Amigo torcedor, amigo secador, refletindo aqui na concentração da troça carnavalesca olindense "Hoje a mangueira entra", composta pela nata da filosofia tupiniquim, concluímos: o futebol do Brasil foi atacado pela síndrome do Macunaemo, vive com a preguiça do Macunaíma e o chororô digno de um jovem roqueiro emo.
Recorro a tal mistura mais uma vez, agora com um fato específico: a derrota da seleção para a Inglaterra. Perder para a Inglaterra é normalíssimo. Nada no campo do absurdo. Perder da forma como perdemos, porém, foi um desalento.
Só o herói da nossa gente, criação de Mário de Andrade, explica: "Ai que preguiça". Parece que vemos e ouvimos a voz do Grande Otelo representando Macunaíma no filme homônimo de Joaquim Pedro.
"Ai que preguiça" seguido de um chororô sem fim depois. A começar pelo velho e novo comandante Luiz Felipe Scolari, que culpou a falta de preparo físico dos seus atletas em começo de temporada. Pelos bigodes do fiel Murtosa, o Sancho Pança do anti-Quixote.
Até 1958 tivemos o complexo de vira-lata. Depois estufamos, com justiça, o peito varonil com a arrogância de melhores do planeta. Hoje vivemos a era da incerteza, a era do Macunaemo. A maioria das seleções de ponta tem um time ou ao menos um ensaio de equipe. Ainda estamos longe. "Ai que preguiça", chora o Grande Otelo na mata virgem ""não, nada a ver com a Liga da Selva Amazônica inventada pelo desastrado Joey Barton, do Olympique de Marselha que provocou Neymar após o jogo com a Inglaterra.
Choremos o leite derramado, outro esporte nacional por excelência, mas pensemos no futuro. Vem ai, aposte, um batalhão de choque de volantes. Foi o primeiro diagnóstico do comando da amarelinha. Em vez do velho bordão "bota ponta, Telê", grito de guerra do Zé da Galera no "Viva o Gordo" do Jô Soares, agora a moda é "bota volante".
Mas chega de lenga-lenga e resenha de botequim, com licença que vou ali brincar meu Carnaval, afinal de contas hoje é o glorioso sábado de Zé Pereira. É só descer aqui da rua da Aurora e cair no meu do "Galo da Madrugada", este sim o maior bloco de carnaval do universo.
Haja fôlego. Ainda temos pela frente os ursos manhosos e pés de lã do Recife assombrado, papaguns de Bezerro, "Eu Acho é Pouco", "Bunytos de Corpo", "I love Cafusú", blocos de sujos e, quem sabe, ainda prestigiarei os amigos tricolores na Troça Carnavalesca Ofídica Minha Cobra, respeitável agremiação da torcida do Santa Cruz. Ufa. Óbvio que irei fantasiado de Macunaemo.
Como diz o nome de um velho bloco aqui da área, "Nóis Sofre mas Nos Goza". Estou certo, meu caríssimo macaco Simão? Bom Carnaval para quem é de carnaval, boa reflexão para quem é de reflexão.
Xico Sá, jornalista e escritor, com humor e prosa, faz a coluna para quem "torce". É autor de "Modos de Macho & Modinhas de Fêmea" e "Chabadabadá - Aventuras e Desventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha", entre outros livros. Na Folha, foi repórter especial. Na TV, participa dos programas "Cartão Verde" (Cultura) e "Saia Justa" (GNT). Mantém blog e escreve às sextas, a cada quatro semanas, na versão impressa de "Esporte".
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