Nada de novo no papado
RIO DE JANEIRO - Papa virou assunto e vou falar de um deles, Celestino 5º, que sucedeu a Nicolau 4º, em 1294. Houve confusão entre os cardeais e príncipes interessados, até que se lembraram de um beneditino que se tornara eremita, e vivia numa gruta ao pé do monte Morrone. Quase ocorreu um cisma, o candidato mais em evidência era o cardeal Bento Caetani, mas os eleitores escolheram o eremita, Pietro Angeleri, nascido em 1215, filho de camponeses, que recusou o convite.
O romancista Ignazio Silone, autor de "Fontamara" e "Pão e Vinho", comunista histórico, escreveu "A Aventura de um Pobre Cristão", sobre
a inicial recusa do eremita. Houve pressão popular e ele aceitou o papado, que durou pouco, logo renunciou ao trono pontifical e voltou para a sua gruta.
Na confusão da renúncia, o cardeal Caetani conseguiu eleger-se, assumindo o nome de Bonifácio 8º, que só sossegou quando mandou matar o antecessor, que foi canonizado como mártir, enquanto Bonifácio 8º mereceu entrar na "Divina Commedia" como "pérfido assassino" ("Inferno", canto 19, versos 49 e 50).
Em situações menos dramáticas, outros papas renunciaram: Clemente 1º, em 97; Ponciano, em 235; Bento 9º, em 1045; Celestino 5º, em 1294; e Gregório 12, em 1415.
Durante os 20 séculos que atravessou na história do Ocidente, a igreja teve lances até mais complicados do que as renúncias. Houve antipapas, papas que se excomungavam mutuamente, sedes vacantes demoradas. Em 1870, na unificação da Itália, Garibaldi insultou Pio 9º. Nas discussões do Tratado de Latrão, Mussolini referia-se a Pio 11 como o "idiota do outro lado do Tevere" (Antes que me acusem de ter consultado o Google, informo minhas fontes: o "Annuario Pontificio", com algumas idas ao livro de Claudio Rendina, "I Papi - Storia e Segreti" -Newton Compton Editori, Roma, 1983).
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