Brasil recebe mostras de dois expoentes do gigante asiático, Cai Guo-Qiang, em Brasília, e Ai Weiwei, em São Paulo
De lata, plástico ou madeira, com fios retorcidos, as engenhocas compõem a primeira exposição solo no Brasil de Cai Guo-Qiang, chinês radicado em Nova York.
Responsável pelo show de fogos de artifício da Olimpíada de Pequim, em 2008, o artista expõe até 31 de março em Brasília, no Centro Cultural Banco do Brasil e no Museu Nacional dos Correios.
A mostra ainda segue para São Paulo (em 20 de abril) e Rio de Janeiro (21 de julho).
Apesar de girar o mundo com dezenas de robôs e aviões, Cai -pronuncia-se "tsai"- não é autor das peças.
Grande parte delas foi feita por camponeses da China e colecionada pelo artista na última década, caso do robô que puxa uma carroça.
É o que explica o nome da exposição, "Da Vincis do Povo", e a meta de Cai: valorizar o que acaba marginalizado com a modernidade. "A ideia é sublinhar a criatividade individual dos chineses e mostrar a busca da liberdade e do sonho", diz o artista.
Outro grupo de máquinas foi elaborado por inventores amadores a pedido de Cai.
Caso dos robôs que pintam telas com respingos típicos da obra de Jackson Pollock (1912-1956) ou como as bolas coloridas feitas pelo britânico Damien Hirst. Essas telas "originais chinesas" estarão à venda por R$ 50.
Se algumas das engenhocas de Cai têm aplicação clara, como ajudar o homem na lavoura, outras nem precisam funcionar para ganhar o museu. Como diz o slogan da exposição, "o que é importante não é se você pode voar".
Basta tentar e sonhar, ensina a mostra, idealizada para uma primeira apresentação em Xangai, em 2010.
Cai defende que há uma função social em seu trabalho, mas rejeita a ideia da arte como instrumento político. Isso o diferencia do compatriota contemporâneo dissidente Ai Weiwei, que já direcionou críticas a chineses da arte como o próprio Cai.
"Não faço arte para fazer comentários diretos, não deve ser um instrumento político. A arte pode expressar liberdades e criatividades individuais e, assim, ajudar a abrir sociedades", diz Cai.
Para Marcello Dantas, curador da exposição no CCBB, não faz sentido comparar as posições políticas dos dois artistas nem sugerir uma proximidade de Cai com o governo comunista chinês.
"Cai está longe de defender o governo. E não estamos falando de ativismo político: é arte. A transformação do indivíduo, do olhar."
Dantas vê um elo entre as engenhocas chinesas e o Brasil: a improvisação.
Outra forte ligação entre a exposição e o país é a segunda parte da mostra, que traz grandes telas com desenhos feitos de explosões de pólvora.
A técnica impressiona: o chinês direciona as explosões da pólvora, com ajuda de moldes de papelão e tijolos, para produzir mulheres sambando, oferendas a Iemanjá, fitinhas do Bonfim e outras imagens típicas brasileiras.
Essas explosões foram feitas no Brasil, especialmente para a mostra, e estão divididas entre as galerias do CCBB e o Museu dos Correios.
DA VINCIS DO POVO
ONDE CCBB Brasília (SCES, tr. 2, tel. 0/xx/61/3108-7600) e Museu Nacional dos Correios (Setor Comercial Sul, qd. 4, bl. A, tel. 0/xx/61/3213-5076)
QUANDO ter. a dom., das 9h às 21h (CCBB), e de ter. a sex., das 10h às 19h, e sáb., dom. e feriados, das 12h às 18h (Museu); até 31/3
QUANTO grátis
CRÍTICA ARTES VISUAIS
Ai Weiwei mostra importância de artista como provocador
FABIO CYPRIANOCRÍTICO DA FOLHAA fotografia não é o suporte que fez o artista chinês Ai Weiwei tornar-se o nome mais falado no cenário artístico e um fenômeno na mídia, mas a exposição "Ai Weiwei - Interlacing", no Museu da Imagem e do Som (MIS), aponta a importância da constituição da imagem em seu processo de trabalho.Com cerca de 500 fotografias nas paredes, além de outras 8.000 que se alternam em monitores, todas selecionadas pelo próprio artista, a mostra, que abre hoje, com curadoria de Urs Stahel, comprova a atualidade de Weiwei e sua relação com as mídias sociais e o ativismo.
O primeiro andar, em que os visitantes precisam calçar sapatilhas para andar no piso branco, um exagero cenográfico, é onde estão as obras mais conhecidas do artista.
É o caso de "Derrubando uma Urna da Dinastia Han" (1995): três imagens em que Weiwei destrói o que seria a relíquia arqueológica. O tríptico representa o desapego à tradição chinesa e a necessidade de rompimento com o passado, marcas do chinês.
Esse caráter militante em seu trabalho se expressa também na série "Estudo de Perspectiva" (1995-2010), na qual Weiwei mostra o dedo médio a diversos locais icônicos de poder, a começar da praça da Paz Celestial, em Pequim, local do massacre de 1989.
Sarcástica, a série ataca "templos" da arte como a Tate e a Saatchi Gallery, de Londres.
Mas seu trabalho mais contundente, e que também explica a perseguição pelo regime comunista chinês, está na série "Terremoto".
Em 2008, cerca de 69 mil pessoas morreram por conta do abalo sísmico em Sichuan, mas o governo chinês se recusou a listar nomes de crianças mortas em escolas com condições precárias. O artista criou uma força-tarefa que conseguiu reunir 5.385 nomes.
Enquanto grande parte da arte contemporânea gira em torno de "supermercadorias" para o comércio de luxo, a exposição de Weiwei mostra sua relação com o contexto e a presença do artista como agente provocador.
AI WEIWEI - INTERLACING
QUANDO ter. a sex., das 12h às 21h, sáb., dom. e feriados, das 11h às 20h; até 14/4
ONDE MIS (av. Europa, 158, tel. 0/xx/11/2117-4777)
QUANTO R$ 6
AVALIAÇÃO ótimo
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