Bruna Sensêve
Estado de Minas: 17/01/2013
Em 1997, a então deputada federal Telma de Souza (PT-SP) subiu à tribuna para defender a criação da Semana Nacional de Combate e Prevenção ao Câncer de Próstata. O projeto de lei foi motivo de risadas e chacotas por parte dos mais de 500 colegas. “Vi aquele monte de caras brincando, fazendo gestos. Isso porque eles não imaginavam que um a cada seis dos 500 deputados ali provavelmente teriam a doença”, lembra Gláucio Soares. Professor de sociologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), ele foi ao Congresso a pedido da parlamentar. Na época, enfrentava o mesmo câncer havia dois anos.
Como já tinha um histórico da doença na família, Gláucio fez os exames para a detecção precoce do mal. Ainda assim, teve a glândula retirada e foi submetido a sessões de radioterapia. “Nesse momento, me dei conta de que não sabia nada sobre o câncer que ia me matar. Fiquei pensando no tamanho da população brasileira que não sabe nem se a próstata está na região genital ou no cérebro”, conta. O Instituto Nacional de Câncer estima que 60.180 casos de câncer de próstata surgiram no ano passado.
Quando o tumor ainda está em sua fase inicial, a evolução do câncer é silenciosa, fazendo com que muitos pacientes não apresentem sintomas. Se surgem, eles tendem a ser muito semelhantes aos relacionados ao crescimento benigno da próstata, como a dificuldade de urinar. Em estágio avançado, a doença pode provocar dor óssea e até infecção generalizada. A grande maioria dos tumores cresce lentamente, levando cerca de 15 anos para atingir 1cm³. O avanço lento da doença é um dos fatores que viabiliza um alto percentual de cura. Se for detectado ainda em fase inicial, há 90% de chance de o paciente sobreviver. Já em estágio avançado, o percentual cai para 35%.
Porém, a resistência dos pacientes em idade de risco a fazer exames anualmente e a falta de informação dos mais novos sobre a importância dos cuidados precoces com a próstata são considerados empecilhos para o combate à doença. De acordo com dados divulgados em novembro pelo Ibope, 42% dos homens com mais de 40 anos nunca realizaram o exame de próstata. Entre eles, 28% disseram não ter feito a avaliação médica por acreditar que estão saudáveis e 18% admitiram ter medo ou vergonha de realizar o teste. Entre as outras justificativas estão a falta de tempo (23%) e a ausência de uma recomendação médica (19%).
A experiência de Gláucio, que tem dois blogs sobre o assunto (vivaavida.wordpress.com e www.saudedaprostata.org.br), mostrou que grande parte dessa resistência carrega também o medo dos principais efeitos colaterais do tratamento contra a doença: a falta do controle urinário e a temida impotência sexual. “É um teste incrível da profundidade de um casamento, especialmente se as pessoas forem jovens, tiverem por volta dos 50 anos. Esse é um assunto da família, não é individual. Mas nós, homens, somos ignorantes e temos vergonha de falar sobre qualquer questão que tenha a ver com a nossa sexualidade.”
O urologista Carlos Bayma, do Hospital Esperança, no Recife, ressalta que não é certo responsabilizar somente o paciente pela falta de informação. As consultas médicas mais curtas e pragmáticas também têm diminuído o tempo necessário para o repasse de informações e cuidados. “É um direito do paciente saber o que lhe acontece, quais são os tratamentos propostos e suas consequências maléficas e benéficas”, afirma.
Crescimento natural O câncer não é o único problema que pode acometer a próstata. Segundo o urologista do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e autor do livro Próstata: isso é com você, Miguel Srougi, de 80% a 90% dos homens vão ter o crescimento benigno da glândula, o que acarretará a cerca de 35% deles grande desconforto e prejuízo da qualidade de vida.
“Isso quer dizer que a cada 10 homens, oito terão o crescimento da próstata a partir dos 40 anos e três ou quatro terão as manifestações significativas, como urinar com dificuldade, levantar sucessivamente à noite e perder urina na roupa.” A próstata fica na saída da bexiga e é atravessada pelo canal da uretra. Com o aumento prostático, esse canal é pressionado e começa a ficar mais fechado, tornando mais difícil urinar. A partir dos 50 anos, um terço dos homens passa a tomar remédios para diminuir esses efeitos, sendo que aproximadamente 5% deles não conseguem obter os benefícios desejados. Nesse caso, é necessária a intervenção cirúrgica para abertura da uretra.
Algumas pesquisas na área mostram que certos cuidados na alimentação podem aliviar esse crescimento. É o caso do vinho tinto, capaz de diminuir em 50% o risco de cirurgia em caso de crescimento benigno da próstata. Homens que se exercitam mais também teriam menos sintomas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário