Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 10/02/2013
Quando se fala na capacidade de Milton Nascimento de se cercar de grandes talentos de sua época para conceber a grande obra registrada pelo Clube da Esquina, a referência é Miles Davis. O trompetista e compositor norte-americano, um dos pais de muitas tendências jazzísticas (bebop, cool, fusion), soube como poucos tocar bem acompanhado. Uma de suas bandas memoráveis acaba de ganhar registro quádruplo, em três CDs e um DVD: Miles Davis Quintet – Live in Europe 1967: The bootleg series vol. 1 (Columbia/Legacy).
As gravações desse atraente lançamento foram feitas ao vivo, em outubro e novembro de 1967, em vários países: Alemanha, Bélgica, Dinamarca, França e Suécia. O time que acompanhou Miles nesses concertos europeus é formado por ninguém menos que Wayne Shorter (saxofone), Herbie Hancock (piano), Ron Carter (baixo) e Tony Williams (bateria).
Miles era o mais velho deles, com 41 anos. Os outros tinham idades em torno dos 30 anos. A exceção era Williams, que já demonstrava enorme talento aos 21. O áudio foi obtido diretamente das fontes originais de rádios e televisões de cada país.
Somando as faixas dos CDs e do DVD, são 24 músicas em registros inéditos, que capturam o momento em que Miles Davis iniciava mais uma de suas muitas mutações. Ele já havia lançado o fundamental Kind of blue (1959) e estava prestes a conceber outro trabalho marcante: o álbum duplo Bitches brew (1969).
O instrumentista deixou as formas tradicionais do jazz para desenvolver estética influenciada pelo rock e pela liberdade de improvisação. Há quem diga que esse foi o princípio do jazz fusion.
A formação reunida por Miles no disco ficou conhecida como “segundo grande quinteto”, sucedendo o formidável grupo que ele manteve na segunda metade dos anos 1950, composto por John Coltrane (saxofone tenor), Red Garland (piano), Paul Chambers (baixo acústico) e Philly Joe Jones (drums) – a chegada do saxofonista Cannonball Adderley em 1958 tornaria o grupo um sexteto. Parte deles continuaria a tocar com o trompetista no ano seguinte, quando foi gravado Kind of blue.
A banda perdida
O álbum Miles Davis Quintet – Live in Europe 1967: The bootleg series vol. 1 foi originalmente lançado no exterior, em setembro de 2011, e só agora chegou ao Brasil. Entretanto, desde o fim do mês passado, o segundo volume está disponível – apenas fora do país – com o mesmo formato: três CDs e um DVD. A banda desse álbum é diferente da que toca no primeiro volume. Reúne Miles Davis, Wayne Shorter, Chick Corea (piano), Dave Holland (baixo) e Jack DeJohnette (bateria). Até então, nunca havia sido lançado um disco desse grupo, conhecido como “lost band” (banda perdida).
Ouça com atenção
As faixas selecionadas para integrar o repertório do álbum Miles Davis Quintet – Live in Europe 1967 vol. 1 se repetem pelos discos do trompetista, a exemplo da clássica ’Round midnight, incluída em versões diferentes nos três CDs e no DVD recém-lançados, e de Agitation e Footprints, presentes exatamente nessa ordem em cinco momentos ao longo do material.
A princípio, isso pode parecer preciosismo ou mera repetição excessiva, mas trata-se de oportunidade ímpar para o ouvinte se deliciar comparando improvisos e percebendo sutilezas sonoras proporcionadas pela acústica de cada local onde as apresentações foram realizadas.
Bom exemplo disso é a versão de Agitation gravada na Dinamarca: mais claros, os sons do trompete e do saxofone parecem próximos do ouvinte por terem sido capturados com interferência mínima da reverberação dos próprios instrumentos pelo ambiente.
Gravações dessa natureza também são preciosas porque “congelam” momentos de espontaneidade genial, como Wayne Shorter em Walkin’, na França: depois de quatro minutos com a banda tocando aceleradamente (e um pequeno solo de bateria), ele sola sozinho, brilhantemente, por pouco mais de dois minutos. Puro deleite para os amantes do jazz.
QUEM É QUEM
. Wayne Shorter (foto) Dono de fraseado inconfundível, o saxofonista completa 80 anos em agosto e segue em plena atividade: acaba de lançar mais um disco, Without a net. Ele começou a tocar com o baterista Art Blakey em seu grupo, Jazz Messengers, e foi um dos fundadores do Weather Report, ícone do jazz fusion.
. Tony Williams Outro que seguiu os caminhos do jazz fusion depois de tocar com Miles Davis. O baterista colaborou com muitos nomes de peso, como Jaco Pastorius, Stanley Clarke, John McLaughlin, Weather Report e Allan Holdsworth. Gravou 20 álbuns.
. Herbie Hancock Com apenas 11 anos, o pianista tocou Mozart com a Orquestra Sinfônica de Chicago, nos Estados Unidos. Seu talento precoce foi logo reconhecido e, aos 23, ele passou a integrar o grupo de Miles Davis. Autor do clássico Cantaloupe Island, coleciona prêmios do Grammy desde
a década de 1980.
. Ron Carter Além da extensa lista de álbuns em que atuou como baixista de outros artistas, ele é dono de discografia autoral considerável, com cerca de 40 títulos. Gravou em muitos discos da Blue Note nos anos 1960. Assim como Shorter e Hancock, tocou com Milton Nascimento.
As gravações desse atraente lançamento foram feitas ao vivo, em outubro e novembro de 1967, em vários países: Alemanha, Bélgica, Dinamarca, França e Suécia. O time que acompanhou Miles nesses concertos europeus é formado por ninguém menos que Wayne Shorter (saxofone), Herbie Hancock (piano), Ron Carter (baixo) e Tony Williams (bateria).
Miles era o mais velho deles, com 41 anos. Os outros tinham idades em torno dos 30 anos. A exceção era Williams, que já demonstrava enorme talento aos 21. O áudio foi obtido diretamente das fontes originais de rádios e televisões de cada país.
Somando as faixas dos CDs e do DVD, são 24 músicas em registros inéditos, que capturam o momento em que Miles Davis iniciava mais uma de suas muitas mutações. Ele já havia lançado o fundamental Kind of blue (1959) e estava prestes a conceber outro trabalho marcante: o álbum duplo Bitches brew (1969).
O instrumentista deixou as formas tradicionais do jazz para desenvolver estética influenciada pelo rock e pela liberdade de improvisação. Há quem diga que esse foi o princípio do jazz fusion.
A formação reunida por Miles no disco ficou conhecida como “segundo grande quinteto”, sucedendo o formidável grupo que ele manteve na segunda metade dos anos 1950, composto por John Coltrane (saxofone tenor), Red Garland (piano), Paul Chambers (baixo acústico) e Philly Joe Jones (drums) – a chegada do saxofonista Cannonball Adderley em 1958 tornaria o grupo um sexteto. Parte deles continuaria a tocar com o trompetista no ano seguinte, quando foi gravado Kind of blue.
A banda perdida
O álbum Miles Davis Quintet – Live in Europe 1967: The bootleg series vol. 1 foi originalmente lançado no exterior, em setembro de 2011, e só agora chegou ao Brasil. Entretanto, desde o fim do mês passado, o segundo volume está disponível – apenas fora do país – com o mesmo formato: três CDs e um DVD. A banda desse álbum é diferente da que toca no primeiro volume. Reúne Miles Davis, Wayne Shorter, Chick Corea (piano), Dave Holland (baixo) e Jack DeJohnette (bateria). Até então, nunca havia sido lançado um disco desse grupo, conhecido como “lost band” (banda perdida).
Ouça com atenção
As faixas selecionadas para integrar o repertório do álbum Miles Davis Quintet – Live in Europe 1967 vol. 1 se repetem pelos discos do trompetista, a exemplo da clássica ’Round midnight, incluída em versões diferentes nos três CDs e no DVD recém-lançados, e de Agitation e Footprints, presentes exatamente nessa ordem em cinco momentos ao longo do material.
A princípio, isso pode parecer preciosismo ou mera repetição excessiva, mas trata-se de oportunidade ímpar para o ouvinte se deliciar comparando improvisos e percebendo sutilezas sonoras proporcionadas pela acústica de cada local onde as apresentações foram realizadas.
Bom exemplo disso é a versão de Agitation gravada na Dinamarca: mais claros, os sons do trompete e do saxofone parecem próximos do ouvinte por terem sido capturados com interferência mínima da reverberação dos próprios instrumentos pelo ambiente.
Gravações dessa natureza também são preciosas porque “congelam” momentos de espontaneidade genial, como Wayne Shorter em Walkin’, na França: depois de quatro minutos com a banda tocando aceleradamente (e um pequeno solo de bateria), ele sola sozinho, brilhantemente, por pouco mais de dois minutos. Puro deleite para os amantes do jazz.
QUEM É QUEM
. Wayne Shorter (foto) Dono de fraseado inconfundível, o saxofonista completa 80 anos em agosto e segue em plena atividade: acaba de lançar mais um disco, Without a net. Ele começou a tocar com o baterista Art Blakey em seu grupo, Jazz Messengers, e foi um dos fundadores do Weather Report, ícone do jazz fusion.
. Tony Williams Outro que seguiu os caminhos do jazz fusion depois de tocar com Miles Davis. O baterista colaborou com muitos nomes de peso, como Jaco Pastorius, Stanley Clarke, John McLaughlin, Weather Report e Allan Holdsworth. Gravou 20 álbuns.
. Herbie Hancock Com apenas 11 anos, o pianista tocou Mozart com a Orquestra Sinfônica de Chicago, nos Estados Unidos. Seu talento precoce foi logo reconhecido e, aos 23, ele passou a integrar o grupo de Miles Davis. Autor do clássico Cantaloupe Island, coleciona prêmios do Grammy desde
a década de 1980.
. Ron Carter Além da extensa lista de álbuns em que atuou como baixista de outros artistas, ele é dono de discografia autoral considerável, com cerca de 40 títulos. Gravou em muitos discos da Blue Note nos anos 1960. Assim como Shorter e Hancock, tocou com Milton Nascimento.
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