quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

TEREZA CRUVINEL » Dilma, grandes testes

Dilma está atuando pessoalmente na preparação do que seus assessores chamam de "grandes testes" para o aumento do investimento e a explicitação de confiança no governo 


Estado de Minas: 17/01/2013 
Com a equipe chefiada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, na linha de tiro dos adversários e até mesmo de aliados históricos, a presidente Dilma Rousseff vestiu o casaco de responsável última pela política econômica, atenta a dois avisos que entraram no radar do governo. Um, sobre o poder contaminador das críticas aos métodos adotados para controlar a inflação e cumprir as metas fiscais da Lei de Diretrizes Orçamentárias, a LDO. Outro, conexo com o primeiro, sobre a importância do êxito dos próximos leilões de concessões ao setor privado. Além de decisivos para o aumento dos investimentos, eles serão o indicador mais objetivo sobre o grau de confiança do empresariado no governo.
Em relação ao primeiro assunto, um choque de perplexidade e realismo foi produzido pelo artigo do economista e ex-ministro Delfim Netto no jornal Valor Econômico de terça-feira, em que, depois de considerar a política econômica correta em linhas gerais e de criticar os artifícios, ele diz: “É pena, portanto, que o governo perca credibilidade em troca de nada, como, por exemplo, estimular a contabilidade ‘criativa’”, que chamou também de “operação de alquimia” e de “sucessão de espertezas”. Mais adiante, Delfim afirma: “A quebra de seriedade da política econômica produzida por tais alquimias não tem qualquer efeito prático, mas tem custo devastador. Se repetida, vai acabar matando os próprios alquimistas pela inalação dos gases venenosos, que, todos sabemos, elas mesmas emitem...”.
Críticas semelhantes já haviam sido feitas, mas sempre por adversários, nunca por um aliado com o peso de Delfim, que endossa a política econômica dos governos petistas desde o primeiro mandato de Lula. Nem com essa virulência, que nem tucanos bicudos usaram. Na sequência, o senador Aécio Neves publicou artigo tomando como mote a expressão “contabilidade criativa”, e ontem um blog do jornal inglês Financial Times criticou tais mecanismos. Ressalvando que são legais, afirmou que o ministro Mantega está se tornando um “expert” em aplicar o “jeitinho brasileiro” à gestão financeira, econômica e fiscal. Traduziu a expressão como sendo o modo brasileiro de contornar leis e regras. Reações anotadas, a “criatividade” deve ser contida.
Dilma está atuando pessoalmente na preparação do que seus assessores chamam de “grandes testes” para o aumento do investimento e a explicitação de confiança no governo. Eles começam em maio, com o leilão dos primeiros grandes blocos de exploração de petróleo depois de cinco anos. Em junho, ocorrerá o leilão para concessão de rodovias. Em agosto, deve ocorrer o leilão para a administração privada dos aeroportos do Galeão e de Confins. O setor privado pediu e a presidente atendeu, contornando dificuldades políticas, diz um auxiliar. Agora, cabe a eles responder, assinando um cheque, diz ainda a mesma fonte. Entenda-se com a metáfora que eles deverão entrar nos leilões, arrematar lotes e realizar os investimentos programados, que representam, como diz o próprio Delfim, uma das condições para a retomada do crescimento em patamares superiores a 3%.
Em busca desse “cheque”, de valor financeiro e político, é que ela tem realizado a maratona de conversas com empresários, que teve início na semana passada, quando se encontrou, separadamente, com Rubens Ometto, da Cosan; Murilo Ferreira, da Vale; Marcelo Odebrecht, da Odebrecht; Luiz Trabuco, do Bradesco; Rodolpho Tourinho Neto, do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon); e Bruno Lafont, do Grupo Lafarge. Ontem ela recebeu Eike Batista, da OLX, e Jorge Gerdau, do grupo que leva seu nome. Hoje, ela deve receber Antonio Portela Álvarez, do Isolux Corsán. Nessas conversas, trata dos investimentos e da política econômica de modo geral como coisa sua, de seu governo, e não de Mantega ou de Alexandre Tombini, presidente do Banco Central. Ou seja, se batem neles, estão batendo nela. Aliás, o Planalto registrou também, neste início de ano, uma certa perda do constrangimento em criticar a própria presidente, por parte de agentes políticos ou econômicos. Dilma soube, por fontes diversas, inclusive por Lula, das queixas frequentes dos empresários, endereçadas muito mais ao modo de fazer do que aos ingredientes da receita aplicada pela presidente. Nos encontros, busca também neutralizar essa insatisfação. É com este intenso ativismo governamental que a Dilma 2013 prepara o caminho para a Dilma 2014. 

Bateu, levou
O vice-presidente Michel Temer teria obtido ontem o “nada contra” da presidente Dilma Rousseff à eleição do deputado Eduardo Cunha como líder do PMDB na Câmara, buscando a pacificação interna. Michel esteve também com o ex-deputado Geddel Vieira Lima (BA), que afirmou à coluna, a propósito do vazamento de denúncias contra o candidato a presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (RN), que, por temor a Dilma, negou apoio a Cunha. “Quando brigo, ataco de frente.” Em paralelo, o senador José Sarney (PMDB-AP) chamou para uma conversa sua boa amiga Rose de Freitas (PMDB-ES), candidata dissidente contra Alves. Teria pedido que desistisse da candidatura. Afora isso, torcem para que as revistas semanais não tragam novas denúncias.

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