O GLOBO - 11/01/2013
Com Johnn Brennan chefiando a CIA, vamos assistir à multiplicação dos assassinatos por controle remoto
Os
Estados Unidos estão conduzindo uma guerra escondida contra militantes
islâmicos usando aviões armados de pequeno porte, teleguiados e sem
pilotos, chamado de drones em inglês, para matar pessoas que eles
suspeitam de conspirar contra os EUA.
Adotada pela administração
de George W. Bush em 2004, após os ataques da al-Qaeda de 11 de setembro
de 2001, em Nova York, a frota cresceu rapidamente em numero depois que
Barack Obama foi eleito presidente em 2008. Esse programa de
assassinatos planejados não foi publicamente reconhecido, e é controlado
pela Central de Inteligência Americana, a CIA.
Por ser
controlado por um dos braços clandestinos do governo americano, esse
programa de assassinatos à longa distancia nunca teve muita publicidade,
e tem se desenrolado num clima de sigilo e muita fumaça. Por isso, a
tarefa de seguir o numero de ataques de drones pelos EUA no Afeganistão,
no Iêmen e na Somália, e os números de vitimas, ficou a cargo de
jornalistas independentes nos EUA e Inglaterra.
Conforme o site
americano The Long War Journal, de 2002 até 2012 foram lançados 57
ataques aéreos contra alvos no Iêmen, matando 299 militantes e 82 civis.
Mas o campeão em números absolutos foi o Paquistão, por causa da
ocupação do vizinho Afeganistão por tropas americanas e europeias desde
2002, que viu 331 ataques aéreos americanos de 2004 ate o dia 9 de
janeiro 2013.
As mortes no Paquistão também foram surpreendentes:
2.474 militantes do Talibã ou al-Qaeda e 153 civis, de 2006 até janeiro
de 2013, segundo estima o Long War Journal. Na maioria das vezes, nos
ataques contra alvos no Paquistão, os americanos defenderam suas ações
como preventivas, alegando que esses militantes estavam planejando
ataques contra tropas americanas no Afeganistão.
No Iêmen os
ataques americanos foram dirigidos contra membros da al-Qaeda da
Península Árabe, sediada naquele país, e que tem planejado ataques
contra alvos americanos, como o do nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab,
que ia explodir um voo para Detroit, nos EUA, no Natal de 2009, e um
complô de mandar bombas para os EUA escondidas em pacotes em 2010.
O
problema é que nenhum dos acusados tem a chance de se defender, como
poderia fazer num tribunal de justiça. Ha também o fato de inocentes
serem mortos. O mísseis são lançados, deve-se notar, por operadores
americanos a milhares de quilômetros de distância, vendo o alvo do
ataque por câmeras fixadas nos drones, que mandam de volta imagens nem
sempre nítidas.
O site britânico Bureau of Investigative
Journalism e o jornal “Sunday Times” fizeram uma reportagem conjunta em
2012 em que concluíram que a CIA estava deliberadamente alvejando
equipes de resgate e funerais de vítimas de ataques prévios americanos,
com novos mísseis lançados por drones no Paquistão. Relataram que entre
282 e 535 civis foram mortos por drones nos primeiros três anos do
primeiro mandato de Obama, incluindo mais de 60 crianças. Depois de uma
investigação de três meses, também concluíram que pelo menos 50 civis
foram mortos quando ajudavam vítimas de um ataque.
No Iêmen,
Obama enfrentou críticas duras depois de autorizar um ataque de drone em
setembro 2011 que matou o cidadão americano Anwar al-Awlaki considerado
terrorista da al-Qaeda. Foi a primeira vez que um presidente americano
admitiu publicamente que tinha autorizado o assassinato de outro cidadão
americano, sem dar a ele a chance de se defender num tribunal.
Duas
semanas depois, o filho de 16 anos de Anwar, Abdulrahman, também um
cidadão americano, foi morto por um míssil americano no Iêmen. Em
dezembro 2012, Christiane Amanpour, da rede CNN, entrevistou o avô do
garoto, Nasser al-Awlaki, que perguntou: “Por que mataram meu neto, um
garoto inocente que somente estava procurando seu pai?”
No
Paquistão, os ataques dos drones têm gerado muita raiva contra os EUA
entre a população em geral e dirigentes do governo, que sentem que sua
soberania está sendo violada. Não surpreendente, uma sondagem de opinião
pública no Paquistão revelou que 83% dos paquistaneses não gostam dos
EUA. Nos EUA, outra sondagem revelou que mais de 80% dos americanos
apoiam os ataques de drones.
A causa desse apoio popular
americano se deve em parte a John Brennan, o atual candidato de Obama
para chefiar a CIA, e o idealizador do aumento de uso de drones na
guerra contra o terror desde o inicio do primeiro mandato de Obama. Até o
ano passado, segundo o Bureau of Investigative Journalism, Brennan
insistia que não havia nenhuma morte de civis inocentes em ataques de
drones. Isso se devia ao fato que o governo americano considera como
combatente inimigo qualquer homem de idade apta para o servico militar
(15 a 60 anos) que esteja numa zona de ataque — e assim um alvo
legítimo. Lógica arrogante e falsa.
O apoio doméstico a esse
programa de assassinato à distância é talvez compreensível tendo em
conta o choque que americanos sentiram depois dos ataques de 11 de
setembro. Mas será que eles realmente apoiariam esses assassinatos se
soubessem dos inocentes civis mortos, considerados como “danos
colaterais”? O Conselho de Direitos Humanos da ONU pensa diferente, e já
disse que vai investigar a morte de civis por drones americanos.
Os
EUA continuam sendo um superpoder que acha que pode ir atrás de
terroristas em qualquer lugar do mundo, mesmo fora de campos de batalha,
e matá-los. O problema com isso é que tira o direito de um acusado se
defender, e mata inocentes. Isso pode dar satisfação momentânea aos
americanos, mas no longo prazo vai gerar mais ódio contra os Estados
Unidos. Lamentavelmente, com Brennan chefiando a CIA, vamos ver ainda
muito mais mortes por drones americanos.
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