Levantamento aponta que faculdades não fixam profissional no interior
Abrir cursos de medicina no interior do país não vai resolver a falta localizada de médicos, afirma o Conselho Federal de Medicina com base no estudo "Demografia Médica no Brasil 2".
Os dados colhidos durante as últimas três décadas indicam que o médico que se forma em uma cidade diferente da sua cidade natal tende a se fixar em capitais, como Rio de Janeiro e São Paulo, diz Mario Scheffer, coordenador do estudo.
Do total de médicos que saíram de sua cidade natal para cursar medicina, entre 1980 e 2009, apenas 25,3% ficaram na nova cidade -60% desses em grandes capitais.
Outros 37% voltaram ao município natal -um terço desses para São Paulo e Rio.
"A escola de medicina não está fixando o médico. Essas escolas de interior funcionam mais como repúblicas de estudantes que saem dos grandes centros e depois voltam", diz.
O estudo não verifica a fixação do profissional após a residência médica.
Há duas semanas, a Folha revelou que o governo vai direcionar a abertura de novos cursos de medicina para cidades que carecem dessas escolas, de médicos e que têm estrutura para receber alunos -incluindo a residência médica.
"Vem o governo, com efeito cosmético, tentar enganar e dizer 'com mais escolas, e trazendo médicos de fora, e sem avaliar sua competência, o problema [da falta de assistência] estará resolvido'. É um equívoco", diz Roberto D'Ávila, presidente do CFM.
Para a entidade, a solução passa por melhorar a estrutura da rede pública de saúde e criar uma carreira de Estado para o médico do SUS.
INTERIOR x CAPITAL
Segundo o estudo, o país atingiu a marca de 2 médicos por 1.000 habitantes em 2012 -índice que chega a 2,67 no Sul e cai para 1,01 no Norte.
Há disparidade, também, dentro dos Estados. A proporção de médicos em capitais chega a ser até quatro vezes maior que a proporção no Estado como um todo -e, assim, que cidades do interior.
A pesquisa mostra, ainda, que os médicos formados no exterior -brasileiros ou estrangeiros- estão em maior número nas grandes capitais.
O Ministério da Saúde diz que as novas regras levam em conta a fixação, pois demandam estrutura na rede de saúde e vinculação à residência médica (união que tende a fixar mais o médico).
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