segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Dinossauro usava pena para paquerar, sugere artigo científico

FOLHA DE SÃO PAULO

Reconstrução da musculatura da cauda de dino chinês indica que o bicho usaria suas penas tal como os pavões
Trio de pesquisadores fez análise detalhada dos oviraptorossauros, um grupo de dinos que lembram avestruzes
Sydney Mohr/Divulgação
Reconstituição artística do dinossauro _Ingenia yanshini_, com macho mostrando cauda para fêmea
Reconstituição artística do dinossauro Ingenia yanshini, com macho mostrando cauda para fêmea

REINALDO JOSÉ LOPESEDITOR DE “CIÊNCIA+SAÚDE”Muita gente já perdeu o respeito pelos dinossauros depois da descoberta de que vários desses bichos eram cobertos de penas. Mas sugerir que essas plumas teriam a mesma função "carnavalesca" do rabo dos pavões já é demais, certo?
Pode até ser, mas um novo artigo científico reúne um conjunto de dados para tentar mostrar que, ao menos entre alguns dinos, a paquera consistia em abanar longas penas da cauda em leque, tal como fazem os pavões.
A hipótese está num artigo científico assinado por Scott Persons e Philip Currie, da Universidade de Alberta, no Canadá, e também por Mark Norell, do Museu Americano de História Natural.
O trio de pesquisadores baseia suas conclusões numa análise detalhada das caudas dos chamados oviraptorossauros, um grupo de dinos bípedes que lembram vagamente emas ou avestruzes, a julgar pelas patas de corredores e pela presença de bicos -e, claro, penas.
Essas características, bem como detalhes mais específicos do esqueleto dos oviraptorossauros, levou alguns cientistas a considerá-los parentes muito próximos das aves modernas -as quais, segundo quase todos os paleontólogos, não passam de um grupo sobrevivente de dinos.
Persons e companhia, após avaliar os fósseis de oviraptorossauros, não concordam -para eles, algumas das semelhanças podem ter surgido de forma independente nesse grupo de dinos e nos ancestrais das aves modernas, fenômeno conhecido como evolução convergente.
TOQUINHO
Uma dessas convergências tem a ver com o tamanho e a estrutura da cauda. Tanto os ancestrais diretos das aves quanto os oviraptorossauros sofreram, ao longo do tempo, a perda de vértebras caudais, de maneira que o rabo foi ficando mais curto.
Mais importante ainda, no entanto, foi o aparecimento do pigóstilo -uma maçaroca de vértebras fundidas na extremidade do rabo, que pode ser vista num frango assado inteiro-, aquele "bumbum" arrebitado da ave.
Nos animais modernos, ambas as características impedem que a cauda atrapalhe o voo, deixando a anatomia das aves mais aerodinâmica.
Persons e companhia, depois de confirmarem, com a ajuda de novos fósseis, que os oviraptorossauros também tinham pigóstilos, usaram um programa de computador para simular a musculatura e a capacidade de movimentação da cauda dos animais.
Segundo a reconstrução dos músculos dos bichos, os oviraptorossauros teriam caudas curtas, fortes e extremamente flexíveis.
"Eles teriam sido capazes de balançar e torcer suas caudas, para cima e para baixo e de um lado para o outro, com um grau de destreza muscular acima do que se vê na maioria dos outros terópodes [os dinos bípedes e carnívoros] e dos répteis modernos", escrevem os pesquisadores.
Juntando essa informação com o dado de que penas caudais já foram descobertas em algumas espécies de oviraptorossauros (plumas que, aliás, parecem ter sido listradas) e com o fato de que o pigóstilo poderia servir para "ancorar" leques de penas, o trio argumenta que a musculatura especializada ajudaria os animais a ondular os ornamentos e deixá-los eretos para a apreciação de potenciais parceiras, por exemplo.
Isso, claro, assumindo que o penacho era um adorno usado por machos para cortejar fêmeas, como ocorre entre os pavões. Para ter certeza, seria interessante tentar diferenciar os sexos nos fósseis encontrados e verificar se penas caudais eram mais comuns entre machos.
A pesquisa será publicada na revista científica "Acta Palaeontologica Polonica".

    FRASE
    "Esses dinossauros teriam sido capazes de balançar as caudas com destreza maior do que a de muitos répteis modernos"
    SCOTT PERSONS, PHILIP CURRIE E MARK NORELL
    Pesquisadores

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