quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Vera Guimarães Martins

FOLHA DE SÃO PAULO

Trilhos urbanos
SÃO PAULO - O ataque de um guarda metropolitano sem farda e sem controle contra um grupo de skatistas na praça Roosevelt, na última sexta-feira, foi uma truculência inquestionável, mas não deve obscurecer a questão de fundo que envolve a disputa do uso do espaço público urbano.
As queixas de frequentadores da Roosevelt, de que os skatistas são um risco à segurança deles e depredam as instalações da praça com suas manobras radicais, fazem eco na avenida Paulista, onde garotos e garotas deslizam velozmente na mesma calçada em que circulam milhares de pessoas. Na falta de bancos, escalam as muretas dos canteiros.
Numa concepção idílica, toda cidade deveria prover espaço público para todo tipo de público. Poucas no mundo atingem esse ideal ou chegam perto dele; São Paulo está a anos-luz dele e, por muito tempo, parecia reinar um certo conformismo de que essa não era mesmo uma cidade amigável e ponto final.
A atitude mudou em anos recentes, com grupos de ativistas brigando por mudanças na aridez da paisagem urbana. A criação de faixas temporárias exclusivas para ciclistas no fim de semana é um exemplo tímido, mas bem-sucedido, desse ativismo em prol de uma cidade mais amigável. Basta observar a prática, porém, para descobrir que compartilhar espaços públicos não é fácil.
Em alguns lugares, a implantação da ciclofaixa requer aparatos civilizatórios para delimitar direitos e deveres de cada um, como o uso de cones para impedir que motoristas invadam a área das bicicletas. Ou a presença de jovens com bandeiras ocupando a ciclofaixa na hora do sinal vermelho -para lembrar aos ciclistas que devem parar e dar vez aos pedestres.
Não há cidade amigável sem uso adequado do espaço público. Lamentavelmente para os skatistas, por mais bonitas que sejam suas manobras, nesse caso não há dúvida sobre quem está fora dos trilhos.

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