e o cotidiano de treinos de um queniano na cidade. Direto do parque Ibirapuera, o repórter convence a pobre vítima a dizer: "Feliz Ano-Novo", em português, o que faz a âncora sorrir.
Há uma notícia sobre calamidades climáticas em um país distante, que é prontamente equilibrada com uma matéria sobre como decorar sua mesa para o Réveillon.
Se o programa é no dia seguinte, lá se vão cenas do primeiro bebê do ano e as previsões de um vidente para 2013. "Alguém importante vai morrer", ele garante. A apresentadora assume um ar sorumbático.
Outro clichê doloroso é o Show da Virada, na Globo, com a presença de bandas que você achava que não existiam desde a década de 90. Este ano, teremos Claudia Leitte, Zezé di Camargo & Luciano, Skank, Paula Fernandes, Aviões do Forró, Sorriso Maroto, Thiaguinho, Latino, Banda Eva, Chiclete com Banana e Raça Negra.
Saber que o especial é gravado com um mês de antecedência (este ano foi em 27 de novembro) dá sentido àquela euforia excessiva e artificial. Todo mundo de branco, pulando e gritando, em comemoração a uma prosaica terça-feira à noite.
O mesmo acontece antes da contagem regressiva: dá para imaginar o produtor contando à distância e pedindo para repetirem porque o público não vibrou o suficiente, ou uma atriz estava com couve no dente. Vamos lá, é 2013 de novo: dez, nove, oito...
E todos entoam aquela canção desejando "muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender" -que, aliás, não faz sentido, pois não dá para sair por aí doando ou comercializando vigor e robustez física, a menos que você esteja disposto a ceder um de seus rins.
Ontem, o "Fantástico" exibiu "imagens emocionantes" de brasileiros no momento em que receberam suas melhores notícias do ano, como a alta do hospital, a confirmação da gravidez ou a aprovação num novo emprego.
Tudo minuciosamente fabricado para fazer o espectador se emocionar.
Ou o contrário: ele enfim se cansa das mesmas coisas, desliga a tevê e vai passar mais tempo com a família.
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