Enquete da Folha para celebrar dois gigantes da ópera que fariam 200 anos em 2013 divide votantes, mas dá vitória de Wagner sobre Verdi
A bem da verdade, ambos já estavam representados de modo equânime e generoso nas temporadas líricas ao redor do planeta, independentemente de efemérides.
Em dezembro do ano passado, porém, quando o maestro Daniel Barenboim resolveu abrir a temporada 2012/13 do maior templo italiano da ópera, o Scala de Milão, não com uma ópera de Verdi, mas com "Lohengrin", do alemão, a balança parecia pender a favor dos wagnerianos.
Basta, contudo, lançar um rápido olhar para a programação do próprio Scala, do Festival de Salzburgo (Áustria) e de teatros como o Metropolitan, de Nova York, e o Covent Garden, de Londres, para perceber que há uma preocupação em equilibrar as obras-primas de ambos os compositores.
Tal equilíbrio também chega ao Brasil. John Neschling programou "Aida", de Verdi, para sua primeira ópera no Theatro Municipal de São Paulo, em agosto, mas agendou para novembro "O Ouro do Reno", de Wagner.
A temporada do Municipal do Rio de Janeiro, sob direção do maestro Isaac Karabtchevsky, ainda não foi anunciada, porém rumores dão conta de que também por lá haverá uma "Aida", contrabalançada por uma wagneriana "A Valquíria".
No Festival Amazonas de Ópera, em Manaus, deve ser encenado "Un Ballo in Maschera", do compositor italiano, e "Parsifal", do alemão.
Já o Festival de Ópera do Theatro da Paz, que ocorre em Belém (PA), terá "Il Trovatore", de Verdi, e "O Navio Fantasma", de Wagner.
Assim, não surpreende que, na enquete que a Folha fez com 26 críticos, pesquisadores, regentes, diretores de cena e cantores, perguntando qual dos dois era seu compositor favorito, a maioria tenha optado pelo empate.
SURPREENDENTE
Mais da metade dos votantes preferiu não colocar um dos compositores bicentenários acima do outro.
Dentre os 14 que optaram pelo empate, há os maestros Neschling, Karabtchevsky, Ira Levin e Fabio Mechetti, além dos cantores Paulo Szot, Adriane Queiroz e Martin Muehle.
Uma resposta "sui generis" foi a do compositor Flo Menezes, que preferiu apontar como seu predileto um terceiro autor de óperas: o italiano Giacomo Puccini (1858-1924).
Entre os que fizeram uma escolha, a vitória foi de Wagner, com oito votos a quatro -um resultado que não deixa de surpreender, devido à ligação histórica da música brasileira com a ópera italiana desde os tempos coloniais.
A trupe wagneriana tem dois compositores (João Guilherme Ripper e Leonardo Martinelli), três diretores cênicos (André Heller-Lopes, Caetano Vilela e Felipe Hirsch) e três críticos: Nelson Rubens Kunze, João Batista Natali e Sidney Molina (os dois últimos da Folha).
Já Verdi foi escolhido pelos diretores de cena Cleber Papa e Iacov Hillel, pelo maestro Carlos Moreno e pelo pesquisador de história da ópera Sergio Casoy.
Em comum, ambos os "partidos" têm os elogios respeitosos que tecem a seus "oponentes", bem como a paixão com que defendem suas escolhas.
O diretor de teatro Felipe Hirsch, por exemplo, optou por Wagner afirmando: "ouvi a abertura de 'Tannhauser' muito novo e nunca me recuperei".
Cleber Papa, por outro lado, afirma que levaria a música de Verdi para uma ilha deserta e "se acabassem as pilhas, continuaria assobiando e cantarolando a maioria de suas composições".
Grupo espanhol La Fura dels Baus inicia turnê de ópera de Verdi
JACIRA WERLECOLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE SYDNEYA combinação de disputa política, amor e traição da interpretação de "Un Ballo in Maschera", de Giuseppe Verdi, pela companhia La Fura dels Baus, está longe de ser banal ou previsível.O grupo espanhol fez da Ópera House, em Sydney, na Austrália, o palco para a estreia mundial desta interpretação da ópera de Verdi.
A história relata a conspiração para o assassinato do rei sueco Gustavo 3º, interpretado pelo tenor mexicano Diego Torre, durante um baile de máscaras. A soprano Tamar Iveri vive Amelia, amante do rei e esposa do conde Ankarström, que tem o argentino José Garbó no papel.
Segundo o diretor de La Fura dels Baus, Àlex Ollé, o desafio enfrentado durante a montagem do espetáculo foi "fazer uma leitura que se conectasse com a audiência contemporânea e, ao mesmo tempo, trouxesse uma nova visão de um clássico".
Desde o início da apresentação, Ollé mostrou criatividade ao aproximar da atualidade uma história encenada pela primeira vez em 1859.
CONTEMPORÂNEO
Dando início à peça, imagens contemporâneas são projetadas em uma tela transparente. Cenas de guerra, pobreza e destruição são projetadas na silhueta de um corpo humano despido. Um mundo em decadência cuja inspiração veio do livro "1984", do norte-americano George Orwell, e da recente crise do capitalismo mundial.
O cenário lembra um gigantesco e frio prédio abandonado. No decorrer da história, alguns pilares sobem e descem formando o que seria uma pequena sala de reuniões. Mesas e algumas cadeiras são carregadas pelos artistas para fora e para dentro de cena no espetáculo.
A conexão com a atualidade também é decorrência do figurino idealizado por Lluc Castells. O elenco todo usa terno e um casaco extra é adicionado ao figurino dos personagens principais para marcar a troca de cenas.
Os fatos se alternam entre o drama da paixão proibida entre Gustavo e Amelia e as confabulações para o assassinato do monarca. Um equilíbrio complicado, porém bem apresentado pelo grupo, entre romance, poder e morte.
"Un Ballo in Maschera" é um trabalho conjunto entre La Fura dels Baus, Ópera Austrália, Teatro Colón, de Buenos Aires, La Monnaie, de Bruxelas, e da Ópera e Ballet Nacionais de Oslo (Noruega).
A ópera ainda vai ser encenada em Melbourne, na Austrália, entre 12 de abril e 3 de maio. Na sequência o grupo viaja para a Europa.
Apresentações na Argentina estão marcadas para dezembro. O Brasil ainda não faz parte do roteiro. Entretanto, Ollé se disse interessado em encenar a ópera no país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário