sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Barbara Gancia

FOLHA DE SÃO PAULO

Príncipe Harry por um dia
Pelo meu Instagram, fica a impressão de que acabamos na casa do Tyson com a turma de 'Se Beber Não Case'
AO MENOS uma coisa posso dizer que aprendi em 2012: nunca verificar o Instagram quan­do estiver de cama com febre.
Os chatos que possuem aquele outro smartphone talvez ainda não saibam, mas Instagram é o aplicati­vo de fotos originalmente criado para o iPhone e iPad que é usado por 100 milhões de pessoas e foi comprado pelo Zucker-coiso, do Facebook, no ano passado. É uma ferramenta que conta aos amigos (neste caso, "seguidores") o que vo­cê está fazendo usando fotos em vez de palavras. E todo mundo só mostra o que faz de bom. Fim de semana, então, é uma esbórnia.
Sigo no Instagram, por dever de ofício, mas também porque são meus amigos, muita celebridade, gente bem-sucedida com acesso ao bom e ao melhor. Um pessoal que chega a humilhar o seguidor comum e jornalistinhas de fim de feira como eu. Ficar de cama ou não viajar num fim de se­mana prolongado e resolver se dis­trair com as fotos do Instagram do (por exemplo) Tutinha da Jovem Pan é um convite ao suicídio.
Enquanto você está indo até a far­mácia da rua João Cachoeira, o cara já fotografou uma batata frita com trufas em Aspen, deu um pulo em Dubai (com direito a detalhes do assento da primeira classe do avião da Qatar Airways e toda a família sorrindo atrás da tigela de caviar). Você ainda está no Extra do Itaim procurando inalador, e ele já pos­tou as fotos do jantar, hambúrguer no 21 de Nova York, junto com a Sa­brina Sato, que deu uma passadi­nha depois de visitar a família em Penápolis e assistir à final do UFC em Hong Kong com a Alicinha Ca­valcanti.
Fui a Las Vegas no fim do ano, que já foi considerada a capital do peca­do, "Sin City", e hoje é chamada de "the cesspool of the world", o esgo­to do mundo. De fato, a cidade ema­na cheiro de enxofre. Antes de embarcar, pessoa estável e serena que sou, não encanei que a Al Qaeda escolheria aquele inferno como seu próximo alvo justamente no Réveillon, pois ali não estaria a escória do mundo. Claro que não. Que sentido teria um pensamento desses?
Como isso não ocorreu, descobri outra conspiração e liguei para mi­nha melhor metade, que havia fica­do para trás em solo pátrio: "Já sei onde vão parar todos os sanduíches que os americanos devoram, o sub­solo de Las Vegas tem um cheiro impressionante!". Uma brasileira arrastando uma mala com rodi­nhas passou por mim enquanto eu falava e sorriu: "Cheiro impressio­nante!", reiterou e saiu rindo.
À noite fomos ao stand up de Jerry Seinfeld. Só agora entendi porque é considerado gênio. Cada piada é tratada como ciência. O jei­to que analisa a sociedade america­na, critica seus costumes, encara o homem moderno, se distancia dele para poder cindi-lo, mas, também, a maneira como conseguiu manter contato com o americano comum, a despeito das barreiras que fama e grana devem lhe impor, fazem do material apresentado um dos monólogos humorísticos mais impressionantes que já vi. Di­fícil alguma coisa ainda ter o frescor de novidade no humor. Seinfeld é quase heroico.
Abriu destruindo a "experiência Las Vegas": falou mal das calçadas, da comida, dos engarrafamentos e das filas. Disse que a melhor parte de estar em LV é ligar aos amigos e dizer: "Sabe onde estou? Em Vegas!".
Pensando bem, no meu Instagram (@bgancia) não há congestionamento ou mau cheiro. A impressão que se tem é de que o príncipe Harry foi meu compa­nheiro de viagem e que acabamos na casa do Mike Tyson com a turma do "Se Beber Não Case".
O que me faz concluir que talvez o Tutinha tenha perdido as malas no voo de volta ou que a bata­ta frita de Aspen seja um tanto gor­durosa. E que eu posso ficar de cama em 2013 sem lamentar qualquer fim de semana desperdiçado. Feliz Ano-Novo para nós!

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