Zero Hora 09/01/2013
É um acinte o que o Carlinhos Cachoeira fez na Bahia. O bicheiro
condenado a 39 anos de cadeia por formação de quadrilha, peculato e
violação de sigilo, pode corromper políticos e empreiteiras e estar aí,
curtindo o sol baiano num resort com diária de R$ 2 mil, porque assim é
no Brasil. Mas não poderia usar aquela bermuda floral.
Poderia até sair da cadeia, casar-se e passar a lua de mel
bronzeado, comendo siri e sempre falando ao celular nas fotos. Mas
deveria ter escolhido uma bermuda mais discreta.
Mafiosos, em qualquer lugar, têm bons advogados e assessores de
estilo. Não foi à toa que Cachoeira apareceu ao lado da mulher para ser
fotografado com a bermuda escandalosamente colorida na Península de
Maraú. Ele quis nos afrontar.
Cachoeira não terá nunca o bom gosto dos chefões italianos, os capos
que inspiraram os homens a se vestir bem. Um capo legítimo nunca usaria
uma bermuda como aquela do Cachoeira.
Os bandidos italianos só usam grife. No ano passado, houve uma
rebelião num presídio em que a administradora proibiu roupas de marca.
Foi na cadeia de Ucciardone, em Palermo, famosa por acolher mafiosos.
Acredite: os presos ricos de Ucciardone vestiam Versace, Valentino,
Armani, Gucci. A cadeia ficou tão afamada, que passou a se chamar Grande
Hotel. Ali foi feita até a festa de casamento milionária da filha de um
mafioso.
Depois da proibição, a mulher de um preso, barrada na porta com uma
mala de jeans Trussardi, disse que preferia ver o marido andando nu
pelas celas a submetê-lo ao vexame de usar calças vagabundas. Mas a
diretora foi dura. Os presos de Ucciardone deixaram até de usar roupas
de cama Navigare.
A máfia brasileira, principalmente essa que corrompe em Brasília,
tem muito o que aprender para chegar perto do estilo de um bandido fino
italiano.
Quem nasceu para ganhar muito dinheiro a qualquer custo, para
corromper quem bem entende, pagar bons advogados, ser condenado e ganhar
alvarás de soltura a qualquer momento, mas mesmo assim ainda usa
bermudas terrivelmente florais, nunca será um capo legítimo.
Por isso, um bicheiro será no máximo um Cachoeira. Nunca será um
Carlinhos Cataratas do Iguaçu. Há uma chinelagem explícita na corrupção
brasileira.
Os mafiosos italianos têm roupas e também nomes de grife e ficam
mais chiques se vão morar em Nova York. Pronuncie em voz alta o nome
deste capo ítalo-greco-americano: Vincent Vinny Gorgeous Basciano.
Os corruptos do Brasil não precisam se esforçar para ser
deliberadamente bagaceiros, nos gestos, nas palavras (as falas captadas
nos grampos são reveladoras) e nas bermudas.
Cachoeira poderia ser fino se tivesse feito um estágio em
Ucciardone. Mas foi parar por um tempo logo no Presídio da Papuda. Até
os nomes das nossas cadeias não ajudam.
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