domingo, 10 de fevereiro de 2013

Levanta defunto


Folha de São Paulo
Levanta defunto
Nova temporada de "The Walking Dead" lidera febre de zumbis que neste ano terá até filme com Brad Pitt
FERNANDA EZABELLADE LOS ANGELES
Mesmo depois de esquartejados, zumbis são resistentes e continuam a atacar, de acordo com a Zombiepedia, enciclopédia on-line dedicada exclusivamente ao tema, e relatos na indústria do entretenimento.
As criaturas agonizantes se negam a desaparecer e seguem se multiplicando em filmes e séries de televisão.
O líder do movimento é "The Walking Dead", seriado que estreou em 2010, no qual humanos tentam sobreviver em um mundo pós-apocalíptico dominado por zumbis e que volta para sua terceira temporada nesta terça-feira.
No cinema, "Meu Namorado É um Zumbi" liderou a bilheteria dos EUA na semana passada, e um dos blockbusters mais aguardados do ano é "Guerra Mundial Z", protagonizado por Brad Pitt e muitos mortos-vivos.
"É menos sobre zumbis e mais sobre analisar a humanidade", filosofa o ator inglês David Morrissey, que faz o novo vilão de "The Walking Dead", chamado apenas de governador, sobre a onda de mortos-vivos que se alastrou por Hollywood.
"Os monstros apenas aumentam a realidade das escolhas que a humanidade teria de fazer para sobreviver", continua ele.
Para o protagonista Andrew Lincoln, que vive o xerife Rick Grimes, que lidera um grupo de sobreviventes, a razão é simples: "Zumbis são 'cool'", disse ele à Folha.
"Nesta fase do seriado, os personagens se acostumaram aos zumbis. É fascinante ver como os humanos são incrivelmente adaptáveis."
Agora, o principal inimigo de Rick é o governador, um colecionador de cabeças de zumbis que comanda uma aparentemente idílica cidade de 70 sobreviventes (e alguns prisioneiros).
Rick também precisa lutar contra a própria insanidade, após perder a mulher, Lori (Sarah Wayne Callies).
"No fim do dia, um zumbi só quer te comer. Já entre humanos você nunca sabe em quem confiar nem quais são os seus motivos", explica Robert Kirkman, 34, criador da história em quadrinhos que deu origem ao seriado.
MORTES
A morte de personagens queridos costuma causar pânico entre os fãs da série e também entre seus atores.
Kirkman, produtor-executivo do programa, avisa que mais finais drásticos virão.
"A gente se esforça para manter o seriado o mais realístico possível dentro deste mundo totalmente irreal. Então alguns vão morrer, outros terão partes amputadas ou serão afetados psicologicamente. São tempos bem difíceis", avisa.
Dar vida às criaturas continua envolvendo um longo processo de maquiagem, mesmo após três temporadas, já que muitas novidades vão sendo acrescentadas.
Uma dela é a presença de formas de caveira ao redor dos olhos dos atores e o uso de bonecos destruídos.
Afinal de contas, já se passaram alguns anos, e até mesmo zumbis apodrecem.
QUADRINHOS
A HQ ainda é publicada mensalmente, está em seu número 106 e completa dez anos em 2013. "Tenho ideias até para o número 200", Kirkman diz, embora não acredite que o mesmo aconteça na TV. "Teríamos muita sorte em chegar até a sétima temporada. Ficaríamos muito gratos."

Editora brasileira de 'The Walking Dead" começou em mesa de bar
RODRIGO SALEMDE SÃO PAULOEm 2005, Carlos Costa pediu demissão de seu emprego como gerente financeiro de mercado. A intenção era se dedicar a publicação de revistas em quadrinhos, sua maior paixão.
Em uma conversa de boteco, convidou os amigos Artur Tavares e Leonardo Vicente para a empreitada. Cada um deu R$ 500 para abrir a editora HQ Maniacs. Meses depois, compraram os direitos de duas HQs americanas.
Uma era "Invencível", sobre um herói adolescente, e, a outra, "The Walking Dead", um gibi de zumbis que acumulava boas críticas, mas patinava nas vendas.
A escolha óbvia para o primeiro lançamento era "Invencível". Empolgados, imprimiram 3.000 exemplares do primeiro volume. Mas o título encalhou. "A gente achava que 'Invencível' venderia horrores, mas não foi o que aconteceu", lembra Costa.
Em seguida, lançaram "Os Mortos Vivos", cujos direitos de publicação custaram US$ 1.000 (R$ 2.000). Foram 1.500 exemplares distribuídos para lojas especializadas. Por três anos, as histórias não passaram da primeira edição.
Entre 2008 e 2009, os três amigos sequer lançaram os títulos, pois não conseguiram recuperar o dinheiro do investimento.
Até que chegou 2010. "The Walking Dead" estreou na TV americana e se transformou em um fenômeno de audiência, atraindo 7 milhões de pessoas por episódio. Os direitos de publicação da HQ, nos Estados Unidos, é estimado em US$ 10 milhões (cerca de R$ 20 milhões).
No Brasil, o fenômeno se repetiu. Com os direitos renovados antes da série tomar forma, o trio manteve a publicação dos álbuns e lançou o gibi mensal, em dezembro passado, com o título de "The Walking Dead".
"Imprimimos 30 mil exemplares do primeiro número e a Dinap [distribuidora] já pediu para aumentarmos a tiragem", conta Costa. Por cima, cada título pode render até R$ 120 mil por mês.
"Sentimos que nossa editora finalmente está começando. No início, pedimos ajuda para várias pessoas. Agora, correm atrás da gente. Mas eles só querem 'The Walking Dead'."

    CRÍTICA / FANTASIA
    Fábula sobre um zumbi apaixonado acaba com a essência da mítica criatura
    ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAO oportunismo é a marca de "Meu Namorado É um Zumbi", adaptação do best-seller "Sangue Quente", de Isaac Marion. O filme aproveita a moda dos zumbis, mas introduz um elemento que arruína a essência da mítica criatura ao apresentar um morto-vivo capaz de se apaixonar.
    A história de amor entre um rapaz sobrenatural e uma garota bem vivinha remete à saga "Crepúsculo", que também arrasa com as características tradicionais das criaturas -vampiros, no caso.
    Em um futuro próximo, boa parte da humanidade foi destruída por um vírus, que transformou as pessoas em zumbis.
    Aterrorizados, os sobreviventes ficam em estado de alerta, temendo investidas de seus antigos semelhantes. Estes foram confinados atrás de muros.
    O zumbi R (Nicholas Hoult) salva Julie (Teresa Palmer) de ser atacada por seus companheiros, que vagam em um aeroporto abandonado. Julie faz parte de uma brigada de combate aos zumbis, ao lado do namorado, que é morto por R e tem o cérebro comido pelo assassino. Ao ingerir os miolos, R incorpora a memória e os sentimentos do rapaz e cai de amores pela garota.
    Como o amor opera milagres, R vai voltando aos poucos à vida: sua temperatura corporal sobe, ele fica menos pálido, começa a falar e se move de forma cada menos bruscos. Sensível à metamorfose, Julie corresponde ao afeto.
    Preocupado com a sorte de seus companheiros zumbis, R percebe que pode salvá-los. Para tanto, o casal precisa superar dificuldades aparentemente intransponíveis.
    Além de evidentes paralelos com "A Bela e a Fera", o filme tem similitudes com a história de Romeu e Julieta, cujos amantes também pertencem a clãs que digladiam.
    Além do zumbi que ama, a única novidade do filme dirigido por Jonathan Levine, que também assina o roteiro, é contar a história do ponto de vista do morto-vivo.
    Mas nem isso é tão inovador, afinal, "Sangue Quente" é em primeira pessoa.

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