quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Aguardar por resgate adequado é mais seguro para o paciente

FOLHA DE SÃO PAULO

ANÁLISE
FLORENTINO CARDOSOESPECIAL PARA A FOLHAA decisão de que a remoção e a condução de vítimas graves ao hospital seja feita pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) -e não mais por policiais do Estado- certamente visa à proteção dos pacientes.
Não é possível avaliar, ainda, como ou quanto isso impactará os já frequentes chamados ao Samu. No entanto, deve-se destacar que em muitas ocasiões, aguardar alguns minutos a mais para garantir o manuseio adequado de vítimas pode ser o melhor para a segurança dessa pessoa.
Caso contrário, a remoção ou eventuais manobras de reanimação por pessoal não qualificado pode agravar ainda mais o quadro existente.
Um exemplo infelizmente comum é a queda de altura elevada, como uma laje. A boa vontade de uma pessoa não qualificada pode causar dano ainda maior do que o acidente, como uma lesão raquimedular irreversível.
Porém, se esse mesmo acidentado tiver médico ou pessoal capacitado para o atendimento pré-hospitalar, utilizará equipamentos de segurança, como coletes, prancha, imobilização e outros suportes de vida para remoção adequada, aumentando as chances de desfecho favorável.
Assim, queremos que o Samu possa se reorganizar rapidamente para suprir a mais esta demanda com a mesma rapidez, eficiência e precisão.

    Veto a socorro de vítimas de crimes abre crise com PMs
    Decisão do Estado é vista como 'desgaste' para imagem da corporação; agora, Samu é que deve ser acionado
    Associação de PMs ameaça ir à Justiça; objetivo da pasta é evitar alteração na cena do crime e acobertamentos
    DE SÃO PAULOA decisão do novo secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, de proibir que policiais militares socorram vítimas com ferimentos graves abriu uma crise entre os PMs. A resolução, antecipada pela Folha, passou a valer ontem.
    Uma das intenções da resolução é evitar que policiais alterem a cena de um crime, de modo a acobertá-lo.
    Representante dos PMs na Assembleia, o major reformado Olímpio Gomes, e a associação dos PMs portadores de deficiência dizem que vão tentar revogar a norma.
    "A mensagem que o governo dá é a de que não confia na polícia", diz o major, deputado estadual pelo PDT.
    Segundo ele, o governo Geraldo Alckmin (PSDB), para combater maus policiais, põe sob suspeita toda a PM -há casos de mortes de vítimas socorridos por policiais em que os PMs são investigados.
    Olímpio irá propor um projeto que anule a norma. Alckmin, porém, tem maioria na Casa. Já a associação ameaça ir à Justiça. "A decisão é absurda, parece que foi tomada por quem desconhece a atividade policial", diz a entidade.
    PMs, sob a condição de anonimato, disseram ser treinados para prestar socorro e que a medida prejudica a imagem deles junto à população.
    Agora, o policial passa a ser obrigado a informar ao Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), mesmo que tenha participado da ocorrência. Isso vale para crimes como homicídio, tentativa de homicídio e lesão corporal grave.
    SUSPEITA
    Além de preservar a cena do crime, a iniciativa pretende assegurar o atendimento às vítimas por profissionais habilitados, como médicos e socorristas. A medida é elogiada por especialistas.
    Para o comandante da PM na capital, coronel Marcos Chaves a medida dará maior transparência à ação policial.
    "Hoje, quando há confronto, o policial já é visto com suspeita. Não se sabe se ele socorreu mesmo, se alterou a cena do crime. Com a proibição, a suspeita contra o PM vai cair."
    Sob a condição de anonimato, dois comandantes de batalhões da PM disseram temer que o número de vítimas aumente porque o socorro poderá demorar mais do que hoje.
    Um deles disse que em cidades menores o Samu não é tão eficiente e os PMs serão obrigados a descumprir a regra.
    Ex-comandante da PM entre 2009 e 2012 e vereador do PSD, Álvaro Camillo revelou o mesmo temor, embora apoie o atendimento por especialistas.
    "O que preocupa é um policial deixar de socorrer, ficar em dúvida, e uma vida se perder."
    O Samu diz que atende 96% dos casos em até dez minutos e que a nova demanda não será problema.
    Capitão reformado da PM e vereador pelo PTB, Conte Lopes diz que, com a medida, parece que "só o PM erra".
    Para o criminalista Leopoldo Louveira, se a vítima morrer, o policial e o Estado podem ser responsabilizados por omissão de socorro.
    Não fica claro na norma se o policial, mediante orientação telefônica do Samu enquanto a ambulância não chega, poderá intervir para ajudar um ferido.

      Cada Estado define regras para atuação dos policiais
      DE SÃO PAULONão existe uma norma única sobre o atendimento de vítimas no Brasil. Cabe a cada Estado definir como isso deve ser realizado.
      No Rio, por exemplo, a norma é acionar os bombeiros, mas o policial tem autonomia para atender a vítima se o socorro não puder chegar.
      Na Bahia, a orientação é para que os policiais militares prestem socorro aos feridos, mesmo que eles tenham sido alvo de ações da própria polícia.
      Minas também permite a atuação dos policiais.
      Já no Rio Grande do Sul, a ordem é que seja chamado o Samu. No Paraná, segundo a PM, policiais só atuam no socorro em casos "muito excepcionais".

        Médicos afirmam que decisão é correta
        DE SÃO PAULOA proibição de que a polícia socorra vítimas de crimes é apoiada por médicos. Para eles, mesmo que o atendimento demore mais, é preferível e mais seguro que isso seja feito por especialistas.
        Para Frederico Arnaud, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Emergência, pessoas feridas precisam de atendimento médico e de remoção adequada.
        Tanto o Samu como o resgate dos Bombeiros contam com profissionais da área médica.
        "Existe diferença entre transporte e atendimento. Não é só colocar a pessoa no carro e levar para o hospital. Isso precisa ser feito com orientação médica", afirma.
        Segundo Arnaud, o profissional do Samu pode orientar por telefone quem estiver próximo da vítima sobre o que pode ser feito enquanto a ambulância não chega.
        Antonio Onimaru, secretário-geral da Sbait (Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado), diz que as ambulâncias do serviço podem levar os feridos para hospitais adequados a cada situação.
        "O atendimento da PM se resume a colocar o ferido na viatura e levar para o hospital mais próximo. Depois, o hospital não tem estrutura para o caso e é preciso remover", diz Luiz Carlos Wilke, coordenador do Samu de São Paulo.
        Segundo ele, com 140 ambulâncias e 100 bases (38 móveis), o serviço tem estrutura para atender os casos que a PM deixará de socorrer.

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