quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Entrevista Yoani Sánchez

folha de são paulo

Reformas em Cuba abriram o apetite: queremos mais
BLOGUEIRA, QUE VIRÁ AO BRASIL NO DIA 17, DIZ QUE TRARÁ AO PAÍS MENSAGEM DE QUE ILHA É DIVERSA E ESTÁ PRONTA PARA O FUTURO
FLÁVIA MARREIROENVIADA ESPECIAL A HAVANA
Com os cabelos até a cintura, envolvida num xale necessário para a manhã cinza e de muito vento em Havana, Yoani Sánchez chegou ao consulado do Brasil.
O visto brasileiro, pedido naquela sexta-feira e obtido na última segunda, era o único que a separava do país que escolheu como primeira parada internacional e para onde partirá em 17 de fevereiro.
Após 20 tentativas frustradas, a blogueira que ficou famosa há quase seis anos ao lançar o blog "Generación Y" finalmente conseguirá viajar, graças à reforma migratória em vigor desde 14 de janeiro.
Entre papéis, pagamentos de taxas e uma curiosa ida a uma sala com internet de um hotel estatal -o nome de Sánchez é reconhecido pela atendente, que excitada, busca por ela no Google. "É ela mesma!"-, a Folha ouviu da blogueira suas expectativas sobre a turnê internacional.
No Brasil, seu primeiro compromisso será participar, na Bahia, do lançamento do documentário "Conexão Cuba > Honduras", de Dado Galvão, onde ela aparece. Uma campanha feita por Galvão angariou fundos para a passagem da cubana.
Em São Paulo, lançará "De Cuba, com Carinho" (Contexto, 2009) e ainda discute o restante da agenda.
Depois, a ideia é passar pelo Peru, ir a Praga e voltar ao México para a reunião da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) em 8 de março. A última parada deve ser Miami, onde mora sua irmã. A seguir, os principais trechos da entrevista:
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Por que crê que autorizaram sua saída? Pode ser uma propaganda de que as reformas em Cuba são para valer?
A pressão, dentro e fora, era insustentável. E contribuiu minha tenacidade legal. Fiz do meu caso um emblema. Se o pensamento [do governo] foi "deixe-a sair para ver se ela se cala", foi uma má jogada política. É uma propaganda perigosa, porque vou me comportar como uma pessoa livre, dizer o que penso, ser uma embaixadora do desejo de liberdade de cubanos no mundo.
Por que você escolheu o Brasil como primeiro destino?
Porque lá estão pessoas que lutaram pelo meu direito de viajar, amigos que pressionaram a Chancelaria, recorreram a senadores. Vou à Bahia porque, se alguém fez o impossível para eu sair do país, foi Dado Galvão. Desde que filmou uma entrevista comigo em Havana, ele tem sido incansável. Mesmo quando me faltava esperança, ele a mantinha. Nada melhor que encontrar esses cidadãos, pequenininhos como eu, que num trabalho de formiguinha conseguiram seu fim. Não é visita oficial. É uma visita cidadã, de "tu a tu", de povo a povo, como eu gosto.
Que mensagem você levará?
Quero levar uma mensagem de futuro: Cuba está pronta para entrar no século 21. Não é que eu seja ingênua sobre as mudanças em Cuba, essas pequenas flexibilizações de cunho econômico que Raúl Castro introduziu.
Apesar disso, elas abriram o apetite das pessoas: queremos mais.
Vou ao Brasil dizer que vivo numa ilha diversa e maravilhosa que tem direito ao futuro também. Uma ilha que não é nem vermelha nem verde-oliva. É de muitas outras cores. Quero viver essa nação onde está despenalizada a discrepância, a prosperidade. Está perto. Estamos praticamente a um passo. Não pela vontade de quem nos governa, mas pelo próprio trabalho das pessoas.
Também vou para aprender com os brasileiros, conhecer esse país onde há pessoas tão parecidas com os cubanos.
Um amigo me disse e eu nunca vou esquecer: "Os brasileiros são como os cubanos, mas com mais liberdade". Como nós seríamos num marco de respeito, de direito, onde estão permitidos a livre expressão e a livre associação?

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