O novo poder
A combinação Calheiros-Alves-Cunha ditará destinos das medidas da presidente na Câmara e no Senado
A presidente Dilma Rousseff está sendo cercada por uma armadilha que comprometerá o seu poder de decisão nos dois anos restantes do mandato. Esse é o sentido da montagem dos novos comandos do Senado, da Câmara e da decisiva bancada de deputados do PMDB.As revelações de ilegalidades, irregularidades e suspeitas (a variedade é mesmo grande) acumulam-se sobre os favoritíssimos candidatos a presidir o Senado e a Câmara.
Renan Calheiros, forçado a renunciar ao mandato em 2007 para evitar a cassação por improbidade, falsidade ideológica e outras características de sua atividade, reelegeu-se para continuar como um dos principais idealizadores e condutores, ou o principal, de tudo o que é reprovável no Senado.
Seu provável comando administrativo e político da Casa não admite a expectativa de coisa alguma diferente do que se conhece.
Quase desconhecido fora do Rio Grande do Norte e de parte do Nordeste (o mar ficou incólume), apesar das suas quatro décadas de parlamentar, Henrique Eduardo Alves é o típico peemedebista do PMDB de Calheiros & cia.: a política não é uma prática de conceitos doutrinários e de princípios, é um jogo de interesses fisiológicos e nada mais.
Daí que tanto esteve a favor como agiu contra Fernando Henrique, Lula e Dilma, ainda que integrando a "base aliada" dos três e disso tirando os múltiplos proveitos possíveis. São essas as suas credenciais para a presidência da Câmara.
Eduardo Cunha é, provavelmente, o mais original dos deputados. Neófito em Brasília, entrou no meio político com a sem-cerimônia e a audácia das chamadas velhas raposas. É presença permanente em transações cercadas de suspeitas.
Poucas pessoas podem ser tratadas com tanto cuidado pela frente e tão mal referidas pelas costas.
Explica-se: Eduardo Cunha é uma figura temida, pela certeza de que seus revides são adaptações da política feita ao tempo dos punhais, agudos e impressentidos.
Foi dado, por exemplo, como o controlador de um sistema de escutas telefônicas clandestinas que instabilizou a raia graúda do Rio durante anos. Não há indicação de que o sistema esteja extinto.
Há pouco, confusos negócios em torno da ex-refinaria Peixoto de Castro sofreram forte bombardeio do governador Sérgio Cabral, porque se trataria de uma transação de Eduardo Cunha, seu adversário. De repente, assunto encerrado. Como, por quê, não se sabe.
Agora, Cabral e o prefeito Eduardo Paes, subitamente, se saem com o único caso de apoio público a Eduardo Cunha, o inimigo, para líder do PMDB na Câmara.
Eduardo Cunha é cria de Paulo Cesar Farias, que o pinçou do vácuo para a presidência da então Telerj, telefônica do Rio.
Eleitos esses três, o Congresso estará absolutamente sob controle do PMDB. Do PMDB dos três, ao qual muitos poucos peemedebistas cometerão a exceção de continuar alheios. E se assim será com o Congresso, assim será do Congresso com o governo.
A combinação Calheiros-Alves-Cunha ditará as condições e os destinos das medidas e necessidades da presidente da República na Câmara e no Senado.
Dilma Rousseff apoia as eleições de Renan Calheiros e de Henrique Alves, e parece apenas neutra quanto à de Eduardo Cunha.
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